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A Via Láctea pode ter perdido recentemente um monte de galáxias satélites

Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert

O espaço ao redor da Via Láctea não está vazio. Está recheado de galáxias anãs – pequenas, escuras de baixa massa, com apenas cerca de 1.000 estrelas cada.

Isso não é incomum. Sabemos, por meio de nossas observações de outras grandes galáxias, que as galáxias anãs frequentemente se reúnem nas proximidades e podem ser capturadas no campo gravitacional do objeto maior.

Os astrônomos identificaram até agora quase 60 galáxias menores dentro de 1,4 milhão de anos-luz da Via Láctea, embora seja provável que haja muito mais se escondendo no escuro. A maioria parece que está por aí, como moscas de fruta em volta de uma banana.

De acordo com uma nova análise de dados do satélite Gaia, no entanto, a maioria dessas galáxias é relativamente nova na área – muito nova para orbitar a Via Láctea, pelo menos não ainda, pensa um grupo de pesquisadores.

“Concluímos que, devido às suas altas energias e momentos angulares inigualáveis, as anãs não podem ser satélites de longa vida e, se pudessem ser ligadas à Via Láctea, estariam na primeira passagem, ou seja, estando há menos de 2 bilhões de anos”, pesquisadores escrevem em um novo estudo liderado pelo astrofísico François Hammer, do Observatório de Paris, na França.

Galáxias anãs no espaço ao redor da Via Láctea. Créditos: ESA / Gaia / DPAC.

A missão Gaia é um projeto em andamento para mapear a Via Láctea com a maior precisão até então, incluindo as posições tridimensionais, movimentos e velocidades das estrelas e objetos nela (e um pouco fora dela).

Usando medições dessas propriedades, Hammer e seus colegas usaram dados das três primeiras operações de Gaia para calcular os movimentos de 40 galáxias anãs fora da Via Láctea. Em seguida, eles usaram parâmetros como a velocidade tridimensional de cada galáxia para calcular sua energia orbital e momento angular.

Os resultados foram realmente intrigantes – porque mostraram que diversas galáxias anãs presumidas como satélites da Via Láctea se movem muito mais rapidamente do que objetos conhecidos por estarem em órbita ao redor da Via Láctea, como estrelas de Gaia-Encélado e a galáxia anã elíptica de Sagitário.

A Via Láctea repetidamente canibalizou outras galáxias ao longo de sua longa história. Gaia-Encélado, também conhecido como a Salsicha de Gaia, foi consumida há cerca de 9 bilhões de anos. Seus vestígios permanecem em uma população de estrelas orbitando a energias relativamente baixas.

A galáxia anã elíptica de Sagitário está atualmente sendo perturbada pelas forças das marés (gravitacionais) e incorporada à Via Láctea, um processo que começou por volta de 4 a 5 bilhões de anos atrás. Essas estrelas estão girando um pouco mais rápido do que as estrelas de Gaia-Encélado.

As galáxias anãs estão se movendo ainda mais energeticamente. Isso, conclui a equipe, significa que essas galáxias anãs não podem ter ficado próximas da Via Láctea por tempo suficiente para que o campo gravitacional da grande galáxia as tenha desacelerado.

Esta descoberta pode alterar nossa compreensão das interações entre galáxias normais e galáxias anãs, e as propriedades das galáxias anãs, disseram os pesquisadores.

Também é importante notar que os resultados dos pesquisadores não são diferentes de um estudo de 2006 que descobriu que as velocidades das Grandes e Pequenas Nuvens de Magalhães eram muito maiores do que se pensava, com base nos dados do Hubble, sugerindo que não eram satélites da Via Láctea. Essa noção parece ter sido abandonada por pelo menos alguns dos pesquisadores.

No entanto, há muito que não sabemos sobre os objetos dentro e ao redor da Via Láctea, e não há absolutamente nenhuma dúvida de que Gaia está mudando nossa compreensão da nossa vizinhança do Universo.

“Graças em grande parte a Gaia, agora é óbvio que a história da Via Láctea é muito mais rica do que os astrônomos haviam entendido anteriormente”, disse o astrofísico Timo Prusti da Agência Espacial Europeia. “Ao investigar essas evidências tentadoras, esperamos desvendar ainda mais os capítulos fascinantes do passado de nossa galáxia”.

A pesquisa foi publicada no The Astrophysical Journal.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.