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NASA pousa com sucesso em um asteroide que tem uma pequena chance de colidir com a Terra

Por Morgan McFall-Johnsen
Publicado no Business Insider

A NASA acaba de pousar uma espaçonave em um asteroide e, se tudo correr como planejado, coletará uma amostra de poeira e rocha da superfície.

A 320 milhões de quilômetros de distância, a NASA e o membro da equipe de engenharia, Lockheed Martin, instruíram a espaçonave a pousar na superfície de uma rocha espacial chamada Bennu.

Em apenas 5 a 10 segundos, a sonda deve ter conseguido coletar amostras da superfície do asteroide. A sonda está programada para trazer esses pedaços de Bennu de volta à Terra daqui a três anos.

OSIRIS-REx, como a espaçonave é conhecida (abreviação de Origins, Spectral Interpretation, Resource Identification, Security-Regolith Explorer), concluiu esta operação “vai e volta” na noite de terça-feira.

A espaçonave enviou de volta a confirmação de que havia pousado na superfície de Bennu. Quando o sinal alcançou a Terra às 19h11 (horário de Brasília), cerca de 18 minutos após do pouso de fato, o Controle da Missão comemorou com gritos e aplausos.

“É algo transcendental. Não posso acreditar que realmente conseguimos isso”, disse Dante Lauretta, principal investigador da missão, durante a transmissão ao vivo da NASA sobre a operação. “A espaçonave fez tudo o que deveria ter feito”.

Levará alguns dias para determinar se a sonda coletou rocha suficiente. O objetivo era obter pelo menos uma amostra de 60 gramas, o que equivale em massa a um pequeno saco de batatas fritas.

OSIRIS-REx está orbitando Bennu desde dezembro de 2018, fazendo a varredura do asteroide e coletando o máximo de dados possível. Ele deve decolar de volta em março de 2021, com as amostras, e chegar à Terra em 24 de setembro de 2023.

A pesquisa da missão pode ser crucial nos próximos 100 anos, já que o caminho de Bennu o coloca em risco de colidir com a Terra.

“Bennu é um dos asteroides mais potencialmente perigosos, com uma chance não desprezível de impactar a Terra em algum ponto do século 22”, disse Lauretta em setembro.

“Parte de nossa investigação científica trata de compreender sua trajetória orbital, refinar a probabilidade de impacto e documentar suas propriedades físicas e químicas para que as gerações futuras possam desenvolver uma missão de mitigação de impacto, caso seja necessário”.

A comemoração do Controle da Missão com o pouso. Crédito: NASA.

Existem outras razões importantes para estudar Bennu: à medida que novas missões almejar estudar o espaço, elas precisarão fazer paradas para minerar asteroides em busca de recursos como água, que pode ser dividida em oxigênio e hidrogênio e servem de combustível para foguetes. Os dados que a NASA está coletando de Bennu podem servir de base para futuras tentativas de mineração de asteroides.

OSIRIS-REx também é, em certo sentido, uma missão de busca das nossas origens. Asteroides são pedaços de rocha antiga formados desde o início do Sistema Solar, por volta de 4,5 bilhões de anos atrás. O material restante que fez os planetas rochosos – Mercúrio, Vênus, Terra e Marte – coalesceram ao longo do tempo em asteroides, sendo amplamente preservado em sua forma original.

Um mosaico giratório de Bennu capturado pelo OSIRIS-REx em 2018. Créditos: NASA / Goddard / Universidade do Arizona.

Algumas teorias postulam que os asteroides entregaram ingredientes essenciais para a vida na Terra antiga. Em Bennu, os cientistas podem encontrar sinais desses ingredientes, talvez dando pistas sobre como a vida surgiu na Terra – e, possivelmente, em Marte ou Vênus também.

Se for bem-sucedida, esta missão será uma das primeiras a retornar amostras de rocha primordial. A espaçonave japonesa Hayabusa-2 também deve trazer amostras de asteroides em dezembro.

“Tudo se resume a compreender nossas origens, abordando algumas das questões mais fundamentais que nós fazemos como seres humanos: de onde viemos? E estamos sozinhos no Universo?”, disse Lauretta.

A nave espacial da NASA desceu 1 km para levantar a poeira do asteroide

Os primeiros dados do OSIRIS-REx revelaram um problema para a missão: Bennu é muito mais rochoso do que a NASA pensava. Aterrissar em um campo de pedras coloca uma espaçonave em risco de tombar e encalhar.

