Traduzido por Carlos Germano
Original de Laura Geggel para o Live Science
Os tiranossauros se mordiam violentamente no rosto, sem a intenção de matar muitas vezes. Ao invés disso, essas brigas foram, provavelmente, o resultado de diferentes indivíduos competindo por prêmios, como território, companheiras ou status mais elevados, aponta novo estudo.
Os pesquisadores divulgaram a descoberta após analisar 202 crânios e mandíbulas de tiranossauros com 324 cicatrizes no total. Quase imediatamente, a equipe percebeu que os jovens tiranossauros não tinham marcas de mordidas em seus rostos. Em vez disso, cerca de metade dos tiranossauros mais velhos possuíam, indicando que apenas membros mais velhos de um sexo participavam dessas lutas.
“Juntos, podemos entender como esses animais estavam lutando”, disse o pesquisador principal do estudo, Caleb Brown, curador do Royal Tyrrell Museum, em Alberta, Canadá, ao Live Science por e-mail. “Eles estavam se posicionando e avaliando um ao outro para tentar agarrar a cabeça do adversário entre suas mandíbulas.”
Tiranossauros eram um grupo de dinossauros carnívoros que dominaram, como predadores, a Ásia e a América do Norte, durante os últimos 20 milhões de anos do período Cretáceo (145 milhões a 66 milhões de anos atrás).
O projeto começou com a descoberta de um único espécime de tiranossauro: uma mandíbula superior desenterrada no Dinosaur Provincial Park de Alberta, em 2017. Uma análise da mandíbula revelou que ela tinha uma série de longas “cicatrizes que formavam um arco na lateral do osso”, disse Brown. “Essas eram marcas de dentes de outro tiranossauro que se curou, formando essas cristas elevadas”.
Crânios de tiranossauros costumam ter muitas cicatrizes. Mas ninguém havia olhado para um número grande dessas cicatrizes para examiná-las sistematicamente. Então, Brown e seus colegas começaram a documentar a ocorrência, forma e outros detalhes sobre essas cicatrizes em crânios de tiranossauros, incluindo Albertosaurus, Daspletosaurus e Gorgosaurus.
Cicatrizes faciais eram muito comuns, descobriu a equipe. Marcas de mordida estavam presentes em cerca de 50% dos tiranossauros grandes (mas ainda não adultos) e em cerca de 60% dos tiranossauros de tamanho adulto. Além disso, as cicatrizes tendiam a aparecer nos maxilares superior e inferior e incluíam marcas de perfurações dentárias e cicatrizes alongadas.
A equipe determinou o tamanho das “vítimas” e dos “mordedores” comparando o espaço entre seus dentes, conforme os crânios e as marcas de mordida neles. “Os animais costumavam ser de tamanho semelhante”, o que significa que não era uma situação de Davi contra Golias, disse Brown.
Esses dados sugerem que os tiranossauros “não tinham esse comportamento quando eram jovens, e só começaram quando estavam mais crescidos, e só o fizeram com animais do mesmo tamanho”, disse Brown. Além disso, a prevalência dessas cicatrizes desagradáveis, mas geralmente não letais, sugere que os tiranossauros mais velhos lutavam entre si regularmente, disse ele.
Os animais modernos também lutam contra sua própria espécie, geralmente quando atingem a maturidade sexual. “Esses animais têm idade suficiente para se reproduzir e estão testando as águas para ver como eles se classificam em comparação com os rivais ou como se classificam em comparação com parceiros em potencial”, disse Brown. Os tiranossauros também podem ter começado a lutar entre si no período de maturidade sexual, “mas isso é realmente difícil de provar, então, não sabemos exatamente”, acrescentou.
É quase impossível determinar o sexo de um dinossauro. A menos que um dinossauro fêmea tenha morrido enquanto estava grávida ou colocando um ovo.
“Também não sabemos se [o comportamento de morder] era apenas dos machos, fêmeas ou ambos os sexos. Mas é interessante considerar todos os cenários possíveis”, disse Brown.
O estudo foi publicado em 6 de setembro na revista Paleobiology (veja aqui).