Por Matt Strassler
Bobagem. Besteira. Lixo.
Segundo a reportagem divulgada em janeiro deste ano na phys.org, “os cientistas da Universidade de Towson em Towson, Maryland, identificaram um meio prático, ainda ignorado, de teste para a teoria das cordas com base nos movimentos dos planetas, luas e asteroides, reminiscentes do famoso teste da gravidade de Galileu.”
Parece bom demais para ser verdade, né? E é.
O que os cientistas fizeram (ou pelo menos afirmam ter feito) foi realizar uma técnica para testar o princípio da equivalência, um obstáculo na fundamentação da teoria da gravidade de Einstein, o que implica que todos os objetos, não importa de que material são feitos, e não importa o quão pesados são, serão puxados pela gravidade da mesma forma… com a mesma aceleração. Esse princípio, na teoria de Einstein, está por trás do motivo do porquê todos os objetos na Terra caem com a mesma aceleração (sem a resistência do ar), e do porquê os astronautas flutuam em suas estações espaciais.
Ao olhar para as órbitas precisamente medidas de diferentes objetos no Sistema Solar, que são feitos de materiais diferentes, os autores (James Overduin, Jack Mitcham e Zoey Warecki da pouca conhecida Universidade de Towson) afirmam em seu paper de julho 2013, após terem fornecido novos testes, que o princípio da equivalência se aplica a diferentes materiais. Isso é um trabalho muito bom. O princípio funciona com a precisão alcançada por seus testes – que não são tão precisos como alguns outros tipos de testes, mas exploram alguns domínios que ainda não foram explorados.
Mas o que é que isso tem a ver com a teoria das cordas? Se você ler o paper, você vai notar que a palavra “Teoria das Cordas” aparece em apenas uma frase obscura na introdução, referindo-se a uma forma muito específica de teoria das cordas (com um campo de spin-zero, extremamente leve, chamado dilaton) o que implica que o seu trabalho pode ser relevante para a teoria das cordas se vivêssemos em um pegajoso universo com esse tal campo. Nem mesmo a conclusão, muito menos a maior parte do paper, menciona cordas ou teoria das cordas. Isso porque o paper não tem nada a ver com testes para a teoria das cordas; ele apenas testa a teoria da gravidade de Einstein.
A razão pela qual ele ainda não pode testar a teoria das cordas é:
- A teoria das cordas não faz uma previsão exata de como o princípio da equivalência pode ser modificado, e entre os muitos universos possíveis em que a teoria das cordas pode originar, muitos não têm nenhuma modificação mensurável do princípio da equivalência;
- Mesmo se uma violação do princípio da equivalência tivesse sido detectada ou se for detectada no futuro, não é necessariamente devido à teoria das cordas. Pode ser devido a alguma outra modificação da gravidade de Einstein – de fato, os autores consideram uma eventual modificação em seu paper!
Portanto, temos aqui um paper pouco agradável que testa a teoria da gravidade de Einstein e coloca restrições em várias alternativas a ela – embora nenhuma dessas alternativas seja exclusiva para a teoria das cordas, nem está previsto exclusivamente pela teoria das cordas. Como é que foi possível anunciarem isso como um teste prático para a teoria das cordas?
Você vai ter que perguntar ao autor do artigo phys.org, o que parece ser um comunicado de imprensa da Universidade de Towson. (“Oferecido pela Universidade Towson,” diz a última linha do artigo phys.org). Ou você vai ter que perguntar aos cientistas envolvidos (a menos que um deles seja o autor) – que deve ser bastante humilhante saber que seu trabalho foi anunciado desta forma. Espero que eles não fizeram isso de propósito. Isso sem dúvida foi uma grande publicidade gratuita para a Universidade de Towson; quem se importa se o artigo está certo se as pessoas estão dispostas a lê-lo? Mas a vontade de distorcer os fatos para impressionar e iludir o público não é um atributo digno.