Por David Ramey
Publicado na Science-Based Medicine
Periodicamente, vemos artigos em jornais exaltando as virtudes da acupuntura em animais. Para quem está familiarizado com a prática da acupuntura, as frases de efeitos são nauseantemente familiares, por exemplo, a alegação de que a acupuntura existe há milhares de anos e trabalha para estimular as energias naturais dos animais, etc. Além dos testemunhos pessoais: Fluffy não tinha sido ajudado por mais nada, mas agora, após alguns meses de tratamento (e bastante tempo perdido), o Fluffy está correndo feliz. Alguns podem até levar esse testemunho adiante ao afirmar, por exemplo, com alguma lógica bastante tortuosa que, como a acupuntura “funciona” em animais e os animais não são considerados suscetíveis aos efeitos placebo, a acupuntura deve, portanto, funcionar nas pessoas.
De fato, além dos depoimentos, não há realmente nenhuma boa evidência de que a acupuntura funcione em animais. Na verdade, a acupuntura não é muito praticada em medicina veterinária – uma minoria distinta (mas muito falada) de veterinários pode praticá-la. A revisão mais recente sobre o manejo da artrite canina concluiu: “Havia pouca ou nenhuma evidência em apoio ao uso de várias modalidades, incluindo acupuntura eletroestimulada e acupuntura com fio de ouro”,¹ e um estudo recente de eletroacupuntura para dor pós-operatória após cirurgia nas costas em cães concluiu que havia “evidência inequívoca” de um efeito, embora não houvesse diferença nos analgésicos utilizados entre os grupos de tratamento e controle.
Então, o que está acontecendo com os artigos de jornais? A maioria das pessoas com espírito científico está familiarizada com os problemas que envolvem evidências de depoimentos, então há poucas razões para repeti-las aqui. Contudo, eu não acho que a maioria das pessoas – e especialmente os repórteres de jornais – tenha alguma ideia das distorções, meias-verdades e mentiras que foram avançadas em apoio à acupuntura animal.
Em primeiro lugar, a acupuntura não é utilizada em animais há milhares de anos; pelo menos, ao definir a acupuntura como uma prática envolvendo o uso de agulhas finas em pontos específicos. Isso não quer dizer que os chineses não colocaram coisas em pontos do corpo do animal; eles certamente colocaram, assim como quase todas as outras culturas antigas das quais existem registros. Contudo, essas intervenções eram sangria e cauterização, e se alguém incluiu lancetas para causar sangramento como acupuntura, mesmo a própria acupuntura sendo uma prática antiga, ela não começou na China e não envolveu “qi” e todas as outras armadilhas metafísicas da prática. De fato, não há absolutamente nenhuma evidência histórica de quaisquer pessoas – incluindo os chineses – utilizando agulhas finas para tratar animais até o século XX.
Também não foi demonstrado que os pontos de acupuntura existem em animais (ou pessoas). Na verdade, as tabelas de acupuntura criadas para os animais são invenções do século XX, feitas pela “transposição” de uma das inúmeras tabelas humanas diretamente para os animais. Essa é uma das razões pelas quais os cavalos têm um meridiano de “vesícula biliar” (canais putativos que conectam pontos de acupuntura, que também não foram demonstrados que existem), mesmo que eles não tenham uma vesícula biliar. Contudo, quando trata-se de acupuntura animal, aparentemente não há absurdo suficientemente grande para causar constrangimento aos praticantes.
Embora não tão extensivamente como na medicina humana, a acupuntura tem sido estudada em animais. Examinando os resultados, ocasionalmente é possível encontrar estudos positivos, especialmente se os estudos foram mal executados. Houve duas revisões sobre acupuntura veterinária. Uma, analisando as evidências em todas as espécies de animais, concluiu que não havia evidências convincentes suficientes para apoiar ou refutar a prática³; a outra, em cavalos, concluiu que não havia boas evidências para apoiar a prática e que os melhores estudos eram uniformemente negativos.⁴
Apesar de não ter surgido nenhuma boa evidência para apoiar a prática da acupuntura animal nas várias décadas em que foi proposta (coincidindo, aproximadamente, com o surgimento do interesse na medicina humana no início dos anos 70), existem empreendimentos com fins lucrativos que “certificam” os veterinários para praticar acupuntura, como o “Chi Institute”, na Flórida, ou a Sociedade Internacional de Acupuntura Veterinária. Nenhuma das certificações oferecidas por essas organizações é reconhecida pelo Conselho de Especialidades da Associação Americana de Medicina Veterinária, presumivelmente porque esse reconhecimento depende da capacidade de demonstrar um corpo de apoio científico.
A acupuntura veterinária é um triunfo do estilo sobre a substância. Felizmente, a maioria dos veterinários não aderiu à prática de oferecer agulhas desnecessárias aos animais, apesar de aparentemente haver pessoas ansiosas por essas “opções”. Contudo, quando você ler o próximo artigo exaltando as virtudes da prática, lembre-se que você está lendo um nível de jornalismo proporcional ao que é visto nas páginas de entretenimento, informações que nada têm a ver com a boa ciência.
Referências
- Sanderson RO, Beata C, Flipo RM, Genevois JP, Macias C, Tacke S, Vezzoni A, Innes JF. Systematic Review of the Management of Canine Arthritis. Vet Rec. 2009 Apr 4;164(14):418-24.
- Laim A, Jaggy A, Forterre F, et al. Effects of adjunct electroacupuncture on severity of postoperative pain in dogs undergoing hemilaminectomy because of acute thoracolumbar intervertebral disk disease. J Am Vet Med Assoc, 2009; 234(9): 1141-6.
- Habacher, G, Pittler, MH, Ernst, E. Effectiveness of acupuncture in veterinary medicine: systematic review. J Vet Intern Med 2006; 20(3):480-8.
- Ramey, DW, Lee, M and Messer, NT. “A Review of the Western Veterinary Literature on Equine Acupuncture.” J Eq Vet Sci, 2001; 21(2): 56 – 60.