Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert
Os humanos arcaicos podem ter descoberto como navegar através do mar para novas terras há quase meio milhão de anos.
De acordo com uma nova análise das linhas costeiras durante o Chibaniano Médio, não há outra maneira desses antigos hominídeos terem alcançado o que hoje chamamos de Ilhas do Egeu. No entanto, os arqueólogos encontraram artefatos antigos nas ilhas que antecedem a primeira aparição conhecida do Homo sapiens.
Isso sugere que esses humanos antigos devem ter encontrado uma maneira de atravessar grandes massas de água. E se a dependência de pontes terrestres não era necessária para a migração humana, isso pode ter implicações na maneira como nossos ancestrais e humanos modernos se espalharam pelo mundo.
A questão de quando os hominídeos começaram a navegar é difícil de responder. Os barcos ao longo da história tendem a ser feitos de madeira, um material que nem sempre sobrevive intacto à devastação do tempo – e certamente não por dezenas de milhares, quanto mais por centenas de milhares de anos. Portanto, não há esperança de registro dos primeiros barcos navegando pelos oceanos.
Em vez disso, o que temos é um registro de artefatos e ossos que sobreviveram – ferramentas de pedra que não se deterioram, por exemplo – e instrumentos de análise que nos permitem reconstruir a forma como o mundo mudou ao longo de muitos milênios. Liderada pelo geólogo George Ferentinos, da Universidade de Patras, na Grécia, foi assim que uma equipe de pesquisadores conseguiu conduzir a nova análise.
As ilhas do Mar Egeu são, hoje, consideradas entre os lugares mais bonitos do mundo. Elas consistem em centenas de ilhas que formam um arquipélago espalhadas pelo Mar Egeu entre a Turquia, Grécia e Creta. E elas são habitadas há muito tempo; artefatos foram datados de 476.000 anos atrás.
Essas ferramentas antigas em Lesbos, Milos e Naxos, além disso, foram ligadas ao estilo acheuliano desenvolvido há cerca de 1,76 milhão de anos, associado ao Homo erectus na África e na Ásia. Várias dessas ferramentas foram encontradas na Turquia, Grécia e Creta, datando de 1,2 milhão de anos atrás, então sua aparição no arquipélago próximo faz algum sentido.
Estudos anteriores sugeriram que os humanos antigos cruzaram as ilhas a pé durante as eras glaciais. Quando o mundo congela, o nível do mar cai e os humanos podem fazer travessias que estariam cobertas por água em tempos mais temperados.
Para determinar se isso é uma possibilidade, Ferentinos e seus colegas reconstruíram a geografia da região, incluindo uma reconstrução da costa ao redor das ilhas do mar Egeu que remonta a 450.000 anos atrás. Para isso, eles usaram deltas de rios antigos, que podem ser usados para inferir o nível do mar e as taxas de subsidência impulsionadas pela atividade tectônica.
E eles descobriram que as reconstruções anteriores estavam incorretas. Em seu ponto mais baixo nos últimos 450.000 anos, o nível do mar era aproximadamente 225 metros mais baixo do que é hoje.
Isso significa que, embora algumas das ilhas do mar Egeu estivessem conectadas umas às outras quando o nível do mar estava mais baixo, nos últimos 450.000 anos, as ilhas permaneceram consistentemente isoladas das massas de terra circundantes. No ponto mais baixo do nível do mar, ainda haveria vários quilômetros de mar aberto para atravessar para chegar à mais próxima das ilhas do mar Egeu.
Outras evidências, apontam os pesquisadores, sugerem que esta não foi a primeira travessia marítima. Em algum momento entre 700.000 e um milhão de anos atrás, acreditava-se que humanos arcaicos viajavam pelo mar ao redor da Indonésia e das Filipinas.
Essas travessias combinadas sugerem que a viagem marítima foi uma habilidade desenvolvida não pelo Homo sapiens, mas pelos ancestrais e parentes humanos que vieram antes.
“Além disso, considerando que os hominídeos arcaicos foram capazes de cruzar o Mar Egeu, eles também teriam sido capazes de cruzar o Estreito de Gibraltar”, escreveram os pesquisadores em seu paper.
“O possível evento mencionado acima nos permite revisar a visão geralmente aceita sobre o povoamento do sudoeste da Europa a partir da Península do Sinai e do posto de parada das planícies levantinas através da zona costeira da Anatólia e da ponte de terra do Bósforo no meio e no final do Pleistoceno Médio, com base no consenso que as habilidades cognitivas de travessia marítima eram restritas aos humanos anatomicamente modernos.”
A pesquisa foi publicada no Quaternary International.