Por David Nield
Publicado na ScienceAlert
Após uma década documentando e observando musaranhos indonésios na ilha de Celebes, pesquisadores publicaram suas descobertas e detalharam 14 novas espécies – a maior descoberta de novos mamíferos listados em um único estudo desde 1931.
Especificamente, estamos falando de 14 novas espécies endêmicas do gênero musaranho Crocidura. Usando dados genéticos e morfológicos coletados em 1.368 espécimes, a equipe foi capaz de identificar um total de 21 espécies de musaranhos em Celebes, incluindo as novas.
Isso coloca a diversidade de musaranhos em Celebes sendo três vezes maior do que em qualquer outra ilha da região, com base nos dados disponíveis – mostrando que as estimativas anteriores, baseadas principalmente em espécimes de museu, estavam bem longe do alvo.
“É uma descoberta empolgante, mas às vezes frustrante”, disse o mamalogista Jake Esselstyn, da Universidade do Estado da Luisiana (LSU, na sigla em inglês). “Normalmente, descobrimos uma nova espécie por vez, e isso é uma grande emoção. Mas, neste caso, foi avassalador porque nos primeiros anos, não conseguimos descobrir quantas espécies havia”.
Com mais de 400 espécies conhecidas, os musaranhos são um grupo diversificado, encontrado em todo o mundo (em todos os lugares, exceto na Austrália e na Antártica). Incomum para os mamíferos, algumas espécies de musaranhos são venenosas e notórias por matar animais de aparência muito mais assustadora, como escorpiões e cobras.
O gênero Crocidura vive na África e na Eurásia, com as ilhas da Indonésia marcando o ponto mais oriental de seus habitats.
Celebes é uma ilha relativamente grande e montanhosa, com cerca de 174.600 quilômetros quadrados, em uma localização tropical e com uma variedade de tipos de habitat que estimulam a biodiversidade. Os pesquisadores dizem que as várias elevações – criando “ilhas” isoladas de montanhas com florestas tropicais em um mar de habitat seco e baixo – provavelmente contribuíram para o grande número de espécies de musaranhos.
O sequenciamento de DNA foi combinado com observações de características físicas, como comprimento da cauda, coloração, comprimento do pelo, tamanho do crânio e assim por diante, para identificar as 14 novas espécies, divididas em cinco categorias: um grupo de cauda longa, um grupo de mãos brancas, um grupo de pequeno porte, um grupo de cauda espessa e um grupo comum.
“A disponibilidade de grandes séries de espécimes com dados genéticos nos permitiu detectar diferenças sutis em características quantitativas e qualitativas que poderiam ter passado despercebidas”, escrevem os pesquisadores em seu estudo publicado.
Para seus registros, as novas espécies são: Crocidura microelongata, C. quasielongata, C. pseudorhoditis, C. australis, C. pallida, C. baletei, C. mediocris, C. parva, C. tenebrosa, C. brevicauda, C. caudicrassa, C. normalis, C. ordinaria e C. solita.
Um “esforço social massivo” é necessário para melhorar a catalogação das espécies em todo o mundo, de acordo com os pesquisadores, com regiões tropicais e remotas como Celebes particularmente difíceis de explorar e estudar.
Compreender as diferenças entre as espécies e descobrir quantas existem é essencial para a precisão de outras investigações científicas – desde o mapeamento da evolução de um animal até a compreensão do desenvolvimento das comunidades animais.
“A taxonomia serve como base para muitas pesquisas biológicas e esforços de conservação”, disse Esselstyn. “Quando não sabemos quantas espécies existem ou onde vivem, nossa capacidade de compreender e preservar a vida é severamente limitada. É essencial que documentemos e nomeamos essa diversidade. Se pudermos fazer descobertas dessas muitas novas espécies em grupos relativamente conhecidos como os mamíferos, imagine como é a diversidade não documentada em organismos menos conspícuos”.
A pesquisa foi publicada no Bulletin of the American Museum of Natural History.