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Cerveja era consumida na China há 9.000 anos, mas provavelmente não era para recreação

Por David Nield
Publicado na ScienceAlert

Arqueólogos descobriram alguns dos artefatos mais antigos já encontrados associados à cerveja, em um trajeto de Qiaotou, no sul da China, que remonta há 9.000 anos. No entanto, parece que os antigos bebedores em questão não estavam ali simplesmente para uma festança.

A descoberta consistia em dois esqueletos humanos cercados por dezenas de potes de cerâmica – na verdade, algumas das cerâmicas pintadas mais antigas já encontradas – no que parece ser um túmulo em uma área não residencial. De todos os 50 vasos intactos descobertos, os pesquisadores levaram 20 para análise.

Pesquisas anteriores estabeleceram critérios para identificar itens alimentares de valor social no registro arqueológico, como determinar se os ingredientes são difíceis de coletar ou demoram para produzir. A cerveja, neste caso, iria preencher a maioria dessas categorias, levando os arqueólogos a concluir que as bebidas nesses recipientes não eram apenas uma parte de uma refeição regular.

Tudo isso indica que a bebida fez parte de uma cerimônia ritual relacionada ao sepultamento dos mortos, pensam os pesquisadores. Alguns dos vasos eram semelhantes em tamanho aos copos de hoje, enquanto sete deles pareciam ser potes Hu de gargalo longo, usados ​​para beber álcool em períodos históricos posteriores.

“Por meio de uma análise de resíduos dos potes de Qiaotou, nossos resultados revelaram que os vasos de cerâmica eram usados ​​para conter cerveja, em seu sentido mais geral”, disse o antropólogo Jiajing Wang, da Faculdade de Dartmouth, em New Hampshire (EUA).

“Esta cerveja antiga, entretanto, não seria como a India pale ale que temos hoje. Em vez disso, era provavelmente uma bebida ligeiramente fermentada e doce, que provavelmente tinha uma cor turva”.

A análise dos vasos analisou amostras de amido, fitólitos (resíduo vegetal preservado) e fungos recuperados do interior dos itens descobertos, que foram comparados com amostras de controle retiradas do solo circundante.

Os traços de grãos de amido, fitólitos, mofo e fermento encontrados nos potes eram todos consistentes com o processo de fermentação da cerveja. Parece que arroz, grãos de lágrima-de-nossa-senhoratubérculos desconhecidos foram usados ​​para preparar a bebida. Cascas de arroz e outras partes da planta podem ter sido adicionadas para auxiliar na fermentação.

Como os restos são de muito tempo – quando o arroz estava apenas começando a ser usado como alimento básico – é difícil para os pesquisadores dizer com certeza como o álcool pode ter sido produzido por essa comunidade ancestral.

“Não sabemos como as pessoas faziam o mofo há 9.000 anos, pois a fermentação pode acontecer naturalmente”, disse Wang. “Se as pessoas tivessem sobras de arroz e os grãos ficassem mofados, elas poderiam ter notado que os grãos se tornaram mais doces e alcoólicos com o tempo”.

“Embora as pessoas possam não conhecer a bioquímica associada aos grãos que mofam, elas provavelmente observaram o processo de fermentação e o testaram por meio de tentativa e erro”.

O bolor atua como agente em ambas as etapas do processo de fabricação da cerveja: sacarificação (transformação do amido em açúcar com enzimas) e fermentação (conversão do açúcar em álcool e outros estados com leveduras).

Os pesquisadores também tentaram encaixar a descoberta desses potes de cerveja no quadro mais amplo da sociedade chinesa da época. Hoje, esta área do sul da China é o coração do arroz do país, mas na época teria sido povoada por caçadores-coletores que dependiam da busca de alimentos.

Comunidades mais avançadas de cultivo de arroz não se formariam por outros milhares de anos, e a equipe por trás deste novo estudo acha que a cerveja pode ter ajudado a construir as bases da cooperação e da sociedade naquela época, assim como pode acontecer hoje.

“As descobertas sugerem que beber cerveja era um elemento essencial em rituais funerários pré-históricos no sul da China, contribuindo para o surgimento de sociedades agrícolas complexas quatro milênios depois”, escreveram os pesquisadores em seu estudo publicado.

O estudo foi publicado na PLOS One.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.