Traduzido por Julio Batista
Original de Tessa Koumoundouros para o ScienceAlert
Lembrando a personagem-título do clássico conto de fadas A Bela Adormecida, os famosos tardígrados podem pausar seus relógios biológicos quando estão em um sono profundo e frio, sugere uma nova pesquisa.
Esses monstrinhos ridiculamente resistentes já têm uma variedade de superpoderes que usam para suportar as condições mais adversas, incluindo armaduras para proteger seu DNA da radiação e um preenchimento de proteína especial que impede que suas células entrem em colapso durante longos períodos de desidratação.
Com estes truques na manga e muito mais eles podem até sobreviver ao vácuo do espaço.
Para resistir ao congelamento mortal, os ursos-d’água de aparência fofinha entram em uma forma extrema de hibernação chamada criptobiose. Nesse estado, sua atividade metabólica basicamente para.
Acontece agora que seu metabolismo não é o único processo definido para ‘pausar’ suas atividades.
A bióloga Jessica Sieger, da Universidade de Stuttgart, e colegas expuseram um monte de tardígrados Milnesium inceptum a períodos semanais alternados de congelamento a -30 °C e alimentação a 20 °C, até que morressem. Outro grupo foi mantido em temperatura ambiente.
Surpreendentemente, de um total de 716 tardígrados, aqueles que foram periodicamente congelados viveram duas vezes mais que o grupo controle. O mais longevo viveu 169 dias, 94 deles em temperatura ambiente, enquanto o tardígrado mais velho do grupo controle chegou a 93 dias.
Ao todo, ambos os grupos passaram a mesma quantidade de tempo ativamente vivos, demonstrando que o envelhecimento biológico do tardígrado foi drasticamente retardado, se não interrompido completamente pela criptobiose. Isso, disseram os pesquisadores, confirma o modelo de criptobiose da “bela adormecida” no relógio biológico do animal, em oposição a outros modelos que sugeriram que o envelhecimento é retardado ou continua normal.
“Durante os períodos inativos, o relógio interno para e só volta a funcionar quando o organismo é reativado”, explicou o zoólogo Ralph Schil, também da Universidade de Stuttgart. “Assim, os tardígrados, que geralmente vivem apenas alguns meses sem períodos de descanso, podem viver por muitos anos ou até décadas”.
Esses adoráveis seres quase-imortais também entram em um estado de animação suspensa sob condições extremamente secas – um processo chamado anidrobiose. Pesquisas anteriores de Schhill demonstraram que os tardígrados também suspendem seu envelhecimento durante esse estado, mas esta é a primeira vez que isso também é confirmado enquanto estão congelados.
Esse pequeno truque bacana permite que os animais de tamanho milimétrico enfrentem condições perigosas e voltem à ação quando seus arredores forem mais favoráveis. Por exemplo, a volta da chuva após décadas de seca ao invés do beijo do verdadeiro amor que acordou a Bela Adormecida.
Tardígrados foram recuperados depois de mais de 30 anos congelados, ainda vivos e férteis. Mas sua animação suspensa não é um sistema infalível.
Congelar com segurança é um processo fisiológico complicado. A morte pode ocorrer em vez disso, se o congelamento acontecer muito rápido – não permitindo que certos processos bioquímicos sejam concluídos com rapidez suficiente, explicaram os pesquisadores.
O armazenamento insuficiente de energia pode ser outro fator que pode dar muito errado. Estudos anteriores demonstraram que entrar e sair de seu estado de sono profundo usa a energia armazenada nas células dentro da cavidade corporal dos animais gorduchos.
“A gravidade, sazonalidade, imprevisibilidade e variabilidade das condições ambientais determinam os padrões do ciclo de vida dos invertebrados”, resumiram Sieger, Schil e equipe em seu paper.
Esta pesquisa foi publicada no Journal of Zoology.