Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert
Um martemoto poderoso e recordista que abalou Marte em maio deste ano foi pelo menos cinco vezes maior do que o recordista anterior, revelou uma nova pesquisa.
Não está claro qual foi a origem do martemoto (ou seja, terremotos marcianos), mas foi definitivamente peculiar. Além de ser o martemoto mais poderoso já registrado em Marte, também foi o mais longo por um tempo significativo, sacudindo o planeta vermelho por 10 horas.
“A energia liberada por este único martemoto é equivalente à energia cumulativa de todos os outros martemotos que vimos até agora”, disse o sismólogo John Clinton, do Instituto Federal Suíço de Tecnologia, “e embora o evento tenha ocorrido a mais de 2.000 quilômetros de distância, as ondas registradas no InSight eram tão grandes que quase saturaram nosso sismômetro.”
A nova análise do terremoto, publicada na Geophysical Research Letters, estabeleceu sua magnitude em 4,7. O recordista anterior foi um terremoto de magnitude 4,2 detectado em agosto de 2021.
Isso pode não soar como um grande terremoto para os padrões da Terra, onde o terremoto mais poderoso já registrado atingiu uma magnitude de cerca de 9,5. Mas para um planeta que era considerado sismicamente inativo até que a sonda InSight da NASA começou a registrar seu interior no início de 2019, é impressionante.
Embora Marte e a Terra tenham muito em comum, existem algumas diferenças realmente importantes. Marte não tem placas tectônicas; e também não tem um campo magnético global coerente, muitas vezes interpretado como um sinal de que não está acontecendo muita coisa no interior marciano, uma vez que o campo magnético da Terra é teorizado como o resultado da convecção térmica interna.
A InSight revelou que Marte não é tão sismicamente silencioso quanto pensávamos anteriormente. Ele treme e ressoa, insinuando atividade vulcânica sob a região de Cerberus Fossae onde o módulo InSight explora, monitorando as entranhas ocultas do planeta.
Mas determinar o status de atividade do interior marciano não é a única razão para monitorar martemotos. A forma como as ondas sísmicas se propagam através da superfície de um planeta pode ajudar a revelar variações de densidade em seu interior. Em outras palavras, eles podem ser usados para reconstruir a estrutura do planeta.
Isso geralmente é feito aqui na Terra, mas centenas de martemotos registrados pelo InSight também permitiram que os cientistas construíssem um mapa do interior marciano.
O martemoto de maio pode ter sido apenas um evento sísmico, mas parece ter sido importante.
“Pela primeira vez, fomos capazes de identificar ondas de superfície, movendo-se ao longo da crosta e do manto superior, que viajaram várias vezes ao redor do planeta”, disse Clinton.
Em dois outros papers separados na Geophysical Research Letters, equipes de cientistas analisaram essas ondas para tentar entender a estrutura da crosta de Marte, identificando regiões de rocha sedimentar e possível atividade vulcânica dentro da crosta.
Mas há mais a ser estudado no próprio martemoto. Em primeiro lugar, originou-se perto, mas não da região de Cerberus Fossae, e não pôde ser rastreado a nenhuma característica óbvia da superfície. Isso sugere que pode estar relacionado a algo escondido abaixo da crosta.
Em segundo lugar, os martemotos e terremotos geralmente têm uma frequência alta ou baixa, o primeiro caracterizado por tremores rápidos e curtos e o segundo por ondas mais longas e profundas com amplitudes maiores. Este martemoto combinou ambas as faixas de frequência, e os pesquisadores não têm certeza do porquê. No entanto, é possível que martemotos de alta e baixa frequência previamente registrados e analisados separadamente possam ser duas partes do mesmo evento sísmico.
Isso pode significar que os cientistas precisam repensar como os martemotos são compreendidos e analisados, revelando ainda mais segredos escondidos sob a enganosamente silenciosa superfície marciana.
“Este foi definitivamente o maior martemoto que já vimos”, disse o cientista planetário Taichi Kawamura, do Instituto Global de Física de Paris, na França.
“Fiquem ligados para mais coisas emocionantes depois disso.”
A pesquisa foi publicada na Geophysical Research Letters.