Por Peter Dockrill
Publicado na ScienceAlert
Se você adora cães, sabe como é se relacionar com esses belos animais. Você sabe que eles podem entender não apenas o que você diz a eles, mas também a maneira como você diz.
O que você pode não saber, no entanto, é que passa batido o significado de muita coisa quando você se comunica verbalmente com eles. Uma nova pesquisa sugere que os cães podem estar entendendo menos do que imaginamos.
Apesar da excelente audição e capacidade dos cães de analisar e processar diferentes sons da fala, um novo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Eötvös Loránd, em Budapeste (Hungria), indica que mesmo as pequenas diferenças podem passar despercebidas pelos cães, que não conseguem distinguir variações sutis entre palavras com sons semelhantes.
“Embora os cães tenham habilidades notáveis de cognição social e comunicação, o número de palavras que eles aprendem a reconhecer permanece muito baixo”, explicam os pesquisadores em seu estudo.
“A razão para essa capacidade limitada ainda não está clara.”
Para sondar essas limitações no vocabulário auditivo dos cães (se preferir esse termo), os pesquisadores conduziram um experimento, no qual mais de 40 cães foram levados para o laboratório, tendo sua atividade cerebral medida de forma não invasiva por meio de eletrodos eletroencefalográficos (EEG) fixados no ‘couro cabeludo’.
Enquanto conectados ao equipamento, os animais ouviram três tipos diferentes de palavras faladas em uma gravação: palavras de instrução familiares (por exemplo, ‘sit‘ [sentar, em português]), palavras sem sentido foneticamente semelhantes (por exemplo, ‘sut‘) e palavras sem sentido diferentes (por exemplo, ‘bep‘).
Os resultados de EEG, baseados em um subconjunto de 17 animais cujos dados foram considerados confiáveis, mostraram uma diferença clara nas respostas do cérebro dos cães – chamadas de potenciais de eventos relacionados (PREs) – quando eles ouviram palavras familiares ou palavras sem sentido que soavam diferentes.
No geral, porém, os PREs sugeriram que os cães não eram capazes de distinguir entre as instruções familiares (como ‘sit‘) e termos sem sentido que soassem semelhantes (como ‘sut’), dada a sobreposição fonética entre eles.
Os pesquisadores levantam a hipótese de que a limitação não é devida à distinção perceptiva insuficiente – já que os cães foram anteriormente capazes de identificar mudanças sutis nos sons da fala humana – mas pode refletir algo sobre como os animais focalizam sua atenção.
Os bebês, observam os pesquisadores, também não conseguem distinguir palavras que soam muito semelhantes quando são muito jovens (com menos de 14 meses), mas depois aprendem a distinguir pequenas mudanças na fonética, que é o que está por trás da capacidade humana de possuir grandes vocabulários.
Por alguma razão – que pesquisas futuras podem elucidar – parece que os cães não superam esse obstáculo, deixando de prestar atenção a todos os sons da fala que constituem as palavras.
Isso pode ser um fator que explica porque os cães tendem a aprender apenas uma quantidade limitada de palavras humanas, mas também pode significar que eles não entendem os humanos tanto quanto pensamos: palavras com sons semelhantes podem fazer com que eles tropecem na compreensão, sendo percebidas em seus cérebros como a mesma coisa.
“Similarmente ao caso de bebês humanos, especulamos que a similaridade da atividade cerebral dos cães para palavras de instrução que eles conhecem e para palavras sem sentido semelhantes reflete não restrições de percepção, mas vieses de atenção e processamento”, explica o pesquisador sênior Attila Andics.
“Os cães podem não prestar atenção a todos os detalhes do som da fala quando ouvem as palavras.”
As descobertas foram publicadas na Royal Society Open Science.