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‘Blocos de construção da vida’ recuperados do asteroide Ryugu são mais antigos que o próprio Sistema Solar

Traduzido por Julio Batista
Original de Stephanie Pappas para a Live Science

O asteroide Ryugu, que orbita o Sol entre a Terra e Marte, contém muitos dos blocos de construção da vida, segundo uma nova análise.

O estudo, publicado em 23 de fevereiro na revista Science, é uma das primeiras análises das amostras de Ryugu trazidas pela espaçonave Hayabusa-2 do Japão em 2020. A missão é apenas a segunda vez que uma espaçonave traz com sucesso uma amostra de um asteroide; em 2010, a primeira missão Hayabusa trouxe poeira do asteroide Itokawa, mas essa amostra tinha apenas microgramas de tamanho devido a uma falha no sistema de coleta. Hayabusa-2, em comparação, retornou mais de 5 gramas para a Terra a partir da rocha espacial oficialmente conhecida como 162173 Ryugu.

Uma análise de uma pequena porção desta amostra revelou que o asteroide rico em carbono também contém moléculas que são cruciais para toda a vida conhecida, incluindo 15 aminoácidos, os blocos de construção das proteínas. Essas moléculas em si não estão vivas, mas como são encontradas em toda a vida, os cientistas as chamam de “prebióticas”. Os pesquisadores sabiam por estudos anteriores com meteoritos encontrados na Terra que as rochas espaciais podem conter moléculas prebióticas, mas as rochas que caíram na atmosfera da Terra podem abrigar esses compostos devido à contaminação. Também não estava claro se essas moléculas poderiam sobreviver na superfície de um asteroide ou apenas nas profundezas do corpo do asteroide. Neste caso, as moléculas vieram da poeira da superfície.

“A presença de moléculas prebióticas na superfície do asteroide, apesar de seu ambiente hostil causado pelo aquecimento solar e irradiação ultravioleta, bem como irradiação de raios cósmicos sob condições de alto vácuo, sugere que os grãos superficiais em Ryugu têm o potencial de proteger moléculas orgânicas”, disse o líder do estudo Hiroshi Naraoka da Universidade de Kyushu, no Japão, em um comunicado. Isso significa que os asteroides poderiam potencialmente espalhar os blocos de construção da vida por todo o Sistema Solar.

E de acordo com um segundo estudo, também publicado na Science, os materiais orgânicos em Ryugu podem até ser anteriores à formação do próprio Sistema Solar, em vez de se formarem em uma nuvem primordial de poeira interestelar que eventualmente se fundiu no corpo pai de Ryugu. Em outras palavras, muitos dos ingredientes para a vida podem estar incorporados ao Sistema Solar desde o início.

Capturando um asteroide

Ryugu é um asteroide carbonáceo, tipo que compõe 75% dos asteroides encontrados no Sistema Solar, segundo a NASA. Esses asteroides são essencialmente os restos deixados para trás da formação inicial do Sistema Solar, tornando-os uma visão intrigante das moléculas presentes na nossa vizinhança há cerca de 4,5 bilhões de anos. Como parte de uma colaboração com a agência espacial do Japão, a NASA recebeu cerca de 10% da amostra Hayabusa-2 para testes, com pesquisas adicionais ocorrendo também na Europa.

Naraoka e uma grande equipe internacional extraíram as moléculas de apenas 30 microgramas da amostra usando uma variedade de solventes e analisaram a matéria orgânica. Eles encontraram milhares de combinações contendo carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e/ou enxofre, incluindo os 15 aminoácidos. Outros compostos incluem aminas, que contêm nitrogênio, e ácidos carboxílicos, que possuem uma estrutura específica incluindo carbono, oxigênio e hidrogênio. Os compostos descobertos eram geralmente consistentes com o que foi visto em meteoritos carbonáceos que foram expostos à água no espaço e encontrados na Terra, disse o co-autor do estudo Jason Dworkin, um astrobiólogo do Centro de Voos Espaciais Goddard da NASA, no comunicado.

No entanto, os pesquisadores não encontraram açúcares ou nucleobases, componentes-chave do DNA e do RNA.

“É possível que esses compostos estejam presentes no asteroide Ryugu, mas abaixo dos nossos limites de detecção analítica, dada a massa relativamente pequena da amostra disponível para estudo”, disse o coautor do estudo, Daniel Glavin, também astrobiólogo do Goddard da NASA, disse no comunicado.

Os pesquisadores apenas começaram a analisar as amostras de Ryugu e logo planejam compará-las com amostras de outro asteroide. Em setembro, a missão OSIRIS-REx da NASA está programada para devolver à Terra amostras de 101955 Bennu, outro asteroide carbonáceo.

“Espera-se que o OSIRIS-REx retorne muito mais massa de amostra de Bennu e forneça outra oportunidade importante para procurar vestígios de blocos de construção orgânicos da vida em um asteroide rico em carbono”, disse Dworkin.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.