Por Morgan McFall-Johnsen e Susie Neilson
Publicado no Business Insider
A China desembarcou na Lua uma ambiciosa missão de coleta de rochas.
A Administração Espacial Nacional da China (CNSA) cortou abruptamente sua cobertura ao vivo cerca de meia hora antes do pouso, que estava programado para 12:13, horário de Brasília, na terça-feira. A agência anunciou mais tarde que a espaçonave havia pousado, de acordo com a CGTN.
A sonda é um dos quatro robôs em uma missão chamada Chang’e-5, que visa enviar uma amostra da superfície lunar para a Terra antes do final de 2020. Se for bem-sucedida, será a primeira vez que um país trará para a Terra rochas da Lua em mais de 40 anos.
O braço robótico da sonda está programado para perfurar cerca de 1,8 metros na superfície lunar para coletar 2 kg de rocha lunar e poeira de uma região até então inexplorada: uma planície vulcânica chamada Mons Rümker. O material pode fornecer novas informações sobre a atividade vulcânica do passado da Lua.
O braço robótico deve então transferir a amostra para um módulo de subida situado no topo do módulo de pouso. Com a amostra segura, esse módulo deve decolar para se encontrar com o orbitador da missão, que está atualmente circulando a Lua rebocado pelo módulo de reentrada na Terra.
Se tudo correr bem, o trio de robôs retornará à Terra com sua recompensa lunar, que deve pousar na Mongólia Interior em meados de dezembro.
“Esta é uma missão realmente audaciosa”, disse David Draper, o vice-cientista-chefe da NASA, ao New York Times. “Eles vão ser pioneiros de forma revolucionária no que diz respeito à compreensão de muitas coisas que são importantes sobre a história lunar”.
Vamos reescrever a história da Lua
Amostras anteriores de rochas lunares coletadas pelos EUA e pela União Soviética levaram os cientistas a concluir que os vulcões estavam ativos na superfície lunar há cerca de 3 bilhões de anos. Mas os cientistas estimam que regiões como a planície de Mons Rümker podem ter hospedado atividade vulcânica até 1,2 bilhão de anos atrás, com base em observações da superfície lunar.
Se os vulcões lunares estivessem realmente ativos recentemente, “nós reescreveremos a história da Lua”, disse à Nature Xiao Long, geólogo planetário da Universidade de Geociências da China em Wuhan.
Analisar as rochas lunares pode ajudar os cientistas planetários a entender como a Lua foi capaz de sustentar a atividade vulcânica por bilhões de anos.
“A Lua é pequena, então sua máquina de calor deveria ter se esgotado há muito tempo”, disse Clive Neal, geocientista da Universidade de Notre Dame em Indiana, à Nature.
As rochas também podem ajudar os cientistas a determinar a idade de regiões em outros planetas como Marte. Os pesquisadores investigam isso analisando as idades das amostras de rochas lunares e, em seguida, contando as crateras nas áreas da Lua de onde essas amostras foram coletadas. Mais crateras indicam uma região mais antiga, já que houve mais tempo para os impactos se acumularem, e o início do Sistema Solar era mais violento do que o presente.
Até agora, os cientistas só puderam estudar amostras de rochas lunares de regiões lunares que têm pelo menos 3 bilhões de anos. Como a planície de Mons Rümker parece ser muito mais jovem, as amostras da região podem ajudar os cientistas a estimar com mais precisão a idade do local.
Os cientistas podem então estimar a idade de outras regiões planetárias comparando quantas crateras suas superfícies têm em relação à Lua.
NASA e China estão apostando uma corrida para a Lua
A missão Chang’e-5 foi lançada no início de 24 de novembro, horário local, do Centro de Lançamento Espacial de Wenchang da China, na Ilha de Hainan.
É a sexta de uma série de missões ambiciosas da China para explorar a Lua, o que poderia levar à construção de um assentamento humano lá.
Esta é a terceira vez que a CNSA pousou um robô na superfície lunar. A agência agora tem sete espaçonaves operando na Lua ou em sua órbita, de acordo com o correspondente da SpaceNews, Andrew Jones.
A NASA tem ambições semelhantes de estabelecer uma base lunar permanente, mas ainda não lançou as missões precursoras da Lua necessárias para atingir esse objetivo. A agência não pousou nada na Lua desde 1972.
No entanto, a NASA e a empresa de exploração espacial de Elon Musk, SpaceX, enviaram com sucesso duas equipes de astronautas para a Estação Espacial Internacional este ano, marcando a primeira vez que os EUA lançaram astronautas desde 2011. As missões abriram caminho para pousar humanos na Lua novamente, o que a NASA pretende fazer em 2024.
A agência também planeja enviar seu primeiro rover ao polo sul da Lua para mapear as reservas de gelo em 2023.
Para se preparar para a residência humana na Lua, a NASA elaborou os Acordos de Artemis – uma série de promessas para manter a exploração espacial pacífica, colaborativa e sustentável. Nove países assinaram os acordos este ano, mas a China não estava entre eles.
A NASA tem sido incapaz de colaborar ou coordenar com a China desde que o Congresso Estadunidense proibiu a agência de fazer isso em 2011.
Ainda assim, o administrador associado da NASA, Thomas Zurbuchen, deu os parabéns à China por seu pouso na terça-feira.
“Não é uma tarefa fácil”, escreveu ele no Twitter.
“Quando as amostras coletadas na Lua forem devolvidas à Terra, esperamos que todos se beneficiem de poder estudar esta carga preciosa que pode trazer avanços para a comunidade científica internacional”.