Traduzido por Julio Batista
Original de Crystal Raypole para o Business Insider
Tardígrados são criaturas microscópicas com um dom para a sobrevivência em condições extremas. Esses invertebrados aquáticos – também conhecidos como ursos-d’água – podem resistir à exposição a altos níveis de radiação, à pressão esmagadora do fundo do mar e até ao vácuo do espaço.
Também descobrimos que os ursos-d’água fazem sexo selvagem, graças ao recente vídeo do cientista James Weiss, o cinegrafista do canal do YouTube Journey to the Microcosmos e autor de “The Hidden Beauty of the Microscopic World“.
Weiss, especialista no uso de microscópios para estudar micróbios em lagoas, lagos, rios e mares, criou ambientes fechados em lâminas para observar os mesmos ursos-d’água por semanas. Foi assim que ele capturou imagens de tardígrados acasalando por até duas horas por vez.
Ele também gravou um ménage de tardígrados de 30 minutos – uma das primeiras gravações conhecidas de sexo grupal de tardígrados.
Um ménage de urso-d’água
Os pesquisadores publicaram pela primeira vez detalhes do comportamento de acasalamento dos tardígrados em um paper de 2016, mas outras observações do sexo do urso-d’água permanecem bastante limitadas.
“Não havia muitas pessoas estudando tardígrados até muito recentemente, então todas essas observações vêm de alguns tardigradologistas renomados”, disse Weiss (sim, “tardigradologista” é uma palavra real).
“Não estudo os tardígrados de maneira tradicional e institucional, mas como me interessei por eles há muito tempo, reuni muitos dados e observei comportamentos únicos”, disse Weiss.
Um desses comportamentos únicos? Um ménage de ursos-d’água.
Enquanto observava os tardígrados em sua coleção de vídeos, Weiss notou pela primeira vez dois tardígrados menores que pareciam atraídos pelo ventre de um tardígrado maior. Isso era incomum, já que normalmente os tardígrados não mostram um interesse tão concentrado em nada.
Mas mesmo depois de 20 minutos, os dois tardígrados menores continuaram cutucando o maior com suas bocas. Weiss, que não é um especialista em tardígrados, mas já viu muitos deles em seus estudos de criaturas microscópicas, notou que o tardígrado maior parecia estar carregando ovos não fertilizados.
Ele disse que os dois tardígrados menores eram machos “sapecando” em um esforço para fertilizar os ovos da fêmea.
Enquanto Weiss observava, ele disse que os dois machos continuaram penetrando a fêmea enquanto ela fazia cocô, o que Weiss sugeriu que poderia ser uma maneira de atrair os machos.
Weiss acrescentou, no entanto, que a compreensão limitada dos especialistas sobre o sexo dos tardígrados torna impossível saber exatamente por que ela defecava.
“Na água, tudo gira em torno de pistas químicas, então os machos precisam coletar algumas informações para encontrar as fêmeas”, disse Weiss.
Para testar isso, Weiss separou alguns casais, empurrando eles gentilmente com um pouco de pelo de gato através da lâmina do microscópio e da lamela. Em cada instância, os machos voltaram para as fêmeas em apenas alguns minutos.
“Então, acredito que haja alguma sinalização química acontecendo e, bem, o cocô libera muitos sinais na água”, disse Weiss.
Após cerca de 30 minutos ao todo, o trio se tornou um casal quando um macho saiu de cena.
O macho restante ficou com a fêmea por mais uma hora, e Weiss observou um comportamento de acasalamento semelhante com outros casais de tardígrados na coleção.
Reprodução do urso-d’água
Os machos são atraídos por fêmeas com ovos não fertilizados, ou ovócitos.
Em seu livro, Weiss observou que os machos sempre parecem ir atrás das fêmeas. “Enquanto as fêmeas pastavam calmamente nas algas, os machos corriam como galinhas loucas e pulavam nas costas das fêmeas e ficavam lá por uma hora e meia”, escreveu ele.
Uma vez que os machos encontram uma fêmea, eles se agarram a ela com suas garras e os parceiros fazem um movimento rítmico selvagem até que finalmente o macho termina, liberando milhares de espermatozoides que provavelmente fertilizam os óvulos entrando em uma abertura no exoesqueleto da fêmea.
Mas os cientistas ainda precisam descobrir exatamente como a fertilização acontece.
Nem todos os ursos-d’água precisam fazer sexo para se reproduzir. Weiss disse que algumas espécies de tardígrados incluem apenas fêmeas, que se reproduzem assexuadamente por partenogênese.
Ele também disse que é possível que os tardígrados mudem de método de reprodução quando estão sob estresse ambiental, embora os especialistas ainda tenham muito mais a aprender sobre essa teoria.
Mas as espécies marinhas de ursos-d’água, como a espécie registrada por Weiss, incluem machos e fêmeas e se reproduzem por acasalamento.
Nascimento de urso-d’água
Uma mãe ursa-d’água pode carregar cerca de 20 ovos até que os ovos comecem a eclodir um por um – estourando como pipoca, disse Weiss.
“É fácil distinguir um tardígrado recém-nascido porque eles têm a barriga oca. Logo após uma semana, eles estão prontos para se reproduzir, então é seguro dizer que os bebês têm bebês em duas semanas após a eclosão”, disse Weiss.
Os ursos-d’água têm vidas bastante curtas, com 8 semanas sendo o tempo de vida mais longo que Weiss observou em sua pesquisa.
Assista ao ménage de tardígrados no vídeo abaixo, começando por volta de 13m25seg.
