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Fungos podem estar se comunicando de uma maneira que se parece muito com a fala humana

Por David Nield
Publicado na ScienceAlert

Um novo estudo identificou padrões de atividade elétrica semelhante a nervos sendo produzidos por fungos. Além disso, os padrões dentro da atividade parecem ser comparáveis a estruturas semelhantes na fala humana.

Assumindo que os impulsos podem estar influenciando outras atividades celulares em uma rede de fungos, é uma descoberta que pode ajudar a esclarecer mais coisas sobre a comunicação em organismos micológicos.

O cientista da computação Andrew Adamatzky, da Universidade do Oeste da Inglaterra, no Reino Unido, conseguiu identificar até 50 diferentes ‘palavras’ ou grupos de picos de atividade produzidos pelas redes de fungos que foram estudadas.

Os zumbidos elétricos em fungos são conhecidos há anos, mas analisar essa atividade como se fosse uma linguagem pode revelar muitas coisas que não sabemos sobre o que esse fenômeno micológico representa.

“Assumindo que picos de atividade elétrica são usados ​​por fungos para comunicar e processar informações em redes de micélio, agrupamos picos em palavras e fornecemos uma análise de complexidade linguística e de informação da atividade de picos de fungos”, escreveu Adamatzky em seu novo estudo.

Fungos-de-lagarta sendo analisados. Crédito: Andy Adamatzky.

Adamatzky analisou a atividade elétrica em quatro tipos de fungos, procurando padrões em fungos fantasmas (Omphalotus nidiformis), fungos Enoki (Flammulina velutipes), fungos-de-brânquias (Schizophyllum commune) e fungos-de-lagarta (Cordyceps militaris).

A atividade elétrica foi detectada e registrada usando microeletrodos inseridos em áreas onde os fungos haviam colonizado, e os picos de atividade foram então organizados em grupos. Cada tipo de fungo variou em termos de duração e comprimento dos picos, com alguns picos durando até 21 horas.

Cogumelos de brânquias divididos foram mostrados reunindo as ‘frases’ mais complexas, mas no geral o ‘comprimento de palavra’ fúngica médio de 5,97 – medido por grupos de picos – se compara a idiomas como inglês (4,8) e russo (6).

“Não sabemos se existe uma relação direta entre os padrões de picos nos fungos e a fala humana”, disse Adamatzky ao The Guardian. “Possivelmente, não. Por outro lado, há muitas semelhanças no processamento de informações em substratos vivos de diferentes classes, famílias e espécies. Eu estava apenas curioso para comparar”.

Embora as comparações com a fala humana sejam notáveis, a pesquisa não fornece nenhuma indicação do que a rede de fungos pode estar se comunicando, se é que está comunicando, ou por que esses organismos precisam manter contato em uma área mais ampla.

Considerando que os fungos vivem vidas bastante simples, não há muitas possibilidades que vêm à mente. É possível que esses sinais sejam maneiras pelas quais os cogumelos são capazes de alertar sobre ameaças à sua sobrevivência ou sobre uma mudança nos recursos disponíveis, por exemplo.

O ecologista Dan Bebber, da Universidade de Exeter, no Reino Unido, que não esteve envolvido no estudo, disse que há um longo caminho a percorrer antes que possamos ter certeza de que os fungos estão falando entre si.

“Embora seja interessante, a interpretação como linguagem parece um tanto entusiasmada demais e exigiria muito mais pesquisas e testes de hipóteses críticas antes de vermos a opção ‘fungo’ no Google Tradutor”, disse Bebber ao The Guardian.

A pesquisa foi publicada na Royal Society Open Science.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.