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Quase 1.000 espécies de micróbios acabaram de ser descobertas em geleiras tibetanas ‘extremas’

Traduzido por Julio Batista
Original de Jacinta Bowler para o ScienceAlert

Viver como um micróbio no planalto tibetano não é fácil. Temperaturas frias, altos níveis de radiação solar, pouca comida, e você regularmente congela e depois descongela dependendo da época do ano.

Portanto, é um pouco surpreendente que nessas ‘condições ambientais extremas’ cientistas tenham descoberto 968 espécies com uma gama extremamente diversificada de micróbios. A descoberta é cortesia do primeiro catálogo de genoma dedicado do ecossistema glaciar.

“As superfícies das geleiras suportam uma gama diversificada de vida, incluindo bactérias, algas, arqueias, fungos e outros microeucariotos. Os microrganismos demonstraram a capacidade de se adaptar a essas condições extremas e contribuir para processos ecológicos vitais”, escreve a equipe em seu novo paper sobre o estudo.

“O gelo da geleira também pode atuar como um registro de microorganismos do passado, com antigos (mais de 10.000 anos) microorganismos transportados pelo ar sendo revividos com sucesso. Portanto, o microbioma glacial também constitui uma cronologia inestimável da vida microbiana em nosso planeta.”

Os pesquisadores se concentraram em um grupo específico de geleiras – o planalto tibetano. Esta região de 2,5 milhões de quilômetros quadrados é uma importante fonte de água para as áreas vizinhas da Ásia e foi particularmente afetada pelas mudanças climáticas, com mais de 80% das geleiras começando a recuar.

Não só é importante para nós saber quais micróbios estão nas geleiras (pelo fato de poderem um problema para os humanos e o ecossistema à medida que o gelo derrete), mas se não observarmos quais espécies estão lá atualmente, as mudanças climáticas podem em breve torná-los perdidos para a história.

“Aqui apresentamos o primeiro, até onde sabemos, catálogo de genomas e genes dedicado a ecossistemas de geleiras, compreendendo 3.241 genomas e metagenomas a partir da associação de genomas e 25 milhões de proteínas não redundantes de 85 metagenomas de geleiras tibetanas e 883 genomas cultivados de forma isolada”, escreveu a equipe, liderada pelo ecologista da Universidade de Lanzhou, Yongqin Liu, em seu paper.

Os pesquisadores realizaram um esforço gigantesco, amostrando neve, gelo e poeira de 21 geleiras tibetanas entre 2016 e 2020. Eles usaram métodos metagenômicos nas amostras para coletar todo o material genético presente e também cultivaram alguns dos micróbios em um laboratório para descobrir mais sobre eles e recuperar uma proporção maior de seu genoma.

Curiosamente, 82% dos genomas eram de espécies novas. Uma porcentagem colossal de 11% das espécies foram encontradas apenas em uma geleira, enquanto 10% estavam localizadas em quase todas as geleiras estudadas.

O projeto se tornou o que os pesquisadores estão chamando de catálogo ‘Genoma e Genes da Geleira Tibetana’ (TG2G, na sigla em inglês), e esperamos que isso seja útil para pesquisadores no futuro, com novas adições à medida que mais espécies forem encontradas.

“O catálogo TG2G oferece um banco de dados e uma plataforma para arquivamento, análise e comparação de microbiomas de geleiras nos níveis de genoma e gene”, escreveu a equipe.

“Prevemos que o catálogo formará a base de um repositório global abrangente para dados de microbioma glacial”.

A pesquisa foi publicada na Nature Biotechnology.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.