Traduzido por Julio Batista
Original de David Nield para o ScienceAlert
A história da domesticação de gatos remonta a quase 10.000 anos, mostram as evidências de um novo estudo genético, e o vínculo entre humanos e felinos provavelmente foi desencadeado por uma mudança no estilo de vida de nossos ancestrais.
Uma equipe internacional de pesquisadores analisou os genótipos de mais de 1.000 gatos criados aleatoriamente na Europa, Ásia e África, concentrando-se em quase 200 marcadores genéticos que estabeleceram ligações entre áreas e raças.
“Um dos principais marcadores de DNA que estudamos foram os microssatélites, que sofrem mutações muito rapidamente e nos dão pistas sobre populações recentes de gatos e desenvolvimentos de raças nas últimas centenas de anos”, disse a geneticista felina Leslie Lyons, da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Missouri, EUA.
“Outro marcador-chave de DNA que examinamos foram os polimorfismos de nucleotídeo único, que são mudanças de base única em todo o genoma que nos dão pistas sobre sua história antiga há vários milhares de anos”.
A equipe conseguiu rastrear os primeiros sinais de domesticação até a região do Crescente Fértil, aquelas partes do Oriente Médio ao longo dos rios Tigre e Eufrates. Este chamado ‘berço da civilização’ já foi identificado como o local onde a história do gato doméstico começou.
À medida que a atual era geológica do Holoceno começou, os seres humanos estavam trocando o modo de vida caçador-coletor nômade por algo um pouco mais estável, cultivando alimentos em um local específico. O controle de pragas de roedores fornecido pelos gatos teria ajudado nessas novas funções, levando as comunidades a encorajar ativamente sua presença.
Essa hipótese agora tem ainda mais evidências para apoiá-la. Com base nessas comparações genéticas, também parece provável que esses gatos domesticados se espalharam pelo mundo com os humanos – em outras palavras, eles não estavam sendo domesticados separadamente em outros lugares ao mesmo tempo.
Milhares de anos depois, os genes de gatos em todo o mundo agora mostram sinais de ‘isolamento por distância’, disseram os pesquisadores, onde as semelhanças genéticas entre as populações diminuem à medida que as distâncias geográficas entre elas aumentam. A composição genética dos gatos da Europa Ocidental, por exemplo, parece significativamente diferente dos gatos do sudeste da Ásia.
Os pesquisadores também fizeram questão de enfatizar as diferenças entre gatos domésticos (Felis catus) e alguns outros animais – incluindo cavalos e cachorros – quando se trata dos efeitos da domesticação e da vida passada na companhia de humanos.
“Na verdade, podemos nos referir aos gatos como semidomesticados, porque se os deixássemos soltos na natureza, eles provavelmente ainda caçariam pequenos animais e seriam capazes de sobreviver e acasalar por conta própria devido a seus comportamentos naturais”, disse Lyons.
“Ao contrário dos cães e outros animais domesticados, não mudamos muito o comportamento dos gatos durante o processo de domesticação, então os gatos mais uma vez provam ser um animal especial”.
O trabalho realizado pela equipe neste estudo e em anteriores está ajudando a construir um banco de dados genético de condições compartilhadas por felinos e humanos, incluindo cegueira e tipos específicos de nanismo. A estrutura genética do gato é, na verdade, mais semelhante à dos humanos do que a maioria dos outros mamíferos não primatas.
A doença renal policística é outro exemplo de uma condição que pode ser combatida com informações genéticas. Tendo reduzido significativamente os níveis da doença em gatos persas por meio de testes genéticos, os pesquisadores estão atualmente realizando testes de tratamentos baseados em dieta para a condição em humanos.
“Se esses testes forem bem-sucedidos, poderemos fazer com que os humanos experimentem como uma alternativa mais natural e saudável a tomar um medicamento que pode causar insuficiência hepática ou outros problemas de saúde”, disse Lyons. “Nossos esforços continuarão a ajudar e é bom fazer parte disso.”
A pesquisa foi publicada na Heredity.