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Às Novas Gerações de Exploradores Espaciais

NASA Space Settlement Logo

Um bilhão de anos atrás, não havia vida nos continentes. Após um fenômeno sem precedentes, 400 milhões de anos atrás a vida já estava bem estabelecida no ambiente terrestre. Atualmente estamos no início de um desenvolvimento semelhante, talvez ainda mais importante. Hoje a Terra está cheia de vida, mas até onde sabemos, nos vastos confins do espaço há apenas um punhado de astronautas, algumas plantas e animais, e algumas bactérias e fungos dentro da Estação Espacial Internacional. Nós podemos mudar isso!

Na década de 1970, o físico de Princeton Gerard O’Neill, com a ajuda do centro de pesquisas Ames da NASA e da Universidade de Stanford, descobriu que podemos construir naves gigantescas, grandes o suficiente para se viver. Com o tamanho de uma cidade praiana do estado da Califórnia e dotado de recreação em microgravidade, vistas fantásticas, muita liberdade, salões de formatos variados e uma grande riqueza, essas colônias espaciais podem ser lugares maravilhosos para se viver. Com o tempo, poderemos ver milhões de colônias espaciais no nosso sistema solar sozinho. Construí-las, especialmente a primeira, é um desafio monumental.

Por isso, a cada ano o centro de pesquisas Ames da NASA organiza o “NASA Space Settlement Contest”, um concurso acadêmico para estudantes do nível fundamental e médio, aberto a todos os países do mundo. O objetivo do concurso é estimular a criatividade de jovens estudantes de 12 a 18 anos para o desenvolvimento de projetos de exploração espacial, incluindo também concepções artísticas e mérito literário. As premiações ocorrem em categorias correspondentes ao ano acadêmico dos estudantes e premiam o primeiro, segundo, terceiro colocado e menção honrosa. Os demais candidatos recebem um certificado de participação. Como a divisão do sistema educacional varia nos diferentes países, o que é levado em consideração é a idade dos participantes. Dentro de cada categoria, existe a possibilidade de concorrer como submissão individual, grupo pequeno e grupo grande.  Além dessas categorias, a melhor proposta recebe também o Grande Prêmio.

Esta é uma excelente oportunidade para a elaboração de atividades educacionais complementares. Trata-se de um concurso oficial em que alunos entram em contato com termos técnicos, com todo o rigor científico e são expostos aos problemas que a humanidade irá enfrentar num futuro cada vez mais próximo. Todos as submissões classificadas recebem um certificado da NASA cujo valor vai muito além do que uma estampa de parede. Muitos dos participantes de edições anteriores hoje são cientistas, engenheiros e advogados que persistem em seus objetivos de melhorar as condições de vida da humanidade. A NASA também ganha muito com isso, na medida em que tem acesso à criatividade de jovens estudantes mais brilhantes de todo o mundo.

Como o concurso é organizado e avaliado pelo centro de pesquisas Ames da NASA, uma instituição americana, é natural que a maioria dos projetos sejam propostos por estudantes americanos, que acabam vencendo a maioria dos Grandes Prêmios ao longo dos anos (ver Tabela 1). Países do leste europeu como Romênia, Eslovênia e Turquia tem presença marcante na história do concurso. A Índia é um exemplo peculiar de país em desenvolvimento com participação bastante expressiva. Participa do concurso desde 1999 e já recebeu o Grande Prêmio 4 vezes, em 2005, 2009, 2011 e 2014, além de diversas premiações nas outras categorias ao longo dos anos. O avançado Programa Espacial Indiano e o interesse da população na exploração espacial certamente são os grandes responsáveis por essa realidade.
Tabela 1. Relação do número de projetos submetidos a cada ano, países participantes e vencedores do grande prêmio.

Ano

Projetos

Países

Grande prêmio

1994

23

Canadá, Cingapura e EUA EUA

1995

41

EUA EUA

1996

42

Argentina, Canadá, EUA Argentina

1997

89

Israel, Canadá e EUA EUA

1998

147

Austria, Canadá, Finlândia, Holanda, Israel, Paquistão e EUA EUA

1999

259

Canadá, Índia, Jordânia, Macedônia, Paquiistão, Peru, Espanha e EUA EUA

2000

151

Áustria, Canadá, Irlanda, Macedônia e EUA Irlanda

2001

135

Áustria, Japão e EUA EUA e Áustria

2002

114

Japão, Canadá e EUA EUA

2003

89

Áustria, Índia, Japão, Romênia e EUA Romênia

2004

122

Alemanha, Índia, Japão, Malásia, Paquistão, Romênia e EUA Romênia

2005

109

Índia, Irã, Japão, Nepal, Romênia, Turquia e EUA Romênia e Índia

2006

96

Bélgica, Hong Kong, Índia, Nepal, Paquistão, Romênia, Turquia, Reino Unido e EUA Bélgica

2007

109

Canadá, Índia, Irã, Romênia, Eslovênia, Uruguai, Venezuela, Turquia e EUA Romênia, Uruguai e Turquia

2008

156

Bulgária, Canadá, China, Índia, Irã, Japão, Paquistão, Romênia, Cingapura, Eslovênia, Uruguai e EUA Romênia

2009

309

Bulgária, Canadá, China, Dubai, Emirados Árabes, Índia, Nepal, Paquistão, Romênia, Cingapura, Sri Lanka, Tailândia, Uruguai e EUA Canadá e Índia

2010

432

Bulgária, Canadá, China, Índia, Irlanda, Japão, Polônia, Romênia, Cingapura, Turquia, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido, Uruguai e EUA EUA

