Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert
Um poderoso radiotelescópio apontando para uma galáxia satélite da Via Láctea detectou milhares de fontes de rádio até então desconhecidas.
Na direção da Grande Nuvem de Magalhães, milhares de estrelas próximas, supernovas e galáxias distantes foram detectadas em comprimentos de onda de rádio pela primeira vez, dados que podem fornecer novas informações sobre o funcionamento interno e a evolução desses objetos fascinantes.
Tudo isso faz parte do Projeto Científico do Mapa Evolucionário do Universo (EMU, na sigla em inglês) que está sendo conduzido usando a instalação Australian Square Kilometer Array Pathfinder (ASKAP) na Austrália, um dos radiotelescópios mais sensíveis em operação. Ele vasculha os dados de rádio do Universo para obter mais detalhes sobre como ele evoluiu ao longo do tempo.
“A nova imagem nítida e sensível revela milhares de fontes de rádio que nunca vimos antes”, explicou a astrônoma Clara Pennock, da Universidade de Keele, no Reino Unido.
“A maioria deles são galáxias milhões ou até bilhões de anos-luz além da Grande Nuvem de Magalhães. Normalmente os vemos por causa dos buracos negros supermassivos em seus centros, que podem ser detectados em todos os comprimentos de onda, especialmente no rádio. Mas agora também começamos a encontrar muitas galáxias nas quais as estrelas estão se formando a uma taxa absurda.
“Combinar esses dados com observações anteriores de raios-X, telescópios ópticos e infravermelhos nos permitirá explorar essas galáxias em detalhes extraordinários”.
A Grande Nuvem de Magalhães é uma galáxia espiral anã que orbita a Via Láctea a uma distância de cerca de 160.000 anos-luz. Eventualmente, em cerca de 2,4 bilhões de anos, ela será absorvida pela Via Láctea, mas por enquanto, sua proximidade a torna um excelente objeto para aprender sobre a estrutura das galáxias e o ciclo de vida das estrelas.
A equipe de pesquisa direcionou as antenas do ASKAP para esta galáxia para obter observações não apenas de toda a estrutura, mas de objetos individuais dentro dela: estrelas, supernovas e berçários estelares, como a exuberante Nebulosa da Tarântula, a região de explosão estelar mais ativa no Grupo Local de galáxias, formando estrelas em uma taxa excepcionalmente alta.
As detecções feitas pela equipe variaram de estrelas bebês a estrelas mortas – as nuvens de material em expansão que sobraram depois que uma estrela se transformou em supernova.
“Com tantas estrelas e nebulosas juntas, o aumento da nitidez da imagem foi fundamental para a descoberta de estrelas emissoras de rádio e nebulosas compactas na Grande Nuvem de Magalhães”, disse o astrofísico Jacco van Loon, também da Universidade de Keele.
“Vemos todos os tipos de fontes de rádio, desde estrelas incipientes individuais a nebulosas planetárias que resultam da morte de estrelas como o Sol”.
As observações feitas representam um avanço significativo nas pesquisas de rádio anteriores da Grande Nuvem de Magalhães, disseram os pesquisadores, permitindo a detecção de mais de 50.000 fontes de rádio. Usando dados combinados, bem como as novas observações do ASKAP, os astrônomos poderão ter um vislumbre dessas fontes para saber mais sobre elas.
Por exemplo, as nebulosas planetárias e os remanescentes de supernovas serão objeto de futuras análises aprofundadas.
Os dados de rádio obtidos nas galáxias distantes atrás da Grande Nuvem de Magalhães podem ser usados para realizar medições em grande escala de sua rotação de Faraday – a forma como as ondas de rádio se contorcem quando viajam através do meio intergaláctico – e hidrogênio atômico neutro, que pode ser mapeado para descobrir a estrutura das galáxias.
“É gratificante ver esses resultados empolgantes provenientes das primeiras observações da EMU”, disse o astrônomo Andrew Hopkins, da Universidade Macquarie, na Austrália.
“As descobertas deste trabalho inicial demonstram o poder do telescópio ASKAP para fornecer imagens sensíveis sobre grandes áreas do céu, oferecendo um vislumbre tentador do que o levantamento completo da EMU pode revelar. Esta investigação foi fundamental para nos permitir projetar o levantamento principal, que esperamos começar no início de 2022”.
A pesquisa foi publicada nos Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.