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A mais antiga ‘receita’ conhecida de mumificação foi descoberta

Por David Nield
Publicado na ScienceAlert

Embora possamos aprender muito sobre a mumificação a partir de antigos exemplos da prática, ainda restam dúvidas sobre como exatamente os egípcios prepararam seus mortos para a vida após a morte.

Em uma descoberta incrível, os pesquisadores descobriram um manual original de ‘como mumificar’, escondido dentro de um texto antigo, que explica as etapas cruciais para embalsamar e criar uma múmia.

O guia para a mumificação foi encontrado em um pedaço de papiro de 3.500 anos chamado de Papiro do Louvre-Carlsberg, assim chamado porque metade dele, contendo principalmente informações médicas, está no Museu do Louvre em Paris e a outra metade faz parte da Coleção Papyrus Carlsberg da Universidade de Copenhague, na Dinamarca.

Antes que esse novo texto fosse descoberto, os especialistas tinham apenas dois textos originais sobre mumificação. O processo era considerado uma arte sagrada no antigo Egito, com apenas poucos especialistas instruídos nos métodos de embalsamamento, e o conhecimento geralmente era passado verbalmente de pessoa para pessoa.

O processo de cobertura facial revelado na nova pesquisa. Crédito: Ida Christensen.

“O texto parece ter sido escrito pra ser um auxilio à memória, então os leitores a qual o texto era direcionado devem ter sido especialistas que precisavam ser lembrados desses detalhes, como receitas de unguentos e uso de vários tipos de bandagens”, disse a egiptóloga Sofie Schiødt, da Universidade de Copenhagen.

Schiødt publicou detalhes sobre o texto em sua tese de doutorado, e o papiro completo do Louvre será publicado no próximo ano.

Seção do papiro. Créditos: Coleção Papyrus Carlsberg da Universidade de Copenhagen.

Entre os detalhes que Schiødt extraiu do documento está uma lista de instruções para embalsamar o rosto da pessoa falecida, o que era feito com um pedaço de linho vermelho coberto com uma solução especial à base de plantas.

A solução incluía substâncias aromáticas, bem como aglutinantes para manter a mistura, e o pano saturado tinha o objetivo de manter o rosto protegido de insetos e bactérias, ao mesmo tempo que tinha um cheiro doce. Este processo não foi documentado antes, mas corresponde a alguns dos restos mumificados que foram encontrados.

Este manuscrito também apresenta o cronograma completo de 70 dias para o embalsamamento, dividido em duas metades: um período de secagem de 35 dias e um período de invólucro de 35 dias, que eram divididos em intervalos de quatro dias. Os tratamentos comuns ao corpo incluíam a aplicação de uma mistura chamada natrão, após a remoção dos órgãos e do cérebro, embora o uso de natrão não tenha sido mencionado neste texto específico, explica Schiødt.

“Uma procissão ritual da múmia marcava esses dias, celebrando o progresso da restauração da integridade corporal do falecido, totalizando 17 procissões ao longo do período de embalsamamento”, disse Schiødt.

“Entre os intervalos de quatro dias, o corpo era coberto com um pano e com palha infundida com aromáticos para afastar os insetos e necrófagos”.

Esta é a primeira vez que metade do manuscrito da Coleção Papyrus Carlsberg foi analisada e traduzida, e ela se soma às outras traduções da seção do Museu do Louvre que abrangem informações sobre fitoterapia e edemas cutâneos.

Com cerca de seis metros de comprimento, o papiro é agora uma fonte ainda mais importante de doenças e saúde no antigo Egito – incluindo as doenças que se acreditava serem a obra de quais deuses, e como poderiam ser combatidas.

O Papiro do Louvre-Carlsberg é mais antigo do que os dois manuais de mumificação que foram previamente descobertos e, portanto, torna-se o registro mais antigo da prática que temos agora. Também inclui detalhes que faltam nos outros dois documentos.

“Muitas descrições de técnicas de embalsamamento que encontramos neste papiro foram deixadas de fora dos dois manuais posteriores e as descrições são extremamente detalhadas”, disse Schiødt.

A pesquisa não foi publicada em um periódico revisado por pares, mas constitui a base da tese de doutorado escrita por Schiødt.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.