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A maior molécula de álcool encontrada no espaço até agora pode ser a chave para a formação de estrelas

Traduzido por Julio Batista
Original de David Nield para o ScienceAlert

Há álcool no espaço. Não, não são garrafas de vinho descartadas por astronautas descuidados; em vez disso, está na forma molecular microscópica. Agora, pesquisadores acham que descobriram a maior molécula de álcool no espaço, na forma de propanol.

As moléculas de propanol existem em duas formas, ou isômeros, ambas já identificadas em observações: propanol normal, que foi detectado em uma região de formação de estrelas pela primeira vez, e isopropanol (o ingrediente chave no desinfetante para as mãos), que nunca foi visto em forma interestelar antes.

Essas descobertas podem ajudar a esclarecer como os corpos celestes, como cometas e estrelas, são formados.

“A detecção de ambos os isômeros do propanol é excepcionalmente poderosa para a determinação do mecanismo de formação de cada um”, disse o astroquímico Rob Garrod, da Universidade da Virgínia (EUA). “Por se assemelharem tanto, eles se comportam fisicamente de maneiras muito semelhantes, o que significa que as duas moléculas devem estar presentes nos mesmos lugares e nos mesmos momentos”.

“A única questão em aberto são as quantidades exatas que estão presentes – isso torna sua proporção interestelar muito mais precisa do que seria no caso de outros pares de moléculas. Isso também significa que a rede química para a detecção pode ser ajustada com muito mais precisão para determinar os mecanismos pelos quais eles formam.”

Essas moléculas de álcool foram encontradas no que é conhecido como “sala de parto” de estrelas, a gigantesca região de formação de estrelas chamada Sagitário B2 (Sgr B2). A região fica perto do centro da Via Láctea e perto de Sagitário A* (Sgr A*), o buraco negro supermassivo em torno do qual nossa galáxia se firma.

Embora esse tipo de análise molecular do espaço profundo esteja acontecendo há mais de 15 anos, a chegada do telescópio Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) no Chile há 10 anos aumentou o nível de detalhes que os astrônomos podem acessar.

O ALMA oferece uma resolução mais alta e uma maior nível de sensibilidade, permitindo que os pesquisadores identifiquem moléculas que não eram visíveis antes. Ser capaz de separar a frequência de radiação específica emitida por cada molécula em uma parte movimentada do espaço como Sgr B2 é crucial para calcular o que está lá fora.

“Quanto maior a molécula, mais linhas espectrais em diferentes frequências ela produz”, disse o físico Holger Müller, da Universidade de Colônia, na Alemanha. “Em uma fonte como Sgr B2, existem tantas moléculas contribuindo para a radiação observada que seus espectros se sobrepõem e é difícil separar seus vestígios e identificá-las individualmente”.

Graças à maneira como o ALMA pode detectar linhas espectrais muito específicas, bem como o trabalho de laboratório que caracterizou de forma abrangente as assinaturas que os isômeros de propanol emitiriam no espaço, a descoberta foi feita.

Encontrar moléculas que estão intimamente ligadas – como propanol normal e iso-propanol – e medir o quão abundantes são uma em relação à outra, permite aos cientistas observar com mais detalhes as reações químicas que as produziram.

O trabalho continua para descobrir mais moléculas interestelares em Sgr B2 e para entender o tipo de caldeirão químico que leva à formação de estrelas. As moléculas orgânicas de cianeto de isopropilo, N-metilformamida e ureia também foram identificadas pelo ALMA.

“Ainda existem muitas linhas espectrais não identificadas no espectro do ALMA de Sgr B2, o que significa que ainda há muito trabalho a ser feito para decifrar sua composição química”, disse o astrônomo Karl Menten do Instituto Max Planck de Radioastronomia na Alemanha.

“Em um futuro próximo, a expansão da instrumentação do ALMA para frequências mais baixas provavelmente nos ajudará a reduzir ainda mais a confusão espectral e possivelmente permitir a identificação de moléculas orgânicas adicionais nesta fonte espetacular”.

A pesquisa foi publicada em Astronomy & Astrophysics aquiaqui.