Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert
O Homo sapiens hoje parece muito diferente das nossas origens evolucionárias – os micróbios se contorcendo na sopa primordial. Mas nossa emergência como uma espécie distinta não pode, com base nas evidências atuais, ser conclusivamente traçada até um único local em qualquer ponto no tempo.
Na verdade, de acordo com uma equipe de cientistas, que conduziu uma revisão completa de nossa compreensão atual da ancestralidade humana, talvez isso de fato nunca tenha existido. Em vez disso, as primeiras aparições conhecidas de traços e comportamentos do Homo sapiens são consistentes com uma série de histórias evolutivas.
Simplesmente não temos um registro fóssil grande o suficiente para marcar definitivamente um momento e lugar específicos em que os humanos modernos surgiram.
“Alguns de nossos ancestrais viveram em grupos ou populações que podem ser identificados no registro fóssil, enquanto muito pouco se sabe sobre outros”, disse o antropólogo Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres, no Reino Unido.
“Durante a próxima década, o crescente reconhecimento de nossas origens complexas deve expandir o foco geográfico do trabalho de campo paleoantropológico para regiões anteriormente consideradas periféricas à nossa evolução, como a África Central e Ocidental, o subcontinente indiano e o sudeste da Ásia”.
Temos algumas ideias gerais sobre nossa história. O Homo sapiens divergiu dos ancestrais arcaicos em algum momento entre um milhão e 300.000 anos atrás (quando nove espécies humanas distintas povoaram o planeta).
Então, sabemos que os ancestrais humanos modernos se diversificaram na África entre 300.000 e 60.000 anos atrás.
Finalmente, entre 60.000 e 40.000 anos atrás, esses humanos modernos migraram para fora da África e povoaram o globo, cruzando-se com Neandertais e Denisovanos antes que essas duas espécies finalmente fossem extintas.
Com base nas evidências atuais, incluindo dados genômicos e o registro fóssil, afirmam os pesquisadores, não é possível identificar uma localização e um momento mais preciso na África para a diversificação humana moderna.
“Ao contrário do que muitos acreditam, nem o registro genético ou fóssil até agora revelou um momento e um lugar definidos para a origem de nossa espécie”, explicou o geneticista Pontus Skoglund, do Instituto Francis Crick, no Reino Unido.
“Tal momento, quando a maioria de nossa ancestralidade foi encontrada em uma pequena região geográfica e os traços que associamos com nossa espécie apareceram, pode não ter existido. Por enquanto, seria útil afastar-se da ideia de um único momento e local de origem”.
Em vez disso, os pesquisadores enfatizam a importância de tentar separar o surgimento da anatomia, fisiologia, traços e comportamentos associados ao Homo sapiens da ancestralidade genética. Isso ajudaria a separar a questão de quando a ancestralidade humana surgiu e de quando o comportamento humano surgiu.
Confundir os dois, eles observam, corre o risco de simplificar demais o que foi provavelmente um processo longo, contínuo e complexo.
“Em consequência disso, as principais questões emergentes dizem respeito a quais mecanismos impulsionaram e sustentaram essa espécie de colcha de retalhos humana, com todos os seus diversos tecidos ancestrais, ao longo do tempo e do espaço”, disse a arqueóloga Eleanor Scerri, do Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana na Alemanha.
“Compreender a relação entre habitats fragmentados e nichos humanos mutantes sem dúvida desempenhará um papel fundamental no esclarecimento dessas questões, nos ajudando a entender quais padrões demográficos fornecem um melhor encaixe com o registro genético e paleoantropológico”.
A pesquisa foi publicada na Nature.