Por George Dvorsky
Publicado no Io9
O cérebro humano é capaz de realizar 10¹⁶ processos por segundo, o que torna-o muito mais poderoso do que qualquer computador existente. Mas isso não significa que nossos cérebros não têm grandes limitações. Uma simples calculadora pode fazer cálculos matemáticos milhares de vezes mais rápido que nós, e nossas memórias são muitas vezes praticamente inúteis – além disso, estamos sujeitos a tomar tendências cognitivas, que são irritantes falhas em nosso pensamento, as quais nos levam a tomar decisões questionáveis e chegar a conclusões errôneas. Citaremos uma dúzia das tendências cognitivas mais comuns e malignas que você precisa conhecer.
Antes de começar, é importante distinguir entre tendências cognitivas e falácias lógicas. A falácia lógica é um erro na argumentação lógica (por exemplo, ataques ad hominem, ladeiras escorregadias, argumentos circulares, apelo à força, etc.). Uma tendência cognitiva, por outro lado, é uma verdadeira deficiência ou limitação em nosso pensamento – uma falha no julgamento que decorre de erros de memória, atribuição social e erros de cálculo (como erros estatísticos ou uma falsa sensação de probabilidade).
Alguns psicólogos sociais acreditam que nossas tendências cognitivas podem nos ajudar a processar informações de forma mais eficiente, especialmente em situações perigosas. Ainda assim, elas nos levam a cometer graves erros. Podemos estar propensos a tais erros de julgamento, mas pelo menos podemos estar ciente deles. Aqui estão alguns dos mais importantes a ter em mente.
Tendência à confirmação
Nós adoramos concordar com pessoas que concordam conosco. É por isso que só visitamos sites que expressam nossas opiniões políticas, e por isso que na maior parte do tempo optamos por conviver com pessoas que sustentam pontos de vista e gostos semelhantes. Nós tendemos a nos esquivar aos indivíduos, grupos e fontes de notícias que nos fazem sentir desconfortáveis ou inseguros sobre nossos pontos de vista – o que o psicólogo comportamental Leon Festinger chama de dissonância cognitiva. É este o modo preferencial de comportamento que leva à predisposição para a confirmação – o ato muitas vezes inconsciente em referenciar apenas as perspectivas que alimentam nossas visões pré-existentes, e, ao mesmo tempo ignorando ou descartando opiniões – não importa quão válida – que ameaçam a nossa visão de mundo. E, paradoxalmente, a internet só tornou essa tendência ainda pior.
Viés social
Um pouco semelhante à tendência à confirmação é o viés social, uma manifestação de nossas tendências tribais inatas. E estranhamente, grande parte desse efeito pode ter a ver com a oxitocina – tida como o “‘hormônio do amor”, este neurotransmissor, enquanto nos ajuda a forjar laços mais apertados com as pessoas em nosso grupo interno, desempenha a função exatamente oposta para aqueles do lado de fora – faz-nos desconfiados, com medo, e até mesmo desdenhosos dos outros. Em última análise, o viés social nos leva a superestimar as habilidades e valor do nosso grupo íntimo à custa de pessoas que realmente não sabem.
Falácia do apostador
Chama-se uma falácia, mas é mais uma falha no nosso pensamento. Nós tendemos a colocar uma enorme quantidade de peso em eventos anteriores, acreditando que eles vão de alguma forma influenciar resultados futuros. O exemplo clássico é o arremesso da moeda. Depois de virar cara, digamos, cinco vezes consecutivas, a nossa inclinação é de prever um aumento na probabilidade de que o próximo sorteio seja coroa – mesmo que as chances certamente estejam a favor de cara. Mas, na realidade, as chances ainda são 50/50. Como dizem os estatísticos, os resultados em diferentes lançamentos são estatisticamente independentes e que a probabilidade de qualquer resultado ainda é de 50%.
De um modo semelhante, há também a tendência de expectativa positiva – o que muitas vezes alimenta vícios no jogo. É a sensação de que a nossa sorte tem que mudar e, eventualmente, que o destino promissor está a caminho. Ele também contribui ao equívoco da “mão quente”. Da mesma forma, é o mesmo sentimento que temos quando iniciamos um novo relacionamento que nos leva a crer que vai ser melhor do que o último.
