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Bill Nye quer salvar planeta dos asteroides, fazer um filme e entrar em guerra contra a política anticientífica

William Sanford Nye (seus amigos o chamam de “Bill”) fez sua primeira marca na história em uma sala de aula da faculdade em 1976.

Era apenas mais um dia na Universidade de Cornell para Nye, um estudante cheio de energia e jogador de frisbee do campus. Ele estava conversando com seus colegas quando entrou seu professor, o lendário astrônomo e autor Carl Sagan, com um pedido inesperado. Sagan perguntou a classe que canção do músico Chuck Berry deveria ser incluída na Voyager Golden Record, a coleção de músicas e imagens que foi colocada a bordo das duas sondas Voyager, lançadas em 1977. (Se formas de vidas extraterrestres encontrarem uma das sondas, o disco teria a intenção de refletir a cultura e a diversidade do Planeta Terra.) Sagan estava presidindo o comitê responsável de selecionar músicas para a NASA, ele contou para a sua sala que pensou no hit de 1956 “Roll Over Beethoven” como a música que os alienígenas deveriam ouvir. Foi quando Nye e seus colegas discordaram.

“Todos dissemos, ‘Não, professor! ’”, Nye lembra. “‘Tem que ser Johnny B. Goode! Essa é a canção triunfante de Chuck Berry! ’… Berry foi o cara que pegou o blues e transformou em rock n’roll, afinal. Então pensamos que era o que precisávamos para enviar uma mensagem nessa sonda espacial.”

Sagan seguiu o conselho de seus alunos, e até hoje, “Johnny B. Goode” está a bordo da sonda Voyager, junto à obra de Bach e do blues de Blind Willie Johnson.

Sagan deixou uma recordação permanente em Nye, mas seu amor pela ciência e pela engenharia já havia começado muito antes. “O encanto veio antes de jardim de infância”, diz Nye. Sua mãe, Jacqueline, foi uma criptoanalista durante a Segunda Guerra Mundial, na luta contra o fascismo usando a matemática e a ciência. Você pode ver evidências de alguns de seus trabalhos, publicados em 1992, no Museu Nacional de Criptologia dos filiados da NSA. O Instituto Smithsoniano, em Washington, DC, teve uma exposição dedicada às máquinas Enigma, e incluiu uma foto de Jacqueline. “Ela trabalhava em um bunker, à espera de bombas nazistas caírem lá ou algo parecido”, Nye brinca. Enquanto isso, seu pai, Ned, foi mantido em um campo japonês de prisioneiros de guerra. “Agora essa foi uma parte ruim. Se você tivesse a chance, eu não recomendaria. Nem um pouco.”

A fascinação de Nye com o mundo natural começou aos 3 anos de idade, e só cresceu daí em diante. “Eu cresci junto com o programa espacial,” ele disse. Na sua infância e adolescência, ele absorvia o máximo que podia sobre física, a ciência dos foguetes, zoologia, e muitas outras matérias. “Física era a minha praia, cara.” Quando adolescente Nye construiu um gerador de ondas Heathkit, que ainda se localiza na sua antiga sala de aula da escola Sidwell Friends em Washington, DC.

Na época do ensino médio e da faculdade, sua trajetória foi uma mistura de ciência avançada com gargalhadas. Depois de Cornell, trabalhou como engenheiro na Boeing. Infelizmente, ele não pôde fazer a graduação para alcançar seu sonho de se tornar um astronauta da NASA. Em 1999, Nye disse ao jornal St. Petersburg Times que nesse tempo, ele tentou se candidatar para ser astronauta e entrar no porte físico ideal, mas foi rejeitado em todas às vezes. Em vez disso, Nye entrou na indústria do entretenimento, deixando de lado o mundo da engenharia para a comédia stand-up.

Em 1986, ele tornou-se roteirista e ator do Almost Live!, uma comédia esquete de Seattle que foi exibida entre 1984-1999. Aqui está Nye em um dos episódios:

“Steve Martin foi outro cara que mudou a minha vida”, diz Nye. “Ele foi uma enorme influência para mim; mudando toda a comédia norte-americana.” Nye nunca conheceu Martin, mas ele vai ter uma boa história para contar se conhecê-lo um dia: Em 1978, ele ganhou um concurso de sósias do Steve Martin em Seattle. Em 1993, a PBS filial de Seattle começou a exibir Bill Nye the Science Guy, que fez do comediante/engenheiro um nome familiar. Por quase meia década, Nye usou seu programa para ensinar ciência às crianças, enquanto também o usava para fazer paródias de canções populares e da cultura moderna.

“Um programa de TV tem de primeiramente servir pra entreter, e em segundo lugar, para educar. Eu passo muito tempo com laureados de prêmios Nobel e um monte de engenheiros. Ser um bom professor é uma habilidade completamente diferente de ser um bom cientista.”

