Traduzido por Julio Batista
Original de Tessa Koumoundouros para o ScienceAlert
Metas ambiciosas destinadas a frear nossa atual extinção em massa já podem estar fora de alcance apenas um ano depois de terem sido estabelecidas, sugere uma nova pesquisa.
Dados sobre aves e mamíferos revelam que há um grande lapso de tempo entre a mudança ambiental e seu impacto nas populações animais, de até 45 anos, dependendo da espécie e dos fatores de mudança.
Isso significa que o histórico ‘pacto de paz com a natureza‘ firmado na Conferência da Biodiversidade das Nações Unidas (COP 15), em dezembro do ano passado, pode já estar desatualizado, pois o tamanho dessa defasagem não foi levado em consideração nas projeções de extinções futuras.
“Há um amplo reconhecimento de que o tempo é curto para as ações integradas e ambiciosas necessárias para impedir a perda de biodiversidade até 2050”, escreveu o zoólogo do Museu de História Natural Richard Cornford e seus colegas. “Este trabalho mostra que o tempo é ainda menor do que se pensava.”
Cornford e seus colegas mostram que os impactos anteriores da perda de habitat e das mudanças climáticas explicam as tendências atuais no tamanho das populações de aves e mamíferos melhor do que os impactos recentes. Suas descobertas indicam que não veremos as consequências gerais das mudanças que implementamos agora por pelo menos uma década na maioria dos casos, e até então testemunharemos os efeitos já previstos do uso da terra no passado e das mudanças climáticas na abundância de espécies.
“Espécies maiores geralmente exibem atrasos ecológicos mais longos do que as menores”, explicaram Cornford e sua equipe. Veremos os impactos de hoje sobre as populações de aves e mamíferos menores em cerca de uma década, mas teremos que esperar ainda mais para que os impactos totais, bons ou ruins, surjam para espécies maiores.
As populações de animais ainda responderão às mudanças ambientais do passado até 2050.
“Mesmo os esforços radicais de restauração da terra podem, portanto, falhar em acabar com o declínio da população até 2030”, concluíram os pesquisadores.
Ainda não está claro como essas defasagens influenciam os diferentes níveis da cadeia alimentar e as diferentes regiões. Cornford e seus colegas pedem pesquisas urgentes para desvendar isso.
As taxas globais de extinção são atualmente dezenas a milhares de vezes maiores do que o esperado sem a interferência humana. Modificamos até 70% de toda a terra, deixando habitats menos produtivos em nosso rastro.
As mudanças climáticas já estão reorganizando a vida em nossos oceanos e só vai piorar.
Este novo estudo revela que devemos olhar ainda mais para o futuro para entender seu impacto total na biodiversidade. As áreas protegidas são um trunfo nos esforços de conservação, especialmente para as aves, e a COP 15 prometeu reservar 30% do planeta para proteção.
“Mesmo que 30% da terra esteja protegida até 2030, serão necessárias intervenções adicionais para mitigar a exploração para proteger adequadamente a biodiversidade e a contribuição da natureza para as pessoas”, alertou a equipe.
A boa notícia é que o manejo ativo das áreas protegidas mitiga as ameaças do uso direto da vida selvagem, como a caça, que é importante para a subsistência de muitas pessoas. Isso pode continuar se os limites sustentáveis forem mantidos, como cotas de caça.
Além do mais, fazer um esforço para gerenciar e restaurar habitats também traz benefícios diretos para a saúde humana, pois ecossistemas saudáveis e funcionais têm menos probabilidade de espalhar doenças para as populações humanas.
Conservar a biodiversidade é uma grande vantagem para nós mesmos, para os ecossistemas mais amplos em que vivemos e para a mitigação das mudanças climáticas. É melhor que nossas ações sejam rápidas e significativas se levarmos a sério salvar o que resta.
Esta pesquisa foi publicada no Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences.