Traduzido por Julio Batista
Original de Yasser Arjouni para o The Skeptic
Em 1905, Alfred Binet administrou o primeiro teste de QI para medir a capacidade cognitiva de crianças de diferentes faixas etárias. Ao quantificar a pontuação média de cada categoria, ele foi capaz de determinar quais crianças tinham debilidades (pontuação abaixo da média para sua idade) e quais eram superdotadas (pontuação acima da média para sua idade).
O fervor de medir a inteligência humana logo se espalhou para o resto da Europa e do mundo; na Alemanha, Willian Stern expandiu o trabalho de Binet através da introdução de uma fórmula de QI; nos Estados Unidos, Lewis Terman foi pioneiro no teste de Stanford-Binet, e David Wechsler, levando em consideração as limitações dos modelos anteriores, idealizou a Escala de Inteligência Wechsler-Bellevue. No espaço de um século, os testes de QI tornaram-se uma medida de inteligência reconhecida globalmente e, como tal, foram usados para tirar mais conclusões sobre os fatores que influenciam a inteligência humana, sendo os mais controversos a etnia e a riqueza.
Se você já deu uma olhada nas pontuações de QI em todo o mundo, deve ter notado que os países do leste asiático quase sempre estão no topo da lista. Esta é a própria raiz do estereótipo de que ”os asiáticos são inteligentes”, mas isso tem alguma sustentação?
Vamos desmistificar a audácia da causalidade entre a etnia do Leste Asiático e a inteligência por uma frase – por que a Mongólia, um país do Leste Asiático, ficou em 53º lugar no índice de QI? E o 22º lugar na classificação da Coreia do Norte abaixo do que deveria ser uma Bielorrússia menos inteligente, que ficou em 7º? Por que a Coreia do Sul, classificada em 6º lugar, superou a Coreia do Norte, apesar de ambas serem da mesma origem étnica?
Se acreditássemos que a etnia é o fator mais importante na determinação da capacidade intelectual, por que algumas das etnias mais bem-sucedidas da história não conseguiram se classificar entre as 100 melhores do índice de QI? O Egito não foi o pilar da alta cultura por milhares de anos? Se sim, por que ficou em 142º lugar? A Pérsia (Irã), classificada em um distante 119º lugar, não deu origem à civilização aquemênida e inúmeras outras? Que tal o coração da maravilhosa civilização Inca, Peru? Machu Picchu não atesta a genialidade dos peruanos? Se sim, por que o Peru ficou em 112º lugar?
Se existe alguma relação entre etnia e inteligência, sua complexidade é seriamente subestimada na melhor das hipóteses – ou é totalmente inexistente porque a etnia carrega mais valor social do que científico.
Voltando ao índice de QI, você também pode notar que uma pluralidade de países com alto QI é rica. A hipótese de que existe uma relação entre riqueza e QI não é nova. Na verdade, um estudo polêmico de Lynn e Vanhanen postulou que o baixo PIB causa baixo QI e vice-versa.
Se um PIB alto se traduz em QI alto, como pode a China ocupar o 77º lugar no índice de PIB per capita e o 5º no índice de QI? Como o Catar pode ostentar o 4º maior PIB do mundo e estar na marca de 116º no índice de QI? Por que Brunei possui o 8º maior PIB enquanto é considerado o 74º país mais inteligente por esse índice?
Embora a riqueza possa aumentar a probabilidade de realização do potencial intelectual ao facilitar o acesso à educação de qualidade, é evidente que não pode garantir um QI elevado.
O QI pode ser influenciado por praticamente qualquer variável; cultura local, língua, comida e até desejo sexual, tudo se correlaciona com o QI. Embora cobrir cada um deles em detalhes esteja além do escopo deste artigo, é indispensável compreender o quanto o conceito é um buraco negro para, pelo menos, justificar uma atitude mais reservada em relação a ele.
A busca para entender a inteligência humana é louvável, mas as tentativas de identificar a causa única ou primária da inteligência sem dúvida causaram mais danos do que benefícios. Talvez inadvertidamente, sustentou e promoveu preconceito racial e falácias causais. Alguns psicólogos chegaram a dizer que os testes de QI são inconsequentes (um eufemismo para inútil) no diagnóstico de dificuldades de aprendizagem, o propósito para o qual Binet projetou o primeiro modelo em primeiro lugar.