Nos últimos anos, Nye iniciou uma nova carreira e imagem um pouco diferente. Ele é o CEO da Sociedade Planetária, o maior grupo de interesse espacial não-governamental do mundo. Ele tem uma série YouTube com a NASA. Participou também do Dancing with the Star (programa que tem uma versão brasileira no Domingão do Faustão, exibido pela Rede Globo) em 2013, o seu mais famoso trabalho com a dança desde que ele terminou em quarto lugar em um show de talentos de Cornell, onde fez uma coreografia para a canção “Runaround Sue“. Também organizou a campanha “Save Our Science”, que tem pressionado o Congresso e a Casa Branca para fornecer pelo menos 1,5 bilhões dólares anualmente para a ciência e a exploração planetária.

“Ele tem sido fundamental para ajudar a dar avanço a umas das principais iniciativas do presidente para se certificar de que possamos educar e inovar mundo afora”, diz um funcionário da administração de Obama. “O presidente se encanta quando vê Bill”, diz outro funcionário.

Bill-Nye-and-President-Obama-at-2013-Science-Fair

Mas de suas tentativas atuais, ele é provavelmente mais conhecido por sua política tingida e a luta contra divulgação de desinformações ao falar sobre a educação científica nos Estados Unidos. Nos últimos anos, ele ganhou grande atenção na mídia social, palestras, e na televisão (aparecendo em canais como CNN e na HBO) para combater absurdos criacionistas, as reivindicações dos políticos conservadores e negações de mudanças climáticas.

“Eu luto essa luta fora do patriotismo”, diz Nye. “Nós temos um problema. Não podemos ter crescimento econômico sem investimento básico em ciência e pesquisa. E não podemos ter membros de conselhos escolares irresponsáveis ​​no Texas ensinando que a Terra tem 10.000 anos de idade. Nós não podemos abraçar o analfabetismo científico”.

Quando perguntado a Nye quais eram seus três atuais desejos sobre a mudança de conceitos na política, ele responde: “A aceitação da mudança climática, elevar o padrão de mulheres em todo o mundo através da educação, asteroides.”

Sim, asteroides. Especificamente em combater os que podem pôr em perigo a civilização humana.

“Mais cedo ou mais tarde vamos ter que desviar de um asteróide”, diz Nye. “E nós somos a primeira geração que pode fazer algo sobre isso.” Conforme o chefe da Sociedade Planetária, Nye e sua equipe publicaram um plano para a utilização de energia solar para usar em uma nave equipada de painéis, vulgo “Projeto Laser Bee” e, evaporar ou volatilizar partes de um asteróide que possa ameaçar a Terra. As partes que forem incineradas teriam certo momentum, e um momentum que seria suficiente para “cutucar” o asteroide. “É uma questão de vida ou morte para as pessoas… É irônico que as pessoas estão correndo por aí preocupado com o Obamacare enquanto essa outra preocupação se aproxima.”

A proposta da Sociedade Planetária tem intrigado os funcionários da NASA o suficiente para alguns deles se apresentarem em reuniões sobre asteroides da Sociedade. “Quero dizer, atirar em rochas com lasers, o que poderia ser mais divertido do que isso?”, ele brinca. Além disso, ele mesmo revisou a iniciativa de $2,6 bilhões do governo Obama em combater asteroides – e não está impressionado. “Eu não acho seja o valor ideal”, Nye lamenta. “Não acho que vai acontecer.”

Mas qual seria o outro projeto dos sonhos de Nye, quando ele tem um tempo livre e não está combatendo a ameaça de um asteroide ou a proliferação da pseudociência? Acontece que ele tem um roteiro na sua mesa que ele espera agradar Hollywood.

Em 2009, Nye terminou seu roteiro para um filme biográfico sobre Nathaniel Bowditch, um matemático americano e pai da navegação marítima moderna. “Ele nasceu em Salem, Massachusetts, vendido como um trabalhador escravo. Aprendeu sozinho latim, e descobriu uma nova forma de calcular a longitude,” explica Nye. “Eu gostaria muito de fazer da história de vida desse cara um grande filme. O filme seria repleto de aventura, de triunfo sobre a adversidade, e até mesmo iria ter uma reviravolta na história a respeito de uma suposta morte no mar.”

“Eu gostaria que Brannon Braga o dirigisse”, acrescenta. Braga foi produtor executivo das séries 24 Horas, Jornada nas Estrelas, e a que está por vim: Cosmos: A Space Time Odyssey, uma série de documentários que terá estreia este ano organizado pelo amigo de Nye, Neil de Grasse Tyson e co-produzido pelo criador de Uma Família da Pesada, Seth MacFarlane.

“Quem iria estrelar-lo?”, diz Nye. “Bom, talvez Brant Daugherty, [que estava na mesma temporada que a que eu participei do] Dancing with the Star… Mas nós realmente precisamos de um cara magro, talvez Shia LaBeouf.”

Quanto ao protagonista?

“Eu diria que… Tyne Stecklein, minha parceira de dança no Dancing with the Star”, Nye endossa. “Eu te digo, essa moça é impressionante. Ela é muito bonita e muito boa atriz, também.”

 

Traduzido por Julio Batista do site Mother Jones, artigo “Bill Nye Wants To Wage War on Anti-Science Politics, Make a Movie—And Save the Planet From Asteroids.” 

Texto original adaptado de uma edição de revista da Sidwell Friends Alumni.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.