2011

358

Austrália, Brasil, Bulgária, Canadá, China, Índia, Irlanda, Itália, Japão, Nepal, Paquistão, Romênia, Cingapura, Turquia, Ucrânia, Emirados Árabes Unidos e EUA Índia

2012

474

Índia, Romênia, EUA, China, Cingapura, Uganda, Nepal, Bulgária, Reino Unido, Austrália, Indonésia, Canadá, Turquia, Sri Lanka, República Checa, Inglaterra, Nova Zelândia, Paquistão, Malásia e EUA EUA e Romênia

2013

592

Bahrain, Bangladesh, Bulgária, Canadá, República Checa, Índia, Irã, Irlanda, Itália, Japão, Látvia, Nepal, Paquistão, Qatar, Romênia, Cingapura, Taiwan, Turquia, Reino Unido e EUA EUA

2014

350

Bulgária, Canadá, China, Índia, Líbano, Paquistão, Porto Rico, República Checa, Romênia, Turquia, Uruguai e EUA Bulgária e Índia

 

A América Latina teve 5 representantes ao longo da história do concurso. Em 1996 a Argentina foi o primeiro país latino-americano a ingressar no concurso, tendo recebido o Grande Prêmio no ano de sua estréia, com o projeto Tango III, que foi classificado pelos avaliadores como “verdadeiramente incrível”. Segundo os avaliadores, tanto a qualidade técnica como a apresentação do documento, um compêndio de 1 polegada de espessura que incluía fotos, equações, textos, etc., foram excelentes. O projeto incluía também um programa de computador, desenvolvido pelo próprio grupo, para controlar um simulador de ônibus espacial. Parabéns aos alunos da Escola San Pedro, de Buenos Aires!

Em 2007 o Uruguai dividiu o Grande Prêmio com Romênia e Turquia. Além disso, recebeu o Primeiro Prêmio em 2008, Segundo Prêmio em uma das categorias em 2014 e Menção Honrosa em diferentes categorias em 2008, 2009 e 2010. O Peru participou apenas 1 vez em 1999 sem premiações e o Brasil estreou no concurso somente em 2011, também sem premiações.

Neste ano, tive a honra de participar do comitê avaliador dos projetos. Avaliei as 12 propostas de uma das categorias, todas originárias da Índia. A qualidade dos projetos impressiona. Um dos alunos passou 2 anos investindo no projeto. Foi muito difícil escolher o primeiro, segundo e terceiro colocado. À medida que fui lendo os projetos, fiquei fantasiando sobre a possibilidade de uma realidade semelhante para alunos brasileiros. Quem sabe um dia veremos jovens mentes brasileiras brilhando em eventos como esse. Acredito que com toda a criatividade dos brasileiros, reconhecida internacionalmente em diversas áreas, podemos ter um papel de destaque também na área da exploração espacial. E se realmente desejamos nossa independência tecnológica, é imprescindível que isso aconteça o mais breve possível.

Destaco aqui a importância que agências governamentais brasileiras como o Ministério da Educação, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e a Agência Espacial Brasileira podem desempenhar ao apoiar e estimular esse tipo de atividade em âmbito nacional. Enquanto nossos organismos governamentais se ajustam à realidade brasileira, outro papel importante é o dos professores entusiastas, aqueles que estimulam seus alunos a desenvolver carreiras nas áreas de ciência e tecnologia.

Reconheço que existe a barreira do idioma tanto para os professores como para os alunos. De fato, melhorar a qualidade do ensino de inglês deveria ser uma prioridade nos programas educacionais brasileiros. De qualquer maneira, iniciativas como essa servem de exemplo do que pode ser feito no Brasil, em português.  Mas insisto na importância da participação brasileira neste concurso. Espero que alunos e escolas brasileiras, onde a qualidade do ensino de inglês é suficiente para encarar tal empreitada, participem de maneira mais efetiva e que haja mais iniciativas como essa no Brasil e no mundo.

O prazo para submissão dos projetos (em inglês) é todo o dia 1 de março e devem ser feitas através de correio eletrônico para o coordenador do concurso, o engenheiro da NASA Albert Globus. Portanto há tempo de sobra para elaborar excelentes projetos para o o ano que vem. Vale lembrar que no NASA Space Settlement Contest os professores também são premiados. Mas a maior recompensa é sem dúvida a certeza de ter ajudado na formação das novas gerações de exploradores espaciais.

Maiores informações (em inglês) podem ser encontradas no site do evento: http://settlement.arc.nasa.gov/Contest/

Ivan Gláucio Paulino Lima

Ivan Gláucio Paulino Lima

Possui Graduação (Licenciatura e Bacharelado) em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Londrina (2001 e 2002), Mestrado em Genetica e Biologia Molecular pela Universidade Estadual de Londrina (2005) e Doutorado em Biofísica pelo Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com 1 ano de Estágio Sanduíche na Open University (Grã-Bretanha). Atuou como professor colaborador na Universidade Estadual de Londrina lecionando disciplinas de bioquímica para cursos de graduação. Atualmente faz Pós-doutorado no NASA Ames Research Center, Moffett Field Califórnia, EUA, na área de microbiologia ambiental sob a supervisão da Professora Lynn Rothschild. Faz parte de sociedades científicas nacionais e internacionais e participa de projetos de pesquisa em colaboração com a Open University (Grã-Bretanha) e Istituto Nazionale di Astrofisica (Italia). Tem experiência na área de microbiologia, engenharia genética e radiobiologia molecular, atuando principalmente nos seguintes temas: resistência às radiações e astrobiologia.