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Ataque brutal de Megalodonte há milhões de anos foi preservado em dente antigo

Por Laura Geggel
Publicado na Live Science

Milhões de anos atrás, uma antiga baleia cachalote teve um dia muito ruim, quando um tubarão de megadentes – possivelmente, o temível Otodus megalodon ou seu ancestral Otodus chubutensis, os maiores tubarões predadores que já existiram – a atacou violentamente onde hoje é a Carolina do Norte, EUA, sugere um novo estudo.

As marcas do ataque, preservadas como goivas no dente da cachalote, são a primeira evidência no registro fóssil de que os tubarões de megadentes lutaram com cachalotes, disseram os pesquisadores.

“Parece que esses tubarões gigantes estavam caçando o que queriam e nenhum animal marinho estava a salvo dos ataques desses tubarões gigantes”, disse o pesquisador principal do estudo Stephen Godfrey, curador de paleontologia do Museu Marinho de Calvert em Solomons, Maryland, ao Live Science por e-mail.

O único dente é tudo o que resta da antiga cachalote. O copesquisador do estudo Norman Riker, colecionador amador de fósseis de Dowell, Maryland, encontrou o dente na que hoje é a grande mina de fosfato Nutrien de Aurora, Carolina do Norte, nas décadas de 1970 ou 1980, quando a mina era aberta a coletores de fósseis.

(Riker, que doou o dente para o Museu Marinho de Calvert, morreu aos 80 anos em janeiro de 2021, informou um boletim do museu.)

Os pesquisadores não têm certeza de quando essa briga de tubarão vs. baleia ocorreu. Para chegar às camadas mais antigas, ricas em fosfato, os trabalhadores da mina removeram baldes de rochas sedimentares sobrepostas e as despejaram nas proximidades, onde os coletores de fósseis poderiam limpá-las, disse Godfrey.

As diferentes camadas de rocha – que se acumulam com o tempo e, portanto, são usadas para datar objetos nas camadas – se misturaram; por causa da mistura, os cientistas não sabem se o dente vem das camadas sedimentares mais antigas, que o colocaria na época do Mioceno, 14 milhões de anos atrás, ou das camadas de fósseis mais jovens, que o colocariam da época do Plioceno, cerca de 5 milhões de anos atrás.

De qualquer forma, o dente é do período Neogeno (23 milhões a 2,5 milhões de anos atrás), observou ele.

Durante o Neogeno, o clima da Terra era mais quente do que é hoje e, como resultado, os Polos Norte e Sul tinham menos gelo, então o nível do mar estava mais alto. É por isso que “a costa da Carolina do Norte era coberta por um vasto braço raso do Oceano Atlântico”, disse Godfrey. “Essas águas marinhas fervilhavam de vida marinha abundante”.

Dente de cachalote antigo mostra as três marcas de goiva do tubarão de megadentes em ângulos diferentes. Tradução da imagem: marcas de serração pelos dentes de Otodus spp. (Otodus spp. tooth serration marks) e coroa (crown). Créditos: Godfrey et al., Acta Palaeontologica Polonica, 2021.

Tubarão contra baleia

O tamanho e a forma do dente curvo de 11,6 centímetros de comprimento indicam claramente que ele pertence a uma espécie extinta de cachalote, disse Godfrey.

Usando uma equação que compara o tamanho dos dentes da cachalote extinta com o tamanho do corpo, os pesquisadores estimam que essa baleia em particular era pequena, com apenas cerca de 4 metros de comprimento. Os cachalotes de hoje podem atingir comprimentos de mais de 15 m, observou Godfrey.

Três marcas de goiva no dente mostram que o que quer que tenha mordido, tinha dentes serrilhados com espaçamento uniforme.

Com base no tamanho e no espaçamento das marcas de mordida e serrilhados, os únicos culpados possíveis são o tubarão de megadentes O. chubutensis (que viveu de 28 milhões a 13 milhões de anos atrás) e seu descendente O. megalodon (que existiu de 20 a 3,5 milhões de anos atrás), descobriram os pesquisadores.

“Nenhum dos outros tubarões fósseis conhecidos da mina de fosfato tem dentes grandes o suficiente e serrilhados o suficiente para deixar vestígios de mordida no dente da cachalote”, escreveu Godfrey no e-mail.

“Até agora, vestígios de mordidas desses tubarões gigantes (com o megalodonte tendo um corpo com mais de 18 metros) foram encontrados em outros ossos de baleias e golfinhos extintos, mas nunca na cabeça ou outros ossos de uma baleia cachalote”.

A equipe acrescentou que, embora seja possível que o tubarão de megadentes estivesse se alimentando de uma cachalote já morta, é mais provável que as marcas de goiva tenham sido feitas durante um ataque predatório. Isso porque as marcas de corte foram feitas na raiz do dente, ou na parte que ficou incrustada na mandíbula da baleia.

“Portanto, antes que o dente de tubarão de megadentes pudesse cortar o dente da cachalote, ele primeiro teve que cortar o osso da mandíbula da cachalote que segurava o dente”, disse Godfrey.

“Parece improvável que um grande tubarão vise as mandíbulas de uma carcaça flutuante ou no fundo do mar de uma cachalote. Haveria pouca carne em troca do esforço”, continuou ele.

Em vez disso, as marcas de mordida “sugerem um ataque na cabeça com o objetivo de infligir um ferimento mortal. Em outras palavras, se um tubarão gigante está mordendo sua cabeça, ele está tentando matá-lo”.

Uma ilustração que mostra como o ataque pode ter sido, com um tubarão megalodonte mordendo a mandíbula de uma cachalote. Créditos: Arte de Tim Scheirer / Acta Palaeontologica Polonica (2021).

As descobertas ajudam a esclarecer mais sobre a ecologia antiga da Carolina do Norte, disse o paleontólogo Alberto Collareta, da Universidade de Pisa, na Itália, que não esteve envolvido no estudo.

Além disso, não é muito surpreendente que o tubarão com megadentes tenha mordido o dente da cachalote, disse ele. Baleias assassinas, superpredadoras nos oceanos de hoje, são conhecidas por comer as línguas carnudas e gargantas gordas de outras baleias.

“Talvez as cachalotes tivessem alguma reserva de gordura ou mesmo a língua”, que atraiu o tubarão com megadentes, disse Collareta ao Live Science.

O estudo foi publicado online em 9 de agosto na revista Acta Palaeontologica Polonica.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.