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Arqueólogo identifica um sistema de marcação do tempo perdido nas pedras do Stonehenge

Por David Nield
Publicado na ScienceAlert

Colocamos calendários na parede ou os temos baixado em nossos smartphones, mas as pessoas do terceiro milênio a.C. usavam rochas gigantes, sugere uma nova pesquisa.

Um novo estudo explica como Stonehenge pode ter sido originalmente usado para acompanhar um ano solar (também conhecido como ano trópico) de 365 dias e quatro trimestres, que há muito tempo tem sido sugerido por pesquisadores, mas nunca totalmente compreendido.

As novas descobertas são baseadas em uma análise cuidadosa do número e do posicionamento das pedras que compõem o local, bem como em comparações com outros sistemas de calendários antigos que podem ter influenciado os construtores do Stonehenge.

As análises do Stonehenge como forma de marcar o tempo e as estações remontam a séculos, mas até agora não estava claro exatamente como isso poderia ter funcionado.

A nova pesquisa foi construída com base em um estudo anterior, revelando que as pedras sarsen que compõem a maior parte de Stonehenge vieram todas da mesma fonte. Isso significa que elas provavelmente foram colocadas ao mesmo tempo e provavelmente pretendiam servir juntas ao mesmo propósito.

A partir desse ponto de partida, o arqueólogo Timothy Darvill, da Universidade de Bournemouth, no Reino Unido, passou a analisar o posicionamento dos diferentes círculos que compõem o monumento e como eles podem estar relacionados a um calendário.

Os arqueólogos suspeitam há muito tempo que Stonehenge era uma espécie de calendário, devido ao posicionamento das pedras e seu alinhamento com os solstícios, e a nova pesquisa adiciona peso à interpretação.

“O calendário proposto funciona de uma forma muito simples”, disse Darvill. “Cada uma das 30 pedras do Círculo de Sarsen representa um dia dentro de um mês, ele próprio dividido em três semanas de 10 dias cada. O mês intercalar, provavelmente dedicado às divindades do local, é representado pelos cinco trílitos no centro do local. As quatro Pedras da Estação fora do Círculo de Sarsen fornecem marcadores para ajustar até um dia bissexto”.

Ao servir como um calendário solar, os solstícios de inverno e verão podiam ser vistos através dos mesmos pares de pedras a cada ano.

Isso teria agido como uma maneira de verificar erros ao marcar o tempo, sugere Darvill. Se o Sol estivesse no lugar errado nos solstícios, então o povo antigo de Wiltshire saberia que havia errado em algum lugar no cálculo do ano.

Nenhum dos arranjos dentro de Stonehenge parece corresponder aos 12 meses que compõem um ano, observa o novo estudo, mas é possível que algumas das pedras perdidas ou movidas no local tenham sido responsáveis ​​por marcá-los. O que está claro é que a arquitetura de Stonehenge foi dividida em duas metades para combinar com os dois solstícios.

Semanas com duração de 10 dias podem parecer incomuns agora, mas não seriam na época em que Stonehenge foi construído. Calendários solares semelhantes foram registrados no Egito, durante um período conhecido como Império Antigo, e semanas de 10 dias também foram encontradas em outras regiões.

“Esse calendário solar foi desenvolvido no Mediterrâneo oriental nos séculos após 3000 a.C. e foi adotado no Egito como o calendário civil por volta de 2700 a.C., e foi amplamente utilizado no início do Império Antigo por volta de 2600 a.C.”, disse Darvill.

O que não está claro é se esse conhecimento poderia ter chegado ao sul da Inglaterra na época. Stonehenge é, afinal, bastante único em seu design e construção, e pode ter sido desenvolvido inteiramente pela população local.

Darvill aponta para uma figura histórica conhecida como o Arqueiro de Amesbury – nascido nos Alpes, mas que depois se estabeleceu na Grã-Bretanha e foi enterrado perto de Stonehenge – como evidência de que os viajantes podem ter trazido ensinamentos sobre os segredos do design do calendário solar da região do Mediterrâneo.

Algumas dessas perguntas podem ser respondidas por futuras análises de artefatos e de DNA, sugere a pesquisa. Por enquanto, o reconhecimento de Stonehenge como um calendário totalmente funcional nos dá uma ideia melhor de como as pessoas da época viviam e faziam cerimônias.

“Encontrar um calendário solar representado na arquitetura de Stonehenge abre uma nova maneira de ver o monumento como um lugar para os vivos”, disse Darvill. “Um lugar onde o tempo das cerimônias e festivais estava conectado ao próprio tecido do Universo e aos movimentos celestes”.

A pesquisa foi publicada na Antiquity.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.