Por Peter Dockrill
Publicado na ScienceAlert
Sir Isaac Newton, o aclamado físico, matemático e astrônomo, pode ser um dos cientistas mais renomados de todos os tempos, mas sua ampla pesquisa o levou a lugares estranhos, muito além do que hoje consideramos ser ciência.
Em meio a seu notável legado de produção acadêmica, inúmeros fragmentos e notas não publicadas – muitos descobertos após sua morte em 1727 – permanecem como um testamento de seu longo e suposto interesse obsessivo em questões de ocultismo, alquimia e apocalipse bíblico.
Essas inclinações místicas – muitas das quais seriam consideradas um pensamento herético na época de Newton – são evidenciadas em algumas notas manuscritas fragmentadas que estão sendo leiloadas pela Sotheby’s.
Nesse caso, os textos são literalmente fragmentos, no sentido de que são os sobreviventes chamuscados de um incêndio, provavelmente iniciado por uma vela acidentalmente derrubada pelo cachorro de Newton, Diamond.
Se essa suposta cadeia de eventos é inteiramente verdadeira não está claro, mas o que está claro é que as folhas queimadas fazem parte do cânone menos conhecido de Newton, lidando com ideias obscuras que agora categorizaríamos firmemente como pseudociência.
Nas páginas – que no momento em que escrevi o artigo tinham um lance de £280.000 (cerca de R$1,9 milhão) – Newton reflete sobre a Grande Pirâmide de Gizé, do antigo Egito, que Newton acreditava ter sido projetada em torno de uma unidade egípcia de medida chamada côvado real.
Newton pensava que, quantificando o côvado real, ele poderia ser capaz de refinar suas próprias teorias sobre a gravidade e, ao fazê-lo, fornecer uma medida precisa sem precedentes da circunferência da Terra – enquanto também ‘desbloquearia’ outras percepções geométricas obscuras e “sagradas”, que pode finalmente prever quando o mundo acabará, conforme predito na Bíblia.
“Ele estava tentando encontrar provas para sua teoria da gravidade, mas, além disso, acreditava que os antigos egípcios guardavam os segredos da alquimia que já se perderam”, disse Gabriel Heaton, especialista em manuscritos da Sotheby’s, ao The Observer.
“Hoje, essas áreas parecem díspares de estudo – mas não pareciam assim para Newton no século XVII.”
Newton não foi o primeiro a ter esse tipo de ideia e também não foi o último. Embora essa piramidologia já tenha escapado dos limites de uma ciência séria – dependendo de onde você olha na Internet, pelo menos -, em uma época, ela chamou a atenção de uma das maiores mentes do planeta.
“Essas notas são parte da surpreendentemente complexa rede de estudos interligados de Newton – filosofia natural, alquimia e teologia -, apenas partes do que ele acreditou ser apropriado para publicação”, explica a lista do leilão.
“Não é surpreendente que ele não publicou sobre alquimia, uma vez que o segredo era um princípio amplamente cultivado na pesquisa alquímica, e as crenças teológicas de Newton, se tornadas públicas, teriam custado a ele (pelo menos) sua carreira.”