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Asteroide bizarro próximo à Terra está girando mais rápido a cada ano – e os cientistas não sabem ao certo o por quê

Traduzido por Julio Batista
Original de para a Live Science

Um asteroide próximo da Terra potencialmente perigoso está girando cada vez mais rápido a cada ano, e os pesquisadores não sabem ao certo por quê.

A rocha espacial, conhecida como 3200 Phaethon, tem cerca de 5,4 quilômetros de largura, e sua órbita através do Sistema Solar a leva mais perto do Sol do que qualquer outro asteroide nomeado, atingindo uma distância mínima de cerca de 20,9 milhões de km do Sol – menos da metade da distância de Mercúrio do Sol. Durante a órbita de Phaethon ao redor do Sol, que dura cerca de 524 dias, a rocha espacial viaja perto o suficiente da Terra para ser considerada “potencialmente perigosa”. Mas o mais próximo que o Phaethon já chegou do nosso planeta foi em 2017, quando passou a cerca de 10,3 milhões de km da Terra, ou cerca de 27 vezes mais longe que a Lua. A trilha empoeirada do asteroide é responsável pela chuva de meteoros Gemínidas, que atinge o pico no início de dezembro de cada ano e é visível em todo o mundo.

Em 7 de outubro, um grupo de pesquisadores em uma apresentação na conferência deste ano da Divisão de Ciências Planetárias da Sociedade Astronômica Americana revelou que Phaethon tem um giro acelerado. A rocha espacial leva cerca de 3,6 horas para uma rotação completa. Mas a cada ano, esse giro fica cerca de 4 milissegundos mais curto, disseram os pesquisadores. Isso pode não parecer muito, mas ao longo de milhares ou milhões de anos a mudança pode alterar a órbita do asteroide, acrescentou a equipe.

Ver aqui (gif): uma visualização da órbita de Phaethon (rosa) ao redor do Sol (amarelo). A Terra e sua órbita ao redor do Sol estão na cor azul. O sobrevoo de Phaethon pela Terra é visto no início da animação. (Créditos: NASA/JPL)

Astrônomos detectaram Phaethon pela primeira vez em 1983 e têm rastreado sua órbita desde então usando curvas de luz – observações do brilho de um objeto ao longo do tempo que mostram como ele gira – e radiotelescópios, bem como ocultações estelares ocasionais, quando o asteroide bloqueia a luz de uma estrela distante. Como resultado, Phaethon tem uma das trajetórias orbitais mais conhecidas de qualquer asteroide no Sistema Solar, disseram os pesquisadores em um comunicado.

Usando o conjunto de dados de décadas, a nova equipe tentou simular o tamanho, a forma e as propriedades rotacionais do Phaethon com mais detalhes do que nunca.

A equipe descobriu que o asteroide próximo da Terra tem a forma de um pião, o que significa que é um pouco arredondado com uma protuberância ao redor de seu equador. Essa forma é comum entre grandes asteroides, como o 162173 Ryugu, que, em 2018, se tornou o primeiro asteroide a ser pousado por uma espaçonave, quando a Agência Espacial Japonesa (JAXA) aterrissou na rocha espacial com uma sonda e capturou com sucesso amostras preciosas dela.

No entanto, quando os pesquisadores começaram a analisar a rotação de Phaethon, descobriram que algo não fazia sentido.

“As previsões do modelo de forma não coincidiram com os dados”, disse o pesquisador principal Sean Marshall, um astrônomo do Observatório Arecibo da Fundação Nacional de Ciência dos EUA, em Porto Rico, no comunicado. “Os momentos em que o modelo era mais brilhante estavam claramente fora de sincronia com os momentos em que Phaethon foi realmente observado como mais brilhante”. Depois de reanalisar os dados, os pesquisadores concluíram que a única explicação era que o giro de Phaethon estava aumentando ano a ano, acrescentou Marshall.

Essas imagens granuladas mostram como a aparência de Phaethon muda ao longo de uma única rotação. (Créditos: Taylor et al. 2019, Planetary and Space Science 167)

É muito incomum que as rotações de um asteroide mudem. Phaethon é apenas o 11º asteroide que foi observado com uma rotação acelerada, de acordo com o comunicado. Para contextualizar, existem mais de 1,1 milhão de asteroides conhecidos, de acordo com a NASA.

Phaethon também é incomum de outras maneiras. Primeiro, tem uma cauda semelhante a um cometa composta de pedaços de detritos que se desprendem de sua superfície rochosa. Esses pedaços rochosos produzem a espetacular chuva de meteoros Gemínidas, que é uma das duas únicas chuvas de meteoros conhecidas que são causadas por asteroides e não por cometas. Em segundo lugar, a luz do Sol refletida em Phaethon tem um tom azulado, semelhante à maioria dos cometas, mas quase inédito entre os asteroides. Como resultado, Phaethon é frequentemente apelidado de “cometa rochoso” pelos astrônomos, de acordo com o comunicado.

Não está claro exatamente por que a rotação de Phaethon está acelerando. A cauda semelhante a um cometa do asteroide significa que sua massa está diminuindo gradualmente, mas isso não significa necessariamente que sua rotação mudará como resultado. No entanto, os pesquisadores pensam que a cauda incomum do asteroide é o resultado de sua superfície ficando superaquecida à medida que se aproxima do Sol. Portanto, a explicação mais provável é que a superfície do asteroide está sendo atingida pela radiação solar, que está alterando sua rotação – isso é conhecido como efeito Yarkovsky-O’Keefe-Radzievskii-Paddack, relatou a Science Alert. Mas essa teoria é difícil de provar com os dados disponíveis.

Devido às propriedades incomuns de Phaethon, a JAXA escolheu a rocha espacial próxima da Terra como alvo para uma de suas próximas missões de asteroides. Em 2024, a missão DESTINY+ lançará uma espaçonave que eventualmente voará por Phaethon em 2028, de acordo com o comunicado.

Os cientistas da missão da JAXA provavelmente acharão a nova descoberta da rotação acelerada do Phaethon muito útil, disseram os pesquisadores.

“Esta é uma boa notícia para a equipe DESTINY+”, disse Marshall. “Uma mudança constante significa que a orientação de Phaethon no momento do sobrevoo da espaçonave pode ser prevista com precisão.” Por exemplo, os cientistas poderão determinar qual lado do asteroide será iluminado pelo Sol quando a espaçonave chegar, o que os ajudará a decidir quais áreas focar em seus estudos, acrescentou.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.