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Coiotes e linces fogem para perto da civilização por conta da violência de grandes predadores

O lince foi uma das quatro espécies rastreadas com rádio-colares para analisar como os carnívoros moldam o comportamento uns dos outros em áreas rurais – Foto: Reprodução / Zachary Wardle

Traduzido por Carlos Germano
Original de Freda Kreier para o Science News

Quando animais selvagens se “aproximam” da civilização para se refugiar de predadores, a ilusão de segurança pode ser fatal.

No deserto, predadores de tamanho médio, como coiotes, aprenderam a temer carnívoros maiores, como lobos e pumas, que atacam e matam os concorrentes de menor tamanho. Um novo estudo descobriu que, quando esses predadores maiores estão por perto, os menores tentam escapar do ataque movendo-se para locais onde têm seres humanos. Mas isso acaba colocando-os em um risco muito maior, ou seja, podem acabar sendo mortos pelas pessoas, relatam os cientistas na revista Science.

O estudo é um dos primeiros a mostrar que grandes felinos e lobos moldam o comportamento de outros predadores fora das áreas selvagens, diz Laura Prugh, ecologista da vida selvagem da Universidade de Washington, em Seattle (EUA).

Quando grandes populações de carnívoros despencaram devido à caça em vastas extensões da América do Norte, predadores menos ameaçadores para os humanos floresceram. Então, quando grandes predadores foram reintroduzidos na natureza – incluindo lobos na América do Norte – os cientistas começaram a notar aspectos de violência mortal (e principalmente unilateral) entre antigos e novos residentes carnívoros.

O resultado dessa violência é algo que Prugh testemunhou. Durante um estudo de campo, no Alasca, o ecologista da vida selvagem encontrou restos de coiotes massacrados por lobos.

“Os lobos enterraram as cabeças [dos coiotes] na neve”, lembra Prugh. “Foi um pouco macabro.”

Inevitavelmente, predadores menores tentarão ficar longe de seus parentes assassinos. No entanto, como isso funciona fora das áreas selvagens ainda não está claro. Alguns animais se escondem do perigo em espaços moldados por pessoas – sejam fazendas ou subúrbios – em um fenômeno intitulado “efeito de escudo humano”. Outras pesquisas apontaram que os predadores de tamanho médio também se afastam quando necessário.

“Os animais têm muito, muito medo dos humanos”, explica Taal Levi, ecologista da vida selvagem da Oregon State University, em Corvallis (EUA), que não participou do estudo. Em experimentos que os cientistas tocavam gravações de rosnados ou vozes humanas, carnívoros menores, como coiotes, eram mais propensos a “evitar áreas onde tocavam gravações de pessoas conversando”, diz ele.

Para ver como os predadores menores se comportam perto do território humano, Prugh e seus colegas colocaram rádio-colares em 37 linces e 35 coiotes, bem como em 22 lobos e 60 pumas, em duas áreas rurais do estado de Washington. Essas coleiras rastreiam a localização dos animais a cada quatro horas por até dois anos.

O rastreamento desses animais revelou que coiotes e linces, predadores de tamanho médio, tinham duas vezes mais chances de passar o tempo perto de fazendas, estradas, campos e cidades, quando grandes carnívoros estavam por perto. Mas eles trocaram uma ameaça por outra: as pessoas atiraram, prenderam ou mataram 25 linces e coiotes durante o período do estudo. Por outro lado, morreram apenas oito lobos e pumas, o que significa que as pessoas mataram três vezes mais coiotes e linces do que os predadores de grande porte.

Os pesquisadores usaram rádio-colares para rastrear coiotes como este e descobriram que os animais eram mais propensos a ficar perto das pessoas quando predadores maiores estavam por perto. Os humanos foram responsáveis por 14 mortes de coiotes durante o período do estudo – Foto: Reprodução / Savanah Walker
Os pesquisadores usaram rádio-colares para rastrear coiotes como este e descobriram que os animais eram mais propensos a ficar perto das pessoas quando predadores maiores estavam por perto. Os humanos foram responsáveis por 14 mortes de coiotes durante o período do estudo – Foto: Reprodução / Savanah Walker

Isso pode ocorrer porque os animais não são bons em ler os sinais de perigo dos humanos em um mundo moderno, diz Prugh. É improvável que um coiote faça a conexão de que uma pessoa está com uma arma. Mas o cheiro e o som dos lobos – que evoluíram ao lado dos coiotes por milênios – são difíceis de esquecer se você for atacado.

Em geral, o estudo mostra que grandes carnívoros moldam o comportamento de predadores menores, mesmo fora de áreas selvagens, algo que nem todos os cientistas concordaram que seria o caso, diz Levi. “À medida que os lobos cresciam fora dos parques nacionais, os pesquisadores questionavam se eles poderiam crescer o suficiente para cumprir seu papel ecológico” de controlar o número de carnívoros menores, diz ele.

Este estudo mostra que grandes carnívoros podem – e vão – moldar como pequenos carnívoros vivem e morrem perto dos seres humanos.

Carlos Germano

Carlos Germano

carlosgermanorf@gmail.com