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A ficção científica está influenciando a forma como conduzimos guerras

Traduzido por Julio Batista
Original de Mike Ryder para o The Conversation

De máquinas de combate de alta tecnologia a supercomputadores e robôs assassinos, a ficção científica tem muito a dizer sobre a guerra. Você pode se surpreender ao saber que alguns governos (incluindo o Reino Unido e a França) agora estão voltando sua atenção para essas histórias fantásticas como uma forma de pensar sobre possíveis futuros e tentar afastar quaisquer ameaças potenciais.

Por muitos anos, os escritores de ficção científica fizeram profecias sobre tecnologias futuristas que mais tarde se tornaram realidade. Em 1964, Arthur C. Clarke previu a internet. E em 1983, Isaac Asimov previu que a vida moderna se tornaria impossível sem computadores.

Isso fez com que os governos tomassem nota. A ficção científica não apenas pode nos ajudar a imaginar um futuro moldado por novas tecnologias, mas também pode nos ajudar a aprender lições sobre ameaças potenciais.

Há muitas questões com as quais a ficção científica se envolve, o que sem dúvida alimentará a pesquisa de defesa em relação a guerras e formas de mitigar riscos. Embora nunca possamos prever o futuro completamente, podemos apenas esperar que nossos líderes e formuladores de políticas aprendam as lições aludidas na ficção científica, para que possamos evitar a distopia que algumas obras de ficção científica sugerem.

Aqui estão quatro questões de ficção científica que os governos podem estar considerando.

1. Supersoldados

Os supersoldados são um tema importante na ficção científica e assumem muitas formas. Frequentemente, eles são “super” por causa de sua tecnologia, como em Tropas Estelares (1959) de Robert A. Heinlein e Guerra sem Fim (1974) de Joe Haldeman. No entanto, exemplos mais modernos também exploram como os supersoldados podem ser melhorados bioquimicamente com músculos mais fortes e até órgãos extras.

Esses supersoldados são mais fortes, mais rápidos e mais capazes de vencer a guerra, portanto, sem surpresa, muitas vezes há muitas consequências morais e éticas para seu papel. O computador de batalha em Guerra sem Fim tem o poder de explodir qualquer soldado que não seguir as ordens.

Enquanto isso, no popular jogo em minaturas Warhammer 40.000, guerreiros semelhantes a monges recebem um segundo coração, um terceiro pulmão e uma série de implantes adicionais para ajudá-los a sobreviver no campo de batalha. Conhecidos como Space Marines, eles mudaram tanto que perderam o contato com as mesmas coisas que os tornaram humanos.

2. Drones

As operações com drones desempenham um papel cada vez mais importante na guerra moderna, com os EUA e seus aliados usando drones Predator e Reaper para patrulhar os céus e matar suspeitos de terrorismo à distância. Mais recentemente, vimos exemplos de drones navais sendo usados ​​na guerra na Ucrânia.

Mas, é claro, a ficção científica há muito tempo previu esse tipo de guerra e, no mínimo, é simplesmente uma continuação lógica da informatização da vida cotidiana.

No romance Ender’s Game (1985), de Orson Scott Card, o protagonista infantil Ender Wiggin é levado para a Escola de Batalha, onde participa de uma série de elaborados exercícios militares usando computadores para simular uma guerra contra um inimigo alienígena distante. Somente depois de destruir o mundo natal alienígena, Ender descobre que não estava jogando, mas sim comandando forças do mundo real lutando no espaço sideral.

Em um paper recente, defendo que Ender’s Game antecipa e envolve muitos dos principais debates que estamos tendo nesta área hoje. Isso inclui a forma como os alvos são selecionados e as questões morais e éticas em torno do assassinato remoto. À medida que os drones se tornam mais comuns na vida civil diária, essas questões se tornam mais prementes.

3. Bioengenharia

Além dos drones e tecnologias avançadas de computação, podemos também considerar as ciências biológicas e o papel dos animais usados ​​para apoiar operações humanitárias na guerra.

Em Dogs of War (2017), de Adrian Tchaikovsky, o protagonista é um cão modificado pela bioengenharia – literalmente, um cão de guerra (um mercenário) – que segue ordens sem questionar até que um dia descobre que seus mestres não são exatamente os “mocinhos” que afirmaram ser.

Tal como acontece com muitas das melhores obras de ficção científica, Dogs of War levanta muitas questões éticas e morais sobre a condição humana, incluindo a forma como os humanos exploram os outros e como os animais se encaixam em nossa estrutura moral.

Por exemplo, o caso do mundo real do cachorro Kuno, que salvou a vida de soldados no Afeganistão e foi premiado com o equivalente canino da Cruz Vitória. Se enviamos animais para situações perigosas para apoiar soldados ou procurar sobreviventes de terremotos, precisariam os animais ser modificados pela bioengenharia para reduzir os riscos e torná-los melhores no que fazem?

4. Modificação comportamental

A ficção científica tem muito a dizer sobre drogas e como os produtos químicos podem ser usados ​​para distorcer a realidade e modificar o comportamento. Talvez o autor mais famoso nessa área seja Philip K. Dick, com romances como Os Três Estigmas de Palmer Eldritch (1964), Ubik (1969) e Identidade Perdida – O Homem Que Virou Ninguém (1974) tratando de variações desse tema.

Houve também o filme Serenity – A Luta Pelo Amanhã (2005) (e sua saudosa série de TV, Firefly), em que o capitão Malcolm Reynolds e sua tripulação viajam para o planeta Miranda para descobrir as consequências sombrias das drogas usadas para controlar populações e tornar as pessoas mais complacentes.

Embora esses exemplos possam parecer sinistros, eles não são nada comparados aos experimentos conduzidos pela CIA na vida real.

No final da guerra do Vietnã, surgiram revelações de que a CIA estava conduzindo experimentos humanos ilegais para desenvolver drogas para lavagem cerebral e tortura. Essa operação, conhecida como MK-ULTRA, foi tornada pública em uma audiência no Senado em 1977.

Embora possamos apenas esperar que esses experimentos extremos e horríveis sejam coisa do passado, o conceito de modificação comportamental ainda é importante na pesquisa de defesa, embora talvez não na mesma medida que era em meados do século passado.

De fato, muitos argumentariam que a mídia social é agora um campo de batalha global, com a guerra de informações uma ameaça real à segurança, e países como Rússia e China acusados ​​de realizar campanhas cibernéticas contra o Ocidente.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.