Por Nick Allum
Publicado na IFLS
Traduzido por Laryssa Ferro
A maioria das pessoas lendo este artigo terão também lido seu horóscopo pelo menos uma vez. Apesar de estudos científicos nunca terem encontrado evidências para as reivindicações que os astrólogos fazem, algumas pessoas ainda pensam que a astrologia é científica. Estamos agora começando a entender o porquê, e a personalidade das pessoas pode ter algo a ver com isso.
Colunas de astrologia são generalizadas e já existem há um tempo surpreendentemente longo. Um dos mais antigos colunistas registrados era o astrólogo do século 17, William Lilly, que tinha fama de ter previsto o Grande Incêndio de Londres, apesar de que com 14 anos de antecedência.
A ideia por trás da astrologia é que as estrelas e os planetas têm alguma influência sobre os assuntos humanos e eventos terrestres. E horóscopos são predições de um astrólogo sobre a vida de uma pessoa com base nas posições relativas das estrelas e dos planetas.
Estas previsões são regularmente lidas ao redor do mundo. Segundo a pesquisa do Wellcome Trust Monitor Survey, 21% dos adultos na Grã-Bretanha leem seus horóscopos “frequentemente” ou “muito frequentemente”.
Sem dúvida, muitas pessoas leem seus horóscopos apenas para fins de entretenimento, ou como um tema para conversas. Mas algumas pessoas atribuem credibilidade científica para previsões astrológicas e tratam a astrologia como uma forma válida de compreensão do comportamento humano. Uma quantidade surpreendente de pesquisa científica tem sido realizada para avaliar as alegações da astrologia ao longo dos últimos 40 anos, porém não há nenhuma evidência para apoiar tais alegações.
Então o fato dos cidadãos tomarem decisões importantes da vida com base em previsões astrológicas completamente não confiáveis deveria ser preocupante. Por exemplo, as pessoas podem decidir a favor ou contra um cônjuge em potencial com base no signo astrológico. Isto acontece muitas vezes na Índia. Alguns podem tomar decisões financeiras precipitadas baseadas em previsões de boa sorte.
Felizmente, verifica-se que o número de pessoas na Grã-Bretanha que pensam que os horóscopos são científicos é pequena. A partir do levantamento do Wellcome Trust Monitor, sabemos que menos de 10% dos cidadãos acham que horóscopos são “muito” ou “bastante” científicos. E uma proporção semelhante pensa o mesmo por toda a União Europeia.
No entanto, se perguntarmos às pessoas se elas pensam que astrologia é científica, vemos uma imagem diferente. Em uma pesquisa do Eurobarometer (uma série de pesquisas de opinião pública realizada regularmente em nome da Comissão Europeia) sobre atitudes em relação à ciência e tecnologia, selecionaram aleatoriamente metade dos entrevistados e a eles foram perguntados quão científico que eles pensavam que a astrologia era. A outra metade foi feita a mesma pergunta sobre horóscopos.
Os resultados mostram uma disparidade surpreendente na opinião. Mais de 25% acham que a astrologia é “muito científico” em comparação com apenas 7% para horóscopos.
Em uma pesquisa realizada há alguns anos atrás, foi testada a hipótese de que as pessoas se confundem entre astrologia e astronomia, e é isso que poderia ser responsável por aparente crença generalizada no status científico da astrologia. Até jornais nacionais respeitados têm sido conhecidos por cometer este erro.
A pesquisa também perguntou às pessoas quão científico acreditavam que várias atividades seriam. Uma deles foi a astronomia. Usando uma técnica estatística conhecida como análise de regressão, descobriu-se, após o ajuste para idade, sexo e educação, que as pessoas que estavam particularmente propensos a pensar que a astronomia era muito científico também foram muito propensos a pensar o mesmo sobre astrologia. Isso aponta para a confusão semântica sobre estes termos, entre o público em geral.
No mesmo estudo, eu estava interessado em olhar para outras explicações para o porquê de alguns europeus acharem que a astrologia é científica e outros não. A primeira explicação que eu olhei foi o nível de educação das pessoas e seu conhecimento sobre ciência.
Se a pessoa não tem uma compreensão adequada, pode ser difícil distinguir entre ciência e pseudociência. Ao não levar uma vasta gama de outros fatores em conta, aqueles que têm um diploma universitário e aqueles que obtiveram bons resultados em um questionário sobre conhecimento científico são menos propensos a pensar que a astrologia é científico.
Em acordo com estudos anteriores, mulheres são mais propensas a pensar que a astrologia é científica em relação aos homens, independentemente do seu nível de educação e conhecimento sobre a ciência. Aqueles que acreditam em Deus ou em um “espírito de algum tipo” também são mais propensos a encontrar na astrologia uma atividade cientificamente verídica.
Aceite as coisas como elas são
O resultado mais interessante, no entanto, é baseado em uma ideia proposta a mais de 50 anos atrás pelo sociólogo alemão Theodore Adorno. Em 1952, Adorno realizou um estudo de uma coluna de astrologia do Los Angeles Times. Ele criticou severamente a astrologia, junto ao resto do ocultismo, considerando-a uma “metafísica dos burros”, sugerindo que “um clima de semi-erudição é o terreno fértil para a astrologia”.
O que é particularmente interessante, porém, é a conexão estabelecida entre a astrologia com o autoritarismo, o fascismo e o capitalismo moderno (lembre-se que assim era no rescaldo da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto). Para Adorno, a astrologia enfatizou conformidade e deferência à autoridade superior de algum tipo. Como alguns pesquisadores disseram: “Tome as coisas como elas são, já que você está fadado a elas de qualquer maneira.” Em suma, Adorno acreditava que a “ideologia astrológica” lembra “a mentalidade da personalidade autoritária”.
Pessoas autoritárias tendem a ter obediência cega às crenças convencionais sobre o certo e o errado e têm grande respeito por autoridades reconhecidas. Elas também são as que são mais favoráveis a punir aqueles que não concordam com o pensamento convencional e a serem mais agressivos com aqueles que pensam de forma diferente.
Se esta hipótese estiver correta, então devemos ver que as pessoas que valorizam a conformidade e obediência serão mais propensos a dar crédito às alegações da astrologia. Na pesquisa do Eurobarometer, houve (por acaso) uma pergunta que indagou às pessoas o quão importante eles pensavam que “obediência” era um valor que as crianças deveriam aprender.
Eu usei essa questão como um indicador aproximado de se um entrevistado era mais ou menos autoritário em suas perspectivas. E, mais uma vez, eu usei análise de regressão para ver se havia uma ligação entre as respostas das pessoas a esta questão e o que elas pensavam sobre astrologia. Em concordância com a previsão de Adorno fez em 1953, as pessoas que atribuem grande importância à obediência como um valor (mais autoritário) são realmente mais propensas a pensar que a astrologia é científica. Isto é verdade independentemente da idade das pessoas, da educação, do conhecimento da ciência, sexo e orientações políticas e religiosas.
Assim, por um lado, parece que horóscopos e previsões astrológicas são, para a maioria das pessoas, apenas um pouco de diversão inofensiva. Por outro lado, a tendência de ser crédulo para a astrologia é pelo menos parcialmente explicada pelo que as pessoas sabem sobre a ciência – mas também que tipo de traços de personalidade que eles têm. E esses fatores podem ser úteis na compreensão de crenças sobre toda uma gama de campos pseudocientíficos.