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Astrônomos detectaram uma nova estrutura enorme na Via Láctea e não sabem o que é

Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert

Quando você está nadando em um grande corpo d’água, calcular seu volume ou discernir a localização de objetos flutuantes distantes não é fácil. O mesmo é verdade para nossa galáxia.

De nossa posição dentro da Via Láctea, muito de seu tamanho, conteúdo e estrutura tridimensional é bastante difícil de descobrir. Há muita coisa que nos escapa, ou é impossível calcular; mesmo assim, de vez em quando, surge uma descoberta que faz você se perguntar, como diabos nós não detectamos isso?!

Uma estrutura recém-descoberta chamada Taboa é algo maravilhoso. É uma longa onda de gás que é tão grande que os astrônomos não têm certeza se ela pode ou não ser parte de um braço espiral galáctico que nunca notamos até agora.

Mesmo que não seja o indício de um braço espiral não mapeado, Taboa pode ser o maior filamento de gás em nossa galáxia descoberto até hoje. Ele foi descrito em um estudo aceito no The Astrophysical Journal Letters, disponível no servidor de pré-publcação arXiv.

A estrutura “parece ser até agora o mais distante e maior filamento gigante na galáxia”, escreveu no estudo uma equipe de astrônomos da Universidade de Nanquim na China.

“A questão sobre como um filamento tão grande é produzido na localização galáctica extrema permanece em aberto. Alternativamente, Taboa pode ser parte de um novo braço… embora seja intrigante que a estrutura não siga totalmente a curvatura do disco galáctico”.

Existem vários motivos pelos quais é difícil mapear a Via Láctea em três dimensões. Um deles é que é muito complicado calcular as distâncias de objetos cósmicos. Outra é que há muitas coisas por aí, então pode ser difícil saber se algo é um agrupamento significativo ou apenas uma coleção aleatória espalhada ao longo de uma linha de visão.

Para identificar Taboa, uma equipe liderada pelo astrônomo da Universidade de Nanquim Chong Li usou o enorme Rádiotelescópio Esférico com 500 metros de Abertura (FAST, na sigla em inglês) para procurar nuvens de hidrogênio atômico neutro (HI). Essas nuvens são geralmente encontradas nos braços espirais de galáxias como a nossa; estudando diferenças sutis na luz do hidrogênio, é possível mapear o número e a disposição dos braços da Via Láctea por dentro.

Em agosto de 2019, os pesquisadores usaram o FAST para procurar emissões de rádio de HI, e os dados revelaram o que parecia ser uma grande estrutura. Quando eles calcularam a rapidez com que a estrutura estava se movendo, eles tiveram uma surpresa: sua velocidade era consistente com uma distância de cerca de 71.750 anos-luz do centro da galáxia – as regiões externas da galáxia.

Essa distância – maior do que qualquer braço espiral conhecido naquela região da galáxia – significaria que a coisa é absolutamente enorme, com um tamanho de cerca de 3.590 anos-luz de comprimento e 675 anos-luz de largura, com base nos dados do FAST.

Mas então, quando os pesquisadores combinaram suas descobertas com os dados do levantamento  HI4PI all-sky, eles descobriram que poderia ser ainda maior – com cerca de 16.300 anos-luz de comprimento.

Isso o tornaria ainda mais colossal do que a estrutura de gás conhecida como Cinturão de Gould, que recentemente descobriu-se que tinha 9.000 anos-luz de comprimento.

Taboa levanta algumas questões interessantes. A maioria dos filamentos de gás ocorre muito mais perto do centro galáctico e está associada a braços espirais. Se for um filamento, não está claro como Taboa poderia ter se formado e estabelecido além dos braços espirais conhecidos da Via Láctea.

Por outro lado, se for um braço espiral, também é peculiar. O disco galáctico da Via Láctea está instável e deformado devido ao encontro com outra galáxia, há muito tempo. No entanto, a forma de Taboa não se ajusta inteiramente a esta curvatura – o que deveria acontecer se fosse um braço espiral.

Mesmo que a descoberta já não fosse fascinante, essas peculiaridades indicam que podemos querer dar uma olhada nesta estrutura incrível.

“Embora essas questões permaneçam abertas com os dados existentes”, escreveram os pesquisadores, “as observações fornecem novas perspectivas sobre nossa compreensão da estrutura galáctica”.

A pesquisa foi aceita no The Astrophysical Journal Letters e está disponível no arXiv.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.