Por Tom Metcalfe
Publicado na Live Science
A obra de arte mais antiga da Grã-Bretanha foi descoberta na Ilha Jersey, que compõe as Ilhas do Canal, mostrando o que parecem representar cenas da Idade do Gelo de mamutes em terras antigas agora submersas pelo mar.
Acredita-se que os desenhos tenham pelo menos 15 mil anos. Naquela época, uma vasta ponte de terra – agora conhecida como Doggerland – conectava as Ilhas Britânicas ao continente europeu.
Os desenhos parecem mostrar mamutes, um animal bovino como um bisão ou um boi e um cavalo – todos presas para caçadores humanos da época – além de padrões abstratos. Muitos deles são sobrepostos um em cima do outro.
As imagens estão gravadas em 10 fragmentos de pedra lisa, conhecidos como plaquetes, descobertos em Les Varines, no sudeste de Jersey, entre 2014 e 2018.
O anúncio das descobertas e as novas pesquisas sobre suas origens foi publicado em 19 de agosto na revista PLOS ONE.
O diretor das escavações, o geoarqueólogo Ed Blinkhorn, da Colégio Universitário de Londres, disse que o local foi descoberto depois que fragmentos de sílex (um tipo de rocha sedimentar silicatada) foram trazidos por um fazendeiro que lavrava nas proximidades.
Sílex não é local da ilha Jersey, então os arqueólogos sabiam que o material deve ter sido trazido de outro lugar, disse ele.
“Nós rastreamos esse movimento de material até sua origem – uma grande extensão de terra intacta entre uma antiga roca no mar [uma formação rochosa costeira] e um penhasco de granito enterrado”, disse Blinkhorn ao Live Science.
Suas escavações revelaram vários poços, vestígios de ocre (um mineral pigmentado frequentemente usado por povos pré-históricos para rituais e pinturas corporais), grandes lajes de granito e várias lareiras para fogueiras, todas protegidas por uma camada de lodo e argila, disse ele.
Obras de arte antigas
A maioria das placas de pedra foram encontradas perto de uma das lareiras, e três foram encontradas sob uma laje de granito próxima.
Plaquetas gravadas com desenhos também foram encontradas em Portugal, Espanha, França, sul da Alemanha e Bélgica; e são atribuídos aos Magdalenianos, uma cultura primitiva de caçadores-coletores que viveu entre 23.000 e 14.000 anos atrás.
“Esses fragmentos de pedra gravada fornecem evidências emocionantes e raras de expressão artística no que era o limite mais distante do mundo dos Magdalenianos”, disse a coautora do estudo Chantal Connoller, arqueóloga da Universidade de Newcastle, na Inglaterra, em um comunicado.
Ferramentas de pedra foram usadas para riscar linhas finas nas placas, e elas parecem ter sido feitas pela mesma pessoa em uma sucessão curta, disse Connoller.
Os desenhos abstratos usam uma combinação de linhas retas e incisões curvas mais longas.
Um dos desenhos mostra o corpo do que pode ser um bisão ou boi, e por cima deste tem um de um corpo maior e as presas de um mamute. Um outro desenho sobreposto consiste em linhas aproximadamente circulares que podem representar um rosto humano.
Mas os desenhos teriam desbotado rapidamente – a incisão das pedras criou um pó entre as linhas que só ficaria visível por um curto período de tempo depois de feitas, disse Connoller. “O ato ou momento de fazer a gravura era mais significativo do que o próprio objeto gravado”.
Terras submersas
A ilha Jersey, com apenas 14 quilômetros de largura, é pequena demais para suportar animais de grande porte, portanto, quaisquer mamutes ou rebanhos de bisões e cavalos deviam estar em uma terra hoje submersa pela água.
A ponte de terra Doggerland que antes conectava as Ilhas Britânicas ao continente europeu, ficou submersa após o aumento do nível do mar após o fim da última Idade do Gelo, cerca de 8.000 anos atrás.
A região era quente e seca, no entanto, por milhares de anos antes disso, e os cientistas acham que a terra era coberta por florestas e densamente povoada por animais, incluindo pequenos grupos de humanos primitivos.
Vários ossos humanos antigos e artefatos da Idade da Pedra foram dragados ou pescados nas terras submersas, especialmente na área rasa do Canal da Mancha conhecida como Dogger Bank, que dá o nome à região.
Os pesquisadores acham que o local em Les Varines foi um acampamento temporário usado por um grupo Magdaleniano que viveu lá apenas enquanto haviam boas condições climáticas e de caça.
Mas a decoração bem pensada dos fragmentos de pedra sugere assentamentos mais permanentes, disse Conneller.
“As pedras gravadas são seguramente arte doméstica”, disse ela. “As pessoas em Les Varines provavelmente foram colonizadores pioneiros na região, e criar objetos gravados em novos assentamentos pode ter sido uma forma de criar relações simbólicas com novos lugares”.