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As primeiras pessoas que se assentaram nas Américas trouxeram seus cães com elas

Por Peter Dockrill
Publicado na ScienceAlert

Até que ponto a história de humanos e cães pode ser contada? Quando e onde esse antigo relacionamento começou? Novas evidências de DNA sugerem que nossa conexão com os caninos pode ser rastreada muito mais longe na pré-história do que jamais foi demonstrado de forma conclusiva.

De acordo com os cientistas, análises de DNA de cães antigos sugerem que os cães foram domesticados a partir de lobos da Eurásia, aproximadamente 23.000 anos atrás. Muito mais tarde, eles se espalharam ao lado dos humanos enquanto migravam pelo mundo – incluindo a entrada nas Américas pelo caminho da Beríngia, a ponte de terra perdida que conectava a Rússia e o Canadá.

“A única coisa que sabíamos com certeza é que a domesticação de cães não ocorria nas Américas”, disse o geneticista Laurent Frantz, da Universidade Ludwig Maximilian de Munique, na Alemanha. “Pelas assinaturas genéticas de cães antigos, sabemos agora que eles deviam estar presentes em algum lugar da Sibéria antes das pessoas migrarem para as Américas”.

Embora se acredite que os cães foram os primeiros animais domesticados, surgindo durante o Pleistoceno de uma população de lobos extinta na Eurásia, muito permanece desconhecido sobre os detalhes do surgimento do animal no mundo, com alguns alegando que o cão domesticado apareceu já em 100.000 anos atrás.

Determinar a verdade nem sempre é fácil, pois pode ser difícil para os cientistas diferenciar com certeza os restos descobertos de lobos antigos e dos primeiros cães domesticados, seja por meio de observação arqueológica ou por testes químicos usando isótopos.

“O desafio para todas as alegações da existência de cães do final do Pleistoceno tem sido mostrar conclusivamente, através de várias linhas de evidência, que os espécimes em questão podem ser claramente distinguidos dos lobos contemporâneos”, explicam os pesquisadores em um novo estudo liderado pela arqueóloga Angela Perri da Universidade Durham no Reino Unido. “Aqui, adotamos uma abordagem conservadora e incluímos apenas os canídeos cujo status taxonômico é inequivocamente doméstico”.

Desconsiderando as alegações menos fundamentadas de cães antigos, os pesquisadores dizem que os primeiros vestígios de cães domésticos geralmente aceitos no registro arqueológico apareceram cerca de 15.000 anos atrás na Alemanha, em outros locais contemporâneos na Europa e em Israel.

Mas e fora do registro arqueológico? Afinal, a evidência genética sugere que as primeiras linhagens de cães conhecidas são anteriores aos vestígios arqueológicos em vários milhares de anos, incluindo um haplogrupo (uma população genética com um único ancestral) estimado até cerca de 22,8 mil anos atrás.

Comparando essa população com sucessivas linhagens de haplogrupos que se separaram de seu ancestral comum – incluindo linhagens que apareceram nas Américas mais ou menos na mesma época que os colonizadores humanos há cerca de 15.000 anos – os pesquisadores construíram uma linha do tempo mapeando como os cães e seus genes se dispersaram ao redor do globo.

Em última análise, a análise sugere que os viajantes humanos, provavelmente, trouxeram seus cães domesticados com eles enquanto viajavam para novas terras, incluindo as Américas, com a linhagem de cães introduzida – haplogrupo A2b – tendo laços genéticos desde a Eurásia cerca de 7.000 anos antes.

“Há muito tempo sabemos que os primeiros americanos devem ter possuído habilidades de caça bem desenvolvidas, o know-how geológico para encontrar pedras e outros materiais necessários e estar prontos para novos desafios”, disse o arqueólogo David Meltzer da Universidade Metodista Meridional em Dallas, Texas (EUA). “Os cães que os acompanharam ao entrarem neste mundo completamente novo podem ter feito parte de seu repertório cultural tanto quanto as ferramentas de pedra que carregavam”.

Embora as circunstâncias da domesticação dos cães na Eurásia, vários milhares de anos antes, ainda não sejam totalmente claras, os pesquisadores dizem que é possível que o frio extremo e implacável do Último Máximo Glacial na Sibéria tenha desencadeado o início do que, com o tempo, tornar-se uma bela amizade.

“As condições climáticas podem ter aproximado as populações de humanos e lobos em áreas de refúgio, devido à sua atração pelas mesmas espécies de presas”, escrevem os pesquisadores. “As interações crescentes entre os dois, talvez resultantes da eliminação mútua de mortes, ou de lobos atraídos pelos alimentos de acampamentos humanos, podem ter iniciado uma mudança na relação entre as espécies, eventualmente levando à domesticação dos cães”.

Os resultados são relatados no PNAS.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.