Por Mara Johnson-Groh
Publicado na Live Science
Cerca de 66 milhões de anos atrás, um objeto com cerca de 9,6 quilômetros de largura se chocou contra a Terra, desencadeando uma série cataclísmica de eventos que resultou na extinção de dinossauros não-aviários.
Agora, os cientistas acham que sabem de onde esse objeto veio.
De acordo com uma nova pesquisa, o impacto foi causado por um asteroide gigante, escuro e primitivo vindo dos confins do cinturão de asteroides principal do Sistema Solar, situado entre Marte e Júpiter.
Esta região é o lar de muitos asteroides escuros – rochas espaciais com uma composição química que os faz parecer mais escuros (refletindo muito pouca luz) em comparação com outros tipos de asteroides.
“Suspeitei que a metade externa do cinturão de asteroides – é onde estão os asteroides primitivos escuros – pode ser uma fonte importante de impactadores terrestres”, disse David Nesvorný, pesquisador do Southwest Research Institute em Colorado, nos EUA, que liderou o novo estudo.
“Mas eu não esperava que os resultados fossem tão definitivos”, acrescentando que isso pode não ser verdade para impactadores menores.
Evidências sobre o objeto que encerrou o reinado dos dinossauros não-aviários foram encontradas anteriormente enterradas na cratera de Chicxulub, uma cicatriz circular de 145 km de largura na Península de Iucatã, no México, deixada pela colisão do objeto.
A análise geoquímica da cratera sugeriu que o objeto do impacto fazia parte de uma classe de condritos carbonáceos – um grupo primitivo de meteoritos que têm uma proporção relativamente alta de carbono e provavelmente foram feitos no início da história do Sistema Solar.
Com base nesse conhecimento, os cientistas já tentaram localizar a origem do objeto de impacto, mas muitas teorias desmoronaram com o tempo.
Os pesquisadores já sugeriram que o objeto de impacto veio de uma família de asteroides da parte interna do cinturão de asteroides principal, mas observações de acompanhamento desses asteroides descobriram que eles não tinham a composição correta.
Outro estudo, este publicado em fevereiro na revista Scientific Reports, sugeriu que o impacto foi causado por um cometa de longo período, relatou a Live Science. Mas essa pesquisa desde então vem sendo criticada, de acordo com um estudo publicado na revista Astronomy & Geophysics.
No novo estudo, publicado no periódico Icarus, os pesquisadores desenvolveram um modelo de computador para ver com que frequência os asteroides do cinturão principal escapam rumo à Terra e se esses fugitivos poderiam ser responsáveis pela extinção dos dinossauros.
Simulando ao longo de centenas de milhões de anos, o modelo mostrou forças térmicas e puxões gravitacionais de planetas lançando periodicamente grandes asteroides para fora do cinturão. Em média, um asteroide com mais de 9,5 quilômetros de largura da borda externa do cinturão foi lançado em rota de colisão com a Terra uma vez a cada 250 milhões de anos, descobriram os pesquisadores.
Este cálculo torna tal evento cinco vezes mais comum do que se pensava anteriormente, e consistente com a cratera de Chicxulub criada há apenas 66 milhões de anos, que é a única cratera de impacto conhecida que se acredita ter sido produzida por um grande asteroide nos últimos 250 milhões de anos.
Além disso, o modelo observou a distribuição dos objetos de impacto “escuros” e “claros” no cinturão de asteroides e mostrou que metade dos asteroides expulsos eram condritos carbonáceos escuros, que correspondem ao tipo que se acredita ter causado a cratera de Chicxulub.
“Este é realmente um excelente estudo”, disse Jessica Noviello, bolsista da NASA no programa de pós-doutorado da Associação de Pesquisas Espaciais das Universidades no Centro de Voos Espaciais Goddard que não estava envolvida com a nova pesquisa.
“Acho que eles são um bom argumento para explicar por que [o objeto de compacto de Chicxulub] pode ter vindo daquela parte do Sistema Solar”.
Além de possivelmente explicar a origem do objeto de impacto da cratera de Chicxulub, as descobertas também ajudam os cientistas a entender as origens de outros asteroides que atingiram a Terra no passado.
Nenhuma das outras duas maiores crateras de impacto na Terra, a cratera de Vredefort na África do Sul e a Bacia de Sudbury no Canadá, têm origens de impacto conhecidas. Os resultados também podem ajudar os cientistas a prever onde futuros grandes objetos de impacto podem se originar.
“Nós descobrimos no estudo que cerca de 60 por cento dos grandes objetos de impacto terrestres vêm da metade externa do cinturão de asteroides… e a maioria dos asteroides nessa zona são escuros/primitivos”, disse Nesvorný ao Live Science.
“Portanto, há 60 por cento – 3 em 5 – de probabilidade de que o próximo venha da mesma região”.