Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert
As distâncias no espaço são coisas difíceis.
A menos que você saiba precisamente o quão intrinsecamente brilhante algo é, descobrir a que distância está algo é extremamente difícil. E há muitas coisas no cosmos para as quais o brilho intrínseco não está bem definido.
Isso significa que às vezes podemos errar muito as distâncias. Caso em questão: novas simulações mostram que uma estrutura gigantesca ao redor da Via Láctea pode estar muito mais perto do que pensávamos.
Essa estrutura é a Corrente de Magalhães, uma enorme corrente de gás em alta velocidade que envolve quase toda a nossa galáxia.
Este longo filamento de material se origina nas Grandes e Pequenas Nuvens de Magalhães, galáxias anãs satélites que orbitam umas às outras e que provavelmente serão canibalizadas pela Via Láctea.
As interações gravitacionais das Nuvens arrancaram uma grande quantidade de gás que agora forma um arco no céu da Terra.
Há muitas coisas no céu que são mais visíveis do que a Corrente de Magalhães, então descobrir como ela se formou tem sido um problema constante. Não foi até o ano passado que uma equipe de cientistas descobriu que o gás provavelmente foi retirado dos halos galácticos das nuvens de Magalhães, nuvens gigantes de gás e plasma que envolvem a maioria das galáxias.
Agora, a mesma equipe usou modelos astronômicos para modelar a formação e evolução da Corrente de Magalhães ao longo de 3,5 bilhões de anos – e descobriu que poderia estar cinco vezes mais perto de nós do que imaginávamos.
“A origem da Corrente de Magalhães tem sido um grande mistério nos últimos 50 anos”, disse o físico Scott Lucchini, da Universidade de Wisconsin-Madison (EUA). “Propusemos uma nova solução com nossos modelos. O surpreendente é que os modelos trouxeram a corrente para muito mais perto da Via Láctea”.
Em seu trabalho anterior, a equipe previu que a corrente deveria estar cercada por uma coroa de gás quente. Então, eles realizaram uma nova modelagem incorporando essa coroa, bem como um novo modelo para as nuvens, sugerindo que elas orbitam uma à outra há apenas 3 bilhões de anos.
De acordo com as novas simulações da equipe, quando as duas galáxias anãs começaram a orbitar uma a outra, elas fizeram isso na direção oposta do que os astrônomos pensavam anteriormente. Então, quando elas começaram a separar o gás uma do outra, em vez de formar um arco para longe da Via Láctea, a Corrente de Magalhães se moveu em direção à nossa galáxia.
Isso significa que, na estimava em que coloca ela mais próxima, ela está a apenas 65.000 anos-luz de distância da Terra. Estimativas anteriores colocam sua distância em cerca de 325.000 a 650.000 anos-luz de distância. Isso é muita diferença. Se a Corrente está mais próxima do que pensamos, precisamos repensar suas propriedades principais.
“A distância revisada muda nossa compreensão da corrente”, disse o astrônomo Andrew Fox, do Space Telescope Science Institute. “Isso significa que nossas estimativas de muitas das propriedades da corrente, como massa e densidade, precisarão ser revisadas”.
Os resultados significam que o gás na Corrente de Magalhães provavelmente começará a colidir com a Via Láctea mais cedo do que pensávamos, injetando novo material e gerando choques que farão o gás se agrupar para formar novas estrelas. De acordo com os cálculos da equipe, isso começará a ocorrer em um curto período de tempo cósmico – apenas 50 milhões de anos.
As descobertas também significam que os astrônomos têm um novo lugar para começar a procurar as estrelas que deveriam estar na Corrente de Magalhães. Essas estrelas deveriam ter sido removidas das Nuvens de Magalhães junto com o gás, mas até agora apenas algumas foram identificadas, e não de forma conclusiva. O modelo da equipe sugere que estamos apenas procurando no lugar errado.
“Está mudando o paradigma da corrente”, disse Lucchini. “Alguns pensaram que as estrelas estão muito opacas para ver porque estão muito distantes. Mas agora vemos que a corrente está basicamente na parte externa do disco da Via Láctea”.
Observações futuras daquela região poderiam identificar as estrelas da Corrente de Magalhães, o que por sua vez confirmaria as descobertas da equipe.
A pesquisa foi publicada no The Astrophysical Journal Letters.