Bromeliaceae é a família botânica das bromélias, aquelas belas plantas que encontramos facilmente em jardins e penduradas em árvores. É também a família do abacaxi (Ananas comosus). Elas são plantas tipicamente neotropicais (ou seja, ocorrem principalmente nas Américas Central e do Sul, ilhas do Caribe e sul da Flórida- EUA), com exceção de uma espécie encontrada na África, Pitcairnia feliciana. As bromélias, ou bromeliáceas, são plantas majoritariamente herbáceas (com pequeno a médio porte, que não desenvolvem um caule lenhoso) epífitas e rupícolas (isto é, crescendo sobre árvores e rochas).
Em 2015 foi realizado em Porto de Galinhas, em Pernambuco, o primeiro Congresso Mundial de Evolução de Bromeliaceae, onde foram apresentados diversos trabalhos mostrando como andam os estudos do grupo, em diferentes áreas como biogeografia – estudo da distribuição geográfica das espécies e dos ecossistemas – e filogenética – a grosso modo, o estudo da relação de parentesco entre os organismos.
Filogenética
Tradicionalmente a família Bromeliaceae possuía três subfamílias (subdivisões dentro das famílias), sendo elas: Pitcairnioideae, Bromelioideae e Tillandsioideae. Dentro das subfamílias podem haver outros grupos, como as tribos, que por sua vez, incluem os gêneros e esses últimos incluem, finalmente, as espécies.
No entanto, com a advinda da APG IV (Angiosperm Phylogeny Group – Grupo de Filogenia das Angiospermas, um grupo de cientistas de todo o mundo que estuda a filogenia das plantas com flores e que a atualiza de tempos em tempos) em 2016 demonstrou-se que na realidade, Bromelicaeae possui 8 subfamílias.
Dentre todas as subfamílias, a mais numerosa é Tillandsioideae, que possui quatro tribos, graças à uma explosão de especiação ocorrida nos Andes. Especiação é o nome dado ao processo pelo qual as novas espécies se formam.
Biogeografia
Há pouco registro fóssil para as bromeliáceas, o que complica consideravelmente o estudo sobre o passado dessa família. No entanto, os estudos realizados sugerem que o grupo provavelmente se originou há cerca de 100 milhões de anos a partir de um ancestral adaptado a arenitos úmidos e inférteis, na zona do planalto das Guianas, correspondendo atualmente a partes dos estados brasileiros do Amazonas, norte do Pará, Roraima e Amapá, juntamente com o sul da Venezuela, faixa leste da Colômbia e a todos os territórios da Guiana, Suriname e Guiana Francesa. Após um longo período, coincidindo com o “nascimento” da porção norte das Cordilheiras dos Andes, as bromeliáceas começaram a se espalhar para outras partes tropicais e subtropicais da América, como os Andes, Amazônia e América Central.
As bromélias são um ótimo exemplo de radiação adaptativa – nome dado ao fenômeno evolutivo pelo qual se formam, em curto período de tempo, várias espécies a partir de uma mesma espécie ancestral no qual diversos grupos se separaram, ocupando simultaneamente vários nichos ecológicos livres – no Neotrópico. Elas possuem várias formas, desde plantas terrestres que extraem água e nutrientes do solo até as espécies epifíticas que, graças a escamas especializadas, conseguem captar partículas orgânicas e moléculas de água diretamente do ar. Essa grande diversidade se deu graças às mais variadas adaptações, como as fisiológicas, bioquímicas e anatômicas.
As bromélias são apenas uma das mais de 400 famílias de angiospermas – plantas que possuem flores. A diversidade de angiospermas é fascinante. Pretendo, futuramente, trazer ao site mais famílias e espero que com este pequeno texto mais gente se apaixone por essa biodiversidade toda.
Referências
Palma-Silva C, Leal BSS, Chaves CJN, Fay MF. 2016. Advances in and perspectives on evolution in Bromeliaceae. Botanical Journal of the Linnean Society 181: 305–322.