Para pousar no melhor terreno possível do asteroide, a equipe da missão OSIRIS-REx escolheu um local de pouso que é muito menor do que o planejado originalmente. Sua margem de manobra é de apenas 8 metros, enquanto o plano inicial previa que tivesse 50 metros.

Isso significa que a espaçonave, que tem aproximadamente o tamanho de uma van de 15 passageiros, teve que mirar em uma área aproximadamente igual a seis vagas de estacionamento no asteroide em rotação rápida.

O local de pouso é uma área relativamente lisa chamada Nightingale, que é coberta por uma poeira rochosa fina chamada regolito. Este é o material que OSIRIS-REx tentou recolher na terça-feira.

A espaçonave desceu lentamente cerca de 1 quilômetro, manobrando além de uma pedra do tamanho de um prédio de dois andares que os controladores da missão batizaram de “Monte Doom”. O OSIRIS-REx ensaiou esta descida duas vezes, praticando “basicamente tudo, exceto os dois minutos finais”, disse Mike Moreau, gerente de projeto.

A sequência é a seguinte: os propulsores da espaçonave disparam, empurrando-a para fora de sua órbita com um quilômetro de altura acima de Bennu. Em seguida, a sonda lança seu braço de coleta de amostras e aponta sua câmera de navegação para a superfície do asteroide. Cerca de 3 horas e meia depois – e cerca de 125 metros acima da superfície – a espaçonave dispara seus propulsores novamente para ir em direção ao local de pouso. Depois de outros 10 minutos e mais 79 metros de descida, a espaçonave liga seus propulsores para manobrar até um ponto de pouso preciso.

Toda a operação parece ter ocorrido de acordo com esse plano.

Se os instrumentos da espaçonave tivessem detectado rochas perigosas em seu ponto de aterrissagem, a sonda teria iniciado um recuo a apenas 5 metros acima da superfície.

Mas a espaçonave parece ter alcançado a superfície de Bennu com o braço de coleta de amostras esticado para baixo. Por meio desse braço – se a coleta ocorresse de acordo com o planejado – a espaçonave disparou gás nitrogênio de um recipiente, causando um impacto no regolito abaixo dela. Nessa perturbação, algum material deveria ter ficado preso na ferramenta de coleta na ponta do braço.

Pouco depois da aterrissagem, o OSIRIS-REx disparou seus propulsores para se afastar de Bennu.

A NASA vai decidir se vai guardar a amostra ou tentar novamente

Assim que a espaçonave estiver de volta à órbita de Bennu, levará alguns dias para que os controladores da missão da NASA analisem a amostra de regolito coletada. Se houver rocha e poeira suficientes, os líderes da missão irão comandar a espaçonave para armazenar a amostra em uma cápsula para seu retorno à Terra.

Mas se a espaçonave tiver menos de 60 gramas de regolito, ela tentará novamente em janeiro, visando coletar uma cópia de segurança em uma parte diferente do asteroide.

“De longe, o resultado mais provável que teremos em 20 de outubro é que entraremos em contato com a superfície e sairemos com uma grande amostra que excede nossos requisitos mínimos”, disse Moreau em setembro.

“Mas Bennu nos lançou uma série de obstáculos”.

OSIRIS-REx está carregando três recipientes de nitrogênio para levantar a poeira, permitindo três tentativas de pouso até a superfície de Bennu, e coletar uma amostra adequada.

A amostra do Bennu deve chegar à Terra em 2023

Quando o OSIRIS-REx retornar à Terra em 2023, ele deverá disparar a cápsula contendo as amostras para a atmosfera terrestre. As amostras devem cair de páraquedas no deserto de Utah para a NASA coletar.

“Provavelmente, o Natal vai ser antes da hora – em setembro”, disse Lauretta. “O melhor presente de Natal que já ganhei, essas amostras imaculadas do asteroide Bennu com as quais tenho sonhado – literalmente sonhado – há quase 20 anos da minha vida”.

Os cientistas começarão a analisar a amostra, mas a NASA preservará parte do regolito para estudos futuros.

“Essas amostras retiradas de Bennu também permitirão que futuros cientistas planetários façam perguntas que nem sequer podemos pensar hoje”, disse Lori Glaze, diretora da Divisão de Ciência Planetária da NASA, “e sejam capazes de usar técnicas de análise que nem mesmo foram inventadas ainda”.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.