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Uma trilha de pegadas humanas fossilizadas sugere uma jornada perigosa na Era do Gelo

O maior conjunto de pegadas humanas, datado da Idade do Gelo, foi possivelmente feito por uma jovem carregando uma criança. O rastro sugere que os dois encontraram um mamute (dois mostrados na ilustração) e uma preguiça-gigante – Foto: Reprodução/Karen Carr

Traduzido por Carlos Germano
Original de Aayushi Pratap para o Science News

Em um dia durante o final da Era do Gelo, uma possível jovem adulta ou adolescente segurando uma criança atravessou uma planície lamacenta onde vagavam mamutes e preguiças-gigantes. Agora, mais de 10.000 anos depois, pegadas fossilizadas revelam essa viagem perigosa.

As pegadas, encontradas no Parque Nacional de White Sands, no Novo México, estendem-se por mais de 1,5 km ao longo da planície e nas costas, tornando-as o conjunto mais longo já encontrado, relatam os pesquisadores para revista científica Quaternary Science Reviews.

“O tamanho da trilha é realmente excepcional e nos dá uma amostra prolongada do comportamento desses indivíduos”, diz o biólogo evolutivo Kevin Hatala, da Chatham University, em Pittsburgh, que não participou da pesquisa. Ele lembra uma conexão pessoal e íntima com nossos ancestrais, pois muitas pessoas podem se relacionar com a sensação de segurar uma criança nos braços, diz ele.

Os cientistas se depararam com a descoberta quando, em 2018, notaram um trecho extenso de manchas escuras ao longo do que antes era a margem do antigo Lago Otero, agora seco. Uma pequena escavação revelou pegadas humanas fossilizadas, bem como de um mamute e de uma preguiça-gigante.

Das 427 pegadas humanas descobertas, os pesquisadores analisaram 90. O tamanho e a profundidade das pegadas sugerem que elas foram feitas por uma suposta adolescente ou jovem, dizem os pesquisadores. Pegadas irregulares indicam que a superfície estava escorregadia e que, em uma das etapas da jornada, a pessoa, às vezes, movia uma carga pesada. Essa carga parecia ser de uma criança: pegadas menores de uma criança de 3 anos apareceram ao lado das pegadas maiores em vários pontos.

“Parece que a pessoa estava com pressa, não sabemos o porquê. Foi uma caminhada rápida e parece que ela estava cansada… mesmo assim continuou”, diz David Bustos, biólogo do Parque Nacional White Sands.

Um conjunto de pegadas humanas fossilizadas (closeup de uma delas, à direita) encontrado no Parque Nacional de White Sands, no Novo México, estende-se por cerca de 1,5 km ao longo do que antes era um lago. A pessoa seguiu a mesma rota de ida e volta (esquerda) durante o final da Idade do Gelo – Foto: Reprodução/Mr Bennett Et Al/Quaternary Science Reviews

Essa pressa pode ser em função do risco da viagem. Anteriormente, outras pegadas encontradas na área apontaram para um grupo de pessoas. Elas, provavelmente, se moviam em bandos para caçar animais como mamutes, preguiças e lobos, diz Bustos.

No caso da jovem carregando uma criança, as pegadas de um mamute e de uma preguiça-gigante cruzaram as pegadas da dupla; em alguns pontos, os rastros dos dois vieram primeiro, enquanto em outros, a jovem pisou nas pegadas de outros animais. Com base na época em que esses animais foram extintos, os pesquisadores foram capazes de datar as pegadas humanas no final da Idade do Gelo.

Embora não esteja claro se o mamute sentiu a presença humana, a preguiça-gigante ergueu-se sobre as patas traseiras e se moveu em círculos, sugerindo que ela notou um humano por perto, dizem os pesquisadores. É possível que esses animais entrassem em “contato” com humanos regularmente, diz Hatala.

Carlos Germano

Carlos Germano

carlosgermanorf@gmail.com