A racionalização pós-compra
Você já comprou algo que pensava ser totalmente desnecessário, com defeito ou excessivamente caro, e então você racionalizou a compra de tal forma que você se convenceu de que era uma ótima ideia o tempo todo? Sim, isso é a racionalização pós-compra em ação – uma espécie de mecanismo interno que nos faz sentir melhor depois de tomar decisões ruins, especialmente no registro de dinheiro. Também conhecida como Síndrome de Estocolmo do comprador, é uma forma de subconscientemente justificar nossas compras – especialmente as mais caras. Os psicólogos sociais dizem que decorre do princípio do compromisso, o nosso desejo psicológico em ficar consistente e evitar um estado de dissonância cognitiva.
Negligenciar probabilidade
Pouquíssimos de nós temos problema entrar em um carro e dirigir, mas muitos de nós experimentamos grande trepidação ao pisar dentro de um avião e voar a 35.000 pés. Voar, obviamente, é uma atividade totalmente inatural e aparentemente perigosa. No entanto, praticamente todos nós conhecemos e reconhecemos o fato de que a probabilidade de morrer em um acidente de carro é significativamente maior do que ser morto em um acidente de avião -, mas nosso cérebro não vai lançar-nos desta lógica clara (estatisticamente, temos um 1 em 84 chances de morrer em um acidente de veículos, em comparação com um 1 em 5000 chances de morrer em um acidente de avião [outras fontes indicam probabilidades tão altas quanto 1 em 20.000]). É o mesmo fenômeno que faz com que nos preocupemos em sermos mortos em um ato de terrorismo, em oposição a algo muito mais provável, como cair da escada ou envenenamento acidental.
Isto é o que o psicólogo social Cass Sunstein chama de negligenciar probabilidades – nossa incapacidade de compreender adequadamente um bom senso de perigo e risco – o que muitas vezes nos leva a exagerar os riscos de atividades relativamente inofensivas, enquanto força-nos a superestimar as mais perigosas.
Tendência à seleção observacional
Este é o efeito de repentinamente perceber coisas que não havia sido percebidas antes com tanta frequência. Um exemplo perfeito é o que acontece depois de comprar um carro novo e inexplicavelmente começar a ver o mesmo carro praticamente em todos os lugares. Um efeito similar acontece com as mulheres grávidas que de repente notam várias outras mulheres grávidas em torno delas. Ou poderia ser um número ou uma música. Não é que estas coisas estão aparecendo com mais frequência, é que nós, por qualquer motivo, selecionamos o item em nossa mente, e, por sua vez, o notamos mais vezes. O problema é que a maioria das pessoas não reconhecem isso como uma tendência selecional, e realmente acreditam que esses itens ou eventos estão acontecendo com maior frequência – o que pode ser um sentimento muito desconcertante. É também um viés cognitivo que contribui para a sensação de que o aparecimento de certas coisas ou acontecimentos não poderia ser coincidência (embora seja).
Tendência status-quo
Nós, seres humanos tendemos a sermos apreensivos às mudanças, o que muitas vezes nos leva a fazer escolhas que garantem que as coisas permaneçam as mesmas, ou minimamente alteradas. É preciso dizer que isso tem ramificações em tudo, da política à economia. Nós gostamos de ficar com as nossas rotinas, partidos políticos, e as nossas refeições favoritas em restaurantes. Parte da maldade desse viés é o pressuposto injustificado de que outra escolha será inferior ou irá piorar as coisas. A tendência ao status quo pode ser resumida com o ditado “Se não está quebrado, não conserte” – um provérbio que alimenta nossas tendências conservadoras. E, de fato, alguns analistas dizem que é por isso que os EUA não tem sido capaz de decretar um plano de saúde universal, apesar do fato de que a maioria das pessoas apoiam a ideia da reforma.
