Traduzido por Julio Batista
Original de Brandon Specktor para o Live Science
Como se estivessem abrindo uma boneca-russa cósmica, astrônomos espiaram o centro da Via Láctea e descobriram o que parece ser uma galáxia espiral em miniatura, girando delicadamente em torno de uma única grande estrela.
A estrela – localizada a cerca de 26.000 anos-luz da Terra, perto do denso e poeirento centro galáctico – é cerca de 32 vezes mais massiva que o Sol e fica dentro de um enorme disco de gás rodopiante, conhecido como “disco protoestelar”. (O próprio disco mede cerca de 4.000 unidades astronômicas de largura – ou 4.000 vezes a distância entre a Terra e o Sol).
Esses discos estão espalhados pelo universo, servindo como combustível estelar que ajuda as estrelas jovens a se transformarem em sóis grandes e brilhantes ao longo de milhões de anos.
Mas os astrônomos nunca viram uma assim antes: uma galáxia em miniatura, orbitando perigosamente perto do centro de nossa própria galáxia.
Como essa mini-espiral surgiu, e há mais como ela por aí?
As respostas podem estar em um objeto misterioso, cerca de três vezes maior que o Sol da Terra, fora da órbita do disco espiral, de acordo com um novo estudo publicado em 30 de maio na revista Nature Astronomy.
Usando observações de alta definição feitas com o telescópio Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) no Chile, os pesquisadores descobriram que o disco não parece estar se movendo de uma maneira que lhe daria uma forma espiral natural.
Em vez disso, eles escreveram, o disco parece ter sido literalmente agitado por uma quase colisão com outro corpo – possivelmente o misterioso objeto do tamanho de três sóis que ainda é visível nas proximidades.
Para verificar essa hipótese, a equipe calculou uma dúzia de órbitas potenciais para o objeto misterioso e, em seguida, fez uma simulação para ver se alguma dessas órbitas poderia ter aproximado o objeto o suficiente do disco protoestelar para transformá-lo em uma espiral.
Eles descobriram que, se o objeto seguisse um caminho específico, ele poderia ter passado pelo disco cerca de 12.000 anos atrás, perturbando a poeira apenas o suficiente para resultar na forma espiral vívida vista hoje.
“A boa correspondência entre os cálculos analíticos, a simulação numérica e as observações do ALMA fornecem evidências robustas de que os braços espirais no disco são relíquias do sobrevoo do objeto intruso”, disse o coautor do estudo Lu Xing, pesquisador associado do Observatório Astronômico de Xangai (SHAO) da Academia Chinesa de Ciências, disse em um comunicado.
Além de oferecer as primeiras imagens diretas de um disco protoestelar no centro galáctico, este estudo mostra que objetos externos podem transformar discos estelares em formas espirais normalmente vistas apenas na escala galáctica.
E porque o centro da Via Láctea é milhões de vezes mais denso de estrelas do que o nosso canto da galáxia, é provável que eventos de quase-acidente como este ocorram no centro galáctico com bastante regularidade, disseram os pesquisadores.
Isso significa que o centro da nossa galáxia pode estar sobrecarregado com espirais em miniatura, apenas esperando para serem descobertas. Os cientistas podem não chegar ao centro desta boneca-russa cósmica por muito, muito tempo.