Traduzido por Julio Batista
Original de Jennifer Nalewicki para a Live Science
Uma reconstrução facial aproximada realista de um homem que viveu 30.000 anos atrás onde hoje é o Egito pode oferecer pistas sobre a evolução humana.
Em 1980, arqueólogos desenterraram os restos mortais do homem em Nazlet Khater 2, um sítio arqueológico no Vale do Nilo, no Egito. A análise antropológica revelou que o homem tinha entre 17 e 29 anos quando morreu, aproximadamente 160 centímetros de altura e era descendente de africanos mais centrais. O esqueleto é o exemplo mais antigo de Homo sapiens encontrado no Egito e um dos mais antigos do mundo, de acordo com um estudo publicado em 22 de março.
No entanto, pouco mais se sabia sobre ele além de que ele foi enterrado ao lado de um machado de pedra.
Agora, mais de 40 anos depois, uma equipe de pesquisadores brasileiros criou uma reconstrução facial aproximada do homem usando dezenas de imagens digitais coletadas durante a visualização de seus restos mortais, que fazem parte do acervo do Museu Egípcio do Cairo.
“O esqueleto tem a maior parte dos ossos preservados, embora tenha havido algumas perdas, como a ausência de costelas, mãos, a parte médio-inferior da tíbia direita [osso da canela] e a parte inferior da esquerda tíbia, assim como os pés”, disse o autor Moacir Elias Santos, um arqueólogo do Museu de Arqueologia Ciro Flamarion Cardoso no Paraná, à Live Science por e-mail. “Mas a principal estrutura da reconstrução facial aproximada, o crânio, estava bem preservada.”
Uma característica do crânio que se destacou para os pesquisadores foi a mandíbula e como ela diferia das mandíbulas mais modernas. Uma parte do crânio também estava faltando, mas a equipe copiou e espelhou usando o lado oposto do crânio e usou pontos de dados de tomografias computadorizadas (TC) de doadores virtuais vivos.
“O crânio, em linhas gerais, tem uma estrutura moderna, mas parte dele tem elementos arcaicos, como a mandíbula, que é muito mais robusta que a do homem moderno”, analisou o co-pesquisador Cícero Moraes, um especialista em gráficos brasileiro, disse à Live Science por e-mail. “Quando observei o crânio pela primeira vez, fiquei impressionado com aquela estrutura e ao mesmo tempo curioso para saber como ficaria depois de abordar o rosto.”
Juntando digitalmente as imagens em um processo conhecido como fotogrametria, os pesquisadores criaram dois modelos 3D virtuais do homem. A primeira era uma imagem em preto e branco com os olhos fechados em um estado expressivo neutro, e a segunda era uma abordagem mais artística, apresentando um jovem de cabelos escuros desgrenhados e barba aparada.
“Em geral, as pessoas acham que a reconstrução facial aproximada funciona como nos filmes de Hollywood, onde o resultado final é 100% compatível com a pessoa na vida”, disse Moraes. “Na realidade, não é bem assim. O que fazemos é aproximar o que poderia ser o rosto, com dados estatísticos disponíveis e o resultado do trabalho é uma estrutura muito simples.
“No entanto, é sempre importante humanizar o rosto do indivíduo ao trabalhar com personagens históricos, pois, ao complementar a estrutura com cabelos e cores, a identificação com o público será maior, despertando interesse e — quem sabe — vontade de estudar mais sobre o assunto específico ou arqueologia e história como um todo”, acrescentou.
Os pesquisadores esperam que dar uma olhada nesse homem antigo possa ajudar os arqueólogos a entender melhor como os humanos evoluíram ao longo do tempo.
“O fato de esse indivíduo ter mais de 30 mil anos o torna importante para entender a evolução humana”, disse Santos.