Por Peter Dockrill
Publicado na ScienceAlert
O bicho mais resistente do mundo ficou ainda mais indestrutível.
Não contente com suas habilidades existentes para sobreviver a temperaturas e pressões extremas e o vácuo do espaço, o humilde tardígrado – e, aparentemente, impossível de matar – parece ter desbloqueado outro superpoder incrível: a capacidade de suportar doses letais de radiação ultravioleta (UV).
Embora tenhamos observado tardígrados sobrevivendo à radiação antes, graças a uma proteína “supressora de danos” chamada Dsup (do inglês, damage suppressor protein), esse truque da resistência aos raios ultravioleta é uma característica recém-identificada na armadura do tardígrado, operando por meio de um tipo diferente de mecanismo biológico.
Em um novo estudo, cientistas do Instituto Indiano de Ciência detalham a descoberta de Paramacrobiotus sp. BLR, cepa do gênero Paramacrobiotus, pertencente à classe eutardigrada.
Os eutardígrados compreendem a maior classe de tardígrados; eles são aqueles com aparência gordinha e apêndices laterais reduzidos (as partes que se parecem com braços e pernas).
A equipe isolou o Paramacrobiotus BLR de uma amostra de musgo que crescia em uma parede de concreto em Bengaluru, Índia, e em experimentos subsequentes, sujeitou os tardígrados à radiação ultravioleta emitida por uma lâmpada germicida, usada para fins de esterilização para matar coisas como bactérias e vírus.
Sob esses raios mortais, o Paramacrobiotus BLR literalmente brilhava, demonstrando uma forma de fluorescência natural chamada autofluorescência. Esse tipo de fluorescência já foi visto em muitos animais, incluindo papagaios, camaleões e sapos, embora seu propósito permaneça enigmático.
“O significado funcional desse fenômeno não é claro, embora a sinalização visual para potenciais parceiros tenha sido atribuída ao caso dos papagaios”, explicam os pesquisadores, liderados pelo autor e bioquímico Harikumar R. Suma, em seu artigo.
Mas o Paramacrobiotus BLR fez mais do que apenas brilhar sob a radiação ultravioleta. A maioria também tolerou os raios por até uma hora, resistindo aos danos da radiação.
Uma espécie rival, Hypsibius exemplaris e alguns vermes que estavam no musgo (jogados na mistura para fazer uma comparação) não tiveram tanta sorte, entretanto.
De acordo com os pesquisadores, a fluorescência é o que realmente permite ao Paramacrobiotus BLR resistir à radiação. Em outro experimento, a equipe extraiu o produto químico aquoso fluorescente do Paramacrobiotus BLR e cobriu o H. exemplaris nele.
Quando mergulhado no extrato brilhante, H. exemplaris demonstrou maior tolerância à radiação do que quando não estava usando esse protetor solar.
“Isso fornece a demonstração experimental direta da fotoproteção por fluorescência”, concluem os autores.
“O composto fluorescente forma um ‘escudo’ contra a radiação ultravioleta protegendo esses tardígrados de seus efeitos letais. Especulamos que a cepa de Paramacrobiotus BLR, provavelmente, desenvolveu esse mecanismo de fluorescência para sobreviver a alta radiação ultravioleta do sul tropical da Índia (o índice de UV pode chegar a até 10)”.
Os resultados foram publicados na Biology Letters.