Por Mindy Weisberger
Publicado na Live Science
Pela primeira vez na paleontologia, cientistas encontraram centenas de pequenas pelotas fecais fossilizadas amontoadas dentro de uma caixa craniana de um peixe datada de cerca de 9 milhões de anos atrás.
Os pequeninos cocôs fósseis, também conhecidos como coprólitos, foram depositados por animais carniceiros – provavelmente vermes – que devoraram a cabeça em decomposição do peixe, incluindo seu cérebro.
Enquanto mastigavam a carne do crânio, os vermes expeliam aglomerados de grânulos ovais de coprólito, cada uma medindo cerca de 2,5 milímetros de comprimento. Por mais pequenos que fossem, essas pelotas foram se acumulando com o tempo.
Quando os carniceiros famintos terminaram, eles deixaram para trás centenas de bolinhas – cocô suficiente para encher completamente a caixa craniana do peixe.
Os pesquisadores encontraram o fóssil cheio de coprólito em Calvert Cliffs, um sítio paleontológico no sul de Maryland (EUA) que contém fósseis que datam de cerca de 18 milhões a 8 milhões de anos atrás, durante a época do Mioceno.
O crânio pertencia ao peixe Astroscopus countermani, um tipo de predador de emboscada que mora no fundo do mar e é comumente conhecido em inglês como stargazer, e pequenas pelotas de coprólito oblongas como essas são conhecidas coletivamente como Coprulus oblongus.
Além do crânio cheio de fezes, os cientistas também examinaram outros depósitos de pelotas de coprólitos que estavam agrupadas em sedimentos arenosos, presos a conchas fossilizadas de caracóis e bivalves e agrupados em torno de cracas preservadas no local.
Outro fóssil notável no grupo era um coprólito muito maior, medindo 18 centímetros de comprimento, que havia sido defecado por um vertebrado, possivelmente um antigo crocodilo.
Atravessando o cocô preservado haviam túneis profundos que foram escavados por animais desconhecidos comendo o cocô ou cavando uma casa – ou ambos, relataram pesquisadores na Rivista Italiana di Paleontologia e Stratigrafia (Pesquisa em Paleontologia e Estratigrafia).
Muitas criaturas marinhas do Mioceno já foram descritas a partir de fósseis de Calvert Cliffs, incluindo tubarões e outros peixes, tartarugas, crocodilos, aves marinhas e focas, de acordo com o estudo.
Uma variedade de coprólitos também foi coletada perto das falésias, embora os microcoprólitos produzidos por invertebrados – como os coprólitos no crânio dos peixes – não tenham sido tão bem estudados quanto o cocô de animais com espinha dorsal, de acordo com o estudo.
Os cientistas determinaram que as pequenas bolinhas dentro do crânio eram pelotas fecais “com base em seu tamanho, forma e composição química muito característicos”, disse o principal autor do estudo, Stephen Godfrey, curador de paleontologia do Museu Marinho Calvert em Solomons, Maryland.
A espectroscopia de raios-X não destrutiva revelou que esses microcoprólitos tinham concentrações relativamente altas de cálcio e fosfato, que são comumente encontradas em fezes fossilizadas, disse Godfrey à Live Science por e-mail.
(Embora não haja como saber com certeza se os necrófagos mastigaram cérebros de peixe, a caixa craniana cheia de cocô sugere que os cérebros provavelmente estavam no menu do jantar.)
Mas de quem era o cocô?
O cadáver de um animal morto atrai numerosos necrófagos, muitos dos quais “ficarão perfeitamente felizes em comer seus cérebros e encher seu crânio com fezes”, disse Godfrey.
Micropelotas como estas são produzidas por insetos, vermes, ascídias, caracóis e amêijoas; mas como os coprólitos vieram de um ambiente marinho, “podemos descartar com segurança os insetos terrestres como produtores”, disse Godfrey.
As ascídias também podem ser descartadas, porque passam a maior parte de sua vida adulta presas a rochas, e os vermes de pelotas também foram riscados da lista devido ao hábito de defecar fora de suas tocas.
Como as pelotas fecais foram encontradas nas partes mais internas de um crânio de peixe que não media mais de 5 cm de largura, elas provavelmente foram expelidas por um invertebrado que poderia espremer seu corpo mole em espaços apertados.
“Isso provavelmente descartaria caracóis e moluscos, deixando vermes poliquetas e outros tipos de vermes como os candidatos mais prováveis”, disse Godfrey no e-mail.
Os pesquisadores também notaram que todas as bolinhas eram semelhantes em tamanho e forma, disse Godfrey. Na verdade, ele ficou “mais surpreso e realmente impressionado” com a uniformidade dos coprólitos, em comparação com a produção fecal de forma inconsistente da maioria dos vertebrados.
“Como e por que algum verme poderia produzir fezes tão uniformes e com formas tão maravilhosas é notável para mim”, disse ele.