Traduzido por Julio Batista
Original de Ben Turner para a Live Science
A vida microbiana antiga em Marte poderia ter destruído a atmosfera do planeta através das mudanças climáticas, o que acabou levando à sua extinção, sugere uma nova pesquisa.
A nova teoria vem de um estudo de modelagem climática que simulou micróbios consumidores de hidrogênio e produtores de metano vivendo em Marte há cerca de 3,7 bilhões de anos. Na época, as condições atmosféricas eram semelhantes às que existiam na Terra antiga durante o mesmo período.
Mas, em vez de criar um ambiente que os ajudaria a prosperar e evoluir, como aconteceu na Terra, os micróbios marcianos podem ter se condenado assim que surgiram, de acordo com o estudo publicado em 10 de outubro na revista Nature Astronomy.
O modelo sugere que a razão pela qual a vida prosperou na Terra e foi condenada em Marte é por causa das composições gasosas dos dois planetas e suas distâncias relativas do Sol. Estando mais distante de nossa estrela do que a Terra, Marte dependia mais de uma névoa potente de gases de efeito estufa, como dióxido de carbono e hidrogênio, para manter temperaturas hospitaleiras para a vida
Assim, à medida que os antigos micróbios marcianos comiam hidrogênio (um potente gás de efeito estufa) e produziam metano (um gás de efeito estufa significativo na Terra, mas menos potente que o hidrogênio), eles lentamente comeram o cobertor de retenção de calor de seu planeta, eventualmente tornando Marte tão frio que não poderia mais desenvolver vida complexa.
À medida que as temperaturas da superfície marciana caíram de uma faixa tolerável entre 10 a 20 graus Celsius para penosos menos menos 57° C, os micróbios fugiram cada vez mais fundo na crosta mais quente do planeta – cavando mais de 1 quilômetro de profundidade apenas algumas centenas de milhões de anos após o evento de resfriamento.
Para encontrar evidências para sua teoria, os pesquisadores querem descobrir se algum desses micróbios antigos sobreviveu. Traços de metano foram detectados na atmosfera esparsa de Marte por satélites, bem como na forma de ‘gases de bioassinatura alienígenas‘ detectados pelo rover Curiosity da NASA, o que pode ser uma evidência de que os micróbios ainda existem.
Os cientistas acreditam que suas descobertas sugerem que a vida pode não ser inatamente autossustentável em todos os ambientes propícios em que surge, e que pode facilmente se extinguir destruindo acidentalmente as bases de sua própria existência.
“Os ingredientes da vida estão em toda parte no Universo”, disse o autor principal do estudo Boris Sauterey, astrobiólogo do Instituto de Biologia da École Normale Supérieure (ENS) em Paris, França, ao Space.com.
“Portanto, é possível que a vida apareça regularmente no Universo. Mas a incapacidade da vida de manter condições habitáveis na superfície do planeta faz com que se extinga muito rapidamente. Nosso experimento leva ainda um passo adiante, pois mostra que mesmo uma biosfera muito primitiva pode ter um efeito completamente autodestrutivo.”