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Arqueólogos são forçados a enterrar uma descoberta incomum feita na antiga capital asteca

Por Peter Dockrill
Publicado na ScienceAlert

Em uma estranha reviravolta nos acontecimentos, pesquisadores no México anunciaram que planejam reconstruir um monumento arqueológico incomum encontrado nos arredores da Cidade do México – encobrindo uma importante descoberta histórica até algum momento desconhecido no futuro.

A descoberta em questão é um túnel construído há séculos como parte do Albarradón de Ecatepec: um sistema de controle de enchentes de diques e vias navegáveis ​​construído para proteger a cidade histórica de Tenochtitlán da subida das águas.

Tenochtitlán, amplamente vista como a capital do Império Asteca, apresentava vários sistemas de represas para evitar inundações por chuvas torrenciais, mas os conquistadores espanhóis falharam a princípio em apreciar a engenhosidade dessa infraestrutura nativa, destruindo muitas das construções pré-hispânicas nos primeiros anos da colonização espanhola.

O túnel. Créditos: INAH TV / YouTube.

No entanto, depois que inúmeras inundações marcaram o início da Cidade do México colonial, o Albarradón de Ecatepec e outros sistemas de controle de inundações semelhantes foram construídos ou reparados no início do século XVIII.

Séculos depois, arqueólogos do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) descobriram um desses vestígios dentro do Albarradón de Ecatepec, encontrando em 2019 um túnel que preservava uma síntese única das culturas que o criaram.

Este pequeno túnel-portão mede apenas 8,4 metros de comprimento, representando apenas uma pequena parte do colossal monumento Albarradón de Ecatepec, que no total se estendia por 4 quilômetros, construído por milhares de trabalhadores nativos.

Mas, embora fosse pequeno, ainda era uma descoberta importante (e incomum), com os pesquisadores encontrando vários glifos pré-hispânicos exibidos na estrutura.

No total, 11 símbolos foram descobertos – incluindo representações de um escudo de guerra, a cabeça de uma ave de rapina e gotas de chuva, entre outros.

Pensa-se que os símbolos podem ter sido construídos no túnel por residentes não hispânicos das cidades de Ecatepec e Chiconautla, que ajudaram a construir o Albarradón de Ecatepec.

Glifos no túnel. Créditos: INAH TV / YouTube.

Embora o dique apresentasse iconografia pré-hispânica, sua arquitetura geral sugeria que os espanhóis eram os responsáveis ​​pelo projeto.

“Um dos objetivos do nosso projeto foi conhecer o sistema de construção da estrada, o que nos permitiu comprovar que não possui métodos pré-hispânicos, mas sim arcos semicirculares e aduelas de andesita, argamassas de cal e areia, e um piso sobre a parte superior, com linhas-mestra de pedra e silhar”, explicaram pesquisadores em 2019. “Tudo é influência romana e espanhola”.

Pretendia-se que a descoberta fosse exposta ao público para que as pessoas pudessem visitar e inspecionar esta fusão inusitada e centenária de elementos culturais astecas e espanhóis, mas infelizmente não será.

Pesquisadores do INAH anunciaram agora que, devido à falta de fundos para construir adequadamente a exposição e proteger a notável estrutura, a seção do túnel recém-descoberta agora terá que ser coberta mais uma vez – com o túnel a ser enterrado novamente para que não ser danificado, vandalizado ou saqueado.

De acordo com os pesquisadores, a decisão se deve em grande parte aos contínuos impactos econômicos da crise da COVID-19 no México, que já custou mais de 237.000 vidas.

Os pesquisadores dizem que construirão alvenaria especial para proteger os glifos e, em seguida, recuperarão o local cuidadosamente escavado na terra.

Não é todo dia que os arqueólogos precisam “recobrir” os tesouros culturais revelados no solo. Esperamos que não demore muito para que esta seção do Albarradón de Ecatepec veja a luz do dia mais uma vez.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.