Tendência à negatividade
As pessoas tendem a prestar mais atenção em más notícias – e não é só porque somos mórbidos. Os cientistas sociais acreditam que seja devido à nossa atenção seletiva e que, dada a escolha, nós percebemos notícias negativas como sendo mais importantes ou profundas. Nós também tendemos a dar mais credibilidade à má notícia, talvez porque estamos suspeitos (ou entediados) de proclamações em contrário. Evolutivamente, lidar com a má notícia pode ser mais adaptavelmente vantajoso do que ignorar uma boa notícia (por exemplo, “tigres-dente-de-sabre são perigosos” contra “esta fruta tem um gosto bom”). Hoje, corremos o risco de nos determos sobre a negatividade à custa de uma boa notícia. Steven Pinker, em seu livro “The Better Angels of Our Nature: Why Violence Has Declined“, argumenta que o crime, violência, guerra e outras injustiças estão em constante declínio, mas a maioria das pessoas diria que as coisas estão piorando – o que é um exemplo perfeito da tendência à negatividade no trabalho.
Efeito Bandwagon
Embora muitas vezes não tomamos consciência disso, nós gostamos de ir com o fluxo da multidão. Quando as massas começam a escolher um vencedor ou um favorito, é quando os nossos cérebros individualizadas começam a desligar e entrar em uma espécie de “pensamento coletivo” ou mentalidade de colmeia. Mas ele não tem que ser uma grande multidão ou os caprichos de uma nação inteira; ele pode incluir pequenos grupos, como a família ou mesmo um pequeno grupo de colegas de trabalho. O efeito movimento é o que muitas vezes provoca comportamentos, normas sociais e memes para propagar entre grupos de indivíduos – independentemente das provas ou motivos em apoio. É por isso que as pesquisas de opinião são muitas vezes criticadas, pois podem orientar as perspectivas dos indivíduos em conformidade. Grande parte deste viés tem a ver com o nosso desejo interno para adaptar-se e conformar-se, como notoriamente demonstrado pelas experiências de conformidade de Asch.
Tendência de projeção
Como indivíduos preso dentro de nossas próprias mentes 24 horas por dia e 7 dias por semana, muitas vezes é difícil nos projetarmos além dos limites da nossa própria consciência e preferências. Tendemos a supor que a maioria das pessoas pensam como nós – embora não haja justificativa para isso. Essa deficiência cognitiva muitas vezes leva a um efeito relacionado conhecido como o viés do falso consenso, onde tendemos a acreditar que as pessoas não só pensam como nós, mas que elas também concordam conosco. É uma tendência onde nós consideramos nosso costumes como típicos e normais, e assumimos que existe um consenso sobre as questões quando na realidade não há. Além disso, ele também pode criar o efeito onde os membros de um grupo radical ou marginal assumem que mais pessoas do lado de fora concordam com eles. Ou uma confiança exagerada ao prever o vencedor de um jogo, eleição ou esporte.
A tendência do momento atual
Nós seres humanos temos certa dificuldade ao imaginar a nós mesmos no futuro, alterando os nossos comportamentos e expectativas em conformidade. A maioria de nós prefere sentir prazer no momento atual, deixando a dor para mais tarde. Esta é uma tendência que é de particular preocupação para os economistas (ou seja, a nossa falta de vontade para não gastar mais e poupar dinheiro) e profissionais de saúde. De fato, um estudo de 1998 mostrou que, ao fazer escolhas alimentares para a próxima semana, 74% dos participantes escolheram frutas. Mas 70% escolheram chocolate para o dia atual.
Efeito ancoragem
Também conhecida como a armadilha da relatividade, esta é a tendência que temos de comparar e contrastar apenas um conjunto limitado de itens. É chamado efeito de ancoragem porque nós tendemos a nos fixar em um valor ou número em comparação com todo o resto. O exemplo clássico é um item na loja que está à venda; nós tendemos a ver (e avaliar) a diferença de preço, mas não o preço global em si. É por isso que alguns cardápios de restaurantes apresentam pratos muito caros, ao mesmo tempo, incluindo (aparentemente) alguns com preços razoáveis. É também por isso que, quando dada uma escolha, nós tendemos a escolher a opção do meio – não muito caro, e não muito barato.