Ultimamente nas redes sociais tenho visto uma enorme quantidade de pessoas exaltando uma fascinação pela famosa Chernobyl. Mas o que faz Chernobyl ser tão famosa?
Chernobyl é uma cidade no norte da Ucrânia, perto da fronteira com a Bielorrússia. Ela possuía um Complexo de Energia Nuclear composto por 4 reatores nucleares RBMK-1000, sendo as unidades 1 e 2 construídas entre 1970 e 1977 e as unidades 3 e 4 terminadas em 1983.
No dia 26 de Abril de 1986 um dos reatores (unidade 4) sofreu problemas técnicos e explodiu liberando uma nuvem radioativa em um raio de aproximadamente 30 km, contaminando toda a região ao redor de Chernobyl. Esse evento ficou conhecido como o pior desastre nuclear do mundo.
Resumidamente, o que aconteceu foi que um dia antes do acidente os operadores da usina estavam preparando um encerramento para uma manutenção de rotina na unidade 4. Uma série de ações dos operadores, incluindo desabilitação de “shutdowns” automáticos, levaram ao colapso da unidade 4. No momento que o operador desligou o reator, ele estava em condições altamente instáveis. Devido à esse encerramento rápido, houve um contato do combustível em alta temperatura com a água de refrigeração levando à formação de vapor de água, que resultou em um aumento de pressão do reator. O aumento da pressão, por sua vez, destacou a placa de metal de 1000 toneladas que cobria o reator e causou uma ruptura nos canais de combustível, gerando uma segunda explosão que liberou a radiação para a atmosfera. Uns dois ou três segundos depois houve uma outra explosão que lançou para fora do reator fragmentos dos canais de combustíveis e grafite altamente quente (há uma divergência entre os especialistas quanto à essa última explosão, mas provavelmente ela teria sido causada pela produção de hidrogênio dentro do reator).
Dessas explosões dois operadores morreram imediatamente. O grafite altamente quente em contato com o combustível produziu o incêndio do local, causando as principais liberações de radioatividade para o ambiente. No total 14 EBq (14000 Bq) de radioatividade foram liberados (unidade “bequerel” – Bq – número de transições nucleares por segundo).
Esse acidente de Chernobyl causou a maior liberação de radioatividade não-controlada de toda a história da humanidade e grandes quantidades de substâncias radioativas foram liberadas no ar nos 10 anos seguintes. Isso causou sérios problemas econômicos e sociais para a população da região da Bielorrússia, Rússia e Ucrânia. Os dois radionúcleos principais que foram liberados nesse evento foram o iodo-131 (tempo-de-meia-vida curto) e o césio-137 (tempo-de-meia-vida longo).
No dia 27 de Abril, a população de Pripyat foi evacuada – 36 horas após o acidente ocorrer. Nesse momento, muitas pessoas já estavam se queixando de dores de cabeça, vômitos e outros sinais de exposição radioativa. O governo da Ucrânia fechou oficialmente uma área de 18 milhas (30 km) ao redor da usina.
Pesquisadores estimam que nos primeiros dias após o acidente o nível de radiação da área ao redor de Chernobyl era de 20,000 milisieverts, que é 4 milhões de vezes a mais que a quantidade de radiação que uma pessoa recebe por dia, ou o mesmo que uma pessoa fizesse 200,000 radiografias do tórax em um dia. Diretamente do acidente 31 pessoas morreram, mas o UNSCEAR (U.S. Nuclear Regulatory Commission) estima que mais de 6,000 casos de câncer na tireóide na região da Bielorrússia, Rússia e Ucrânia podem estar relacionados com a exposição à radiação do acidente, mas esse número é incerto.
Logo após os vazamentos em Chernobyl, as árvores das florestas da região ao redor da usina foram mortas devido às altas doses de radiação. A região ficou conhecida como “Floresta Vermelha” devido à cor vermelho vivo que elas adquiriram. O reator danificado foi selado em um sarcófago de concreto com a intenção de conter a radiação restante. O quão efetivo é esse sarcófago – e o quanto vai continuar ser no futuro – tem sido assunto de intenso debate.
Apesar da contaminação da região, e dos riscos inerentes de se operar um reator com graves falhas no projeto, a usina nuclear de Chernobyl continuou operando por muito anos, até ser desligada em Dezembro de 2000. Em 2011 o governo da Ucrânia abriu a área para a visita de turistas.
Atualmente, a região é conhecida mundialmente por ser um dos santuários selvagens mais únicos do mundo. Foram vistas comunidades de lobos, veados, águias, javalis, ursos, e etc prosperando nas florestas densas ao redor da usina. Apenas alguns efeitos da radiação são vistos hoje em dia, como por exemplo, o crescimento de árvores raquíticas.
Mas isso não significa que a região voltou ao normal ou que vai voltar em um futuro próximo. Devido à radiação de tempo-de-meia-vida longo, a região ao redor da usina de Chernobyl não estará segura para a habitação humana nos próximos 20,000 anos.
Para saber mais acesse:
[1] – http://www.livescience.com/39961-chernobyl.html
[2] – http://www.chernobyl-international.com/about-chernobyl
[3] – http://www.world-nuclear.org/info/Safety-and-Security/Safety-of-Plants/Chernobyl-Accident/
[4] – http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/entenda-os-niveis-de-radiacao
[5] – http://alfaconnection.net/pag_avsf/rad0401.htm
[6] – Drone sobrevoando a cidade de Pripyat: http://youtu.be/EcC54jTnX5I