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Este estranho ‘fóssil’ antigo pode não ter sido deixado por nenhum ser vivo

Traduzido por Julio Batista
Original de Carly Cassella para o ScienceAlert

Uma antiga “coisa” tridimensional em forma de estrela ainda confunde os cientistas mais de um século após sua descoberta.

Descrito pela primeira vez em 1896 pelo paleontólogo americano Charles Doolittle Walcott como uma espécie de água-viva, várias formas radiais semelhantes foram encontradas em vários depósitos de xisto datados de meio bilhão de anos atrás, no Cambriano.

Para o olho destreinado, eles se parecem com bolos bundts: circulares com lóbulos radiais se espalhando para fora como uma estrela do mar ou os raios de uma bicicleta.

Ao longo dos anos, os paleontólogos reavaliaram a taxonomia de qualquer forma de vida que possa ter deixado os fósseis, progredindo de especulações sobre águas-vivas para esponjas. Eles o chamaram de Brooksella alternata, que se tornou uma classificação para qualquer fóssil semelhante a Brooksella encontrado, dos quais existem muitos.

Alguns exemplos podem ser vistos na imagem abaixo.

Exemplos de objetos semelhantes a Brooksella encontrados no sudoeste dos EUA. (Créditos: Nolan et al., PeerJ, 2023)

Praticamente desde que Walcott pôs os olhos naquela minúscula estrela de rocha, esses bizarros registros de Brooksella sofreram uma crise de identidade fundamental.

Os cientistas argumentaram que são restos de vermes escavadores, algas-bulbosas ou esponjas-de-vidro.

Enquanto isso, outros não estão convencidos de que sejam mesmo ‘fósseis’, sugerindo que seriam bolhas de gás.

Agora, os pesquisadores estão lançando mais uma sugestão de origens não biológicas. Um novo olhar sobre Brooksella usando imagens 3D de alta resolução e análises químicas sugere que este é, de fato, um ‘pseudofóssil’.

Segundo os autores de um novo estudo, Brooksella não é uma esponja, como é geralmente aceito hoje em dia, mas uma forma incomum de sílica. Esta partícula mineral natural pode se fundir para formar formas esféricas, cúbicas ou hexagonais.

“Descobrimos que Brooksella não tinha características de esponjas-de-vidro, especialmente as espículas fundidas com opalina que compõem o corpo”, explicaram os pesquisadores.

“Nem se desenvolveu como se espera de uma esponja ao longo de sua vida.”

O que parece ser a ‘boca’ de Brooksella é na verdade orientada para baixo em direção ao sedimento, tornando extremamente difícil filtrar alimentos da água como fazem as esponjas.

Uma boca voltada para baixo pode fazer você pensar em uma estrela-do-mar, mas acredita-se que o ancestral de todas as estrelas do mar tenha chegado à Terra há apenas 480 milhões de anos dezenas de milhões de anos após a datação do leito rochoso onde Brooksella foi encontrado.

Os vermes escavadores também não parecem ser uma explicação satisfatória. Embora esses organismos estivessem presentes na Terra durante o Cambriano médio, os pesquisadores não encontraram nenhum sinal de que eles produzissem os lóbulos em forma de estrela.

A única explicação que fazia sentido surgiu quando especialistas compararam Brooksella a outras concreções de sílica formadas em diferentes leitos de rochas do Cambriano ao redor do mundo.

“Não encontramos nenhuma diferença entre Brooksella e as concreções, exceto que Brooksella tinha lóbulos e as concreções não”, escreveram os pesquisadores.

“Concluímos, portanto, que Brooksella não fazia parte da diversificação das primeiras esponjas nos mares do Cambriano médio, mas sim um tipo incomum de concreção de sílica. As concreções podem ter todos os tipos de formas, a ponto de algumas parecerem ter sido formadas organicamente.”

Em Marte, por exemplo, rochas ricas em sílica podem formar pétalas em forma de flor. E aqui na Terra, um raio pode chocar com a areia subterrânea resultando em uma forma ramificada e cristalizada chamada fulgurita.

Brooksella me intrigou porque, ao contrário da maioria dos fósseis, tinha uma forma 3D como uma massa folhada em forma de estrela que é incomum para animais moles como uma esponja”, explicou a paleontóloga Sally Walker, da Universidade da Geórgia, EUA.

“Uma esponja geralmente fica achatada como um animal atropelado durante o processo de fossilização – especialmente um fóssil com mais de 500 milhões de anos! Também intrigante foi o fato de que ninguém inspecionou onde Brooksella viveu e sua orientação; se tivessem feito isso, descobririam que a maioria dos lóbulos estavam orientados para baixo, o que não faz sentido para uma esponja comer lama.”

Mas isso não significa que os pesquisadores resolveram todos os mistérios de Brooksella. Ainda não está claro, por exemplo, por que tantas concreções estranhas com a mesma forma foram encontradas nesta região do mundo.

Esses objetos parecem bastante semelhantes por fora, mas quando os pesquisadores examinaram sua dinâmica interna usando a digitalização de micro-TC, descobriram que eram todos inerentemente bastante diferentes.

Mais pesquisas serão necessárias para descobrir como eles realmente se formaram.

“Embora as aplicações do micro-TC tenham sido quase infinitas nas ciências dos materiais e nos campos da engenharia, suas capacidades para elucidar o registro fóssil estão apenas começando a ser exploradas”, disse o geólogo James Schiffbauer, da Universidade de Missouri, EUA.

“Este projeto é um excelente exemplo dos tipos de mistérios fósseis que podemos resolver com aplicações de micro-TC”.

O estudo foi publicado no PeerJ.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.