Por Ryan Mandelbaum
Publicado na Gizmodo
Por um longo tempo, os astrônomos têm previsto a existência de até 20.000 buracos negros no centro da nossa galáxia, mas até o momento ninguém tinha sido capaz de detectá-los.
Uma equipe de cientistas liderada pela Universidade de Columbia investigou os dados obtidos pelo Observatório Chandra de raios-X, que orbita a Terra para encontrar esses objetos. Eles conseguiram encontrar uma dúzia de fontes de raios-X que liberavam energia acerca de três anos-luz próximo ao centro da galáxia. Essa é a primeira vez que alguém observa esses buracos negros.
“É a confirmação de várias teorias que previram que esse deveria ser o caso”, disse o autor do estudo, Chuck Hailey, professor de astrofísica da Universidade de Columbia, ao Gizmodo. “Mas é estranho existir muitos buracos negros e ninguém realmente tê-los visto”.
O centro da galáxia tem muitas coisas, incluindo um buraco negro de 4 milhões de vezes o tamanho do Sol, chamado Sagittarius A*, e muitas estrelas. Quem estiver prestando atenção em outros debates físicos, saberá que há lugares no universo que os pesquisadores postulam existir muitos buracos negros menores. Seriam objetos superdensos, dezenas de vezes a massa do Sol, que a gravidade e a luz não poderiam escapar.
A equipe de Hailey utilizou uma ferramenta do Chandra, chamada Espectrômetro Avançado de Imagens CCD I (ACIS-I), que examinou o centro galático por um total de duas semanas nos últimos 12 anos. Há muitas coisas no centro, então eles tinham que encontrar uma maneira de escolher apenas as fontes que estavam buscando. “Todas essas fontes foram catalogadas, mas o catálogo do Chandra só fornece a fonte e o brilho, e não diz o que é”, disse Hailey.
Os cientistas buscavam especificamente por estrelas que estavam sendo absorvidas pelos buracos negros em órbita, fazendo com que os buracos emitissem raios-X. Apesar da região estar incrivelmente lotada, os pesquisadores encontraram uma dúzia desses exemplos ao observar as proporções de raios-X de maior energia e menor energia nos dados. Eles publicaram seus resultados na revista Nature.
Outros pesquisadores com quem falei pensaram que essa era uma observação importante com implicações para as ondas gravitacionais, as ondas do espaço-tempo criadas pelos buracos negros que colidiram entre si e que até alguns anos atrás não haviam sido observadas diretamente. “Isso reforça os argumentos para levar em conta essas populações de buracos negros como fonte potencial de ondas gravitacionais”, disse Irme Bartos, professor assistente da Universidade da Flórida, ao Gizmodo. “Essa é uma confirmação emocionalmente que se encaixa com o resto da imagem tal como a entendemos agora”.
Essa informação também pode ajudar outros astrônomos a prever com que frequência veremos ondas gravitacionais. Se um número par de buracos negros colidissem na Via Láctea, os observatórios de ondas gravitacionais, como o LIGO, receberiam enormes leituras, disse Bartos. “Teríamos problemas com nossos detectores”. Mas se cada galáxia tem buracos negros no centro, talvez os observatórios, como o LIGO, detectem eventos relativamente fortes a cada poucos anos de nossos vizinhos galáticos.
Essa é apenas a primeira evidência. Os cientistas encontraram apenas 12 dessas fontes, mas concluíram que podem existir milhares, com base em uma extrapolação. Hailey também disse que metade desses objetos poderiam ser pulsares de milissegundos, estrelas de nêutrons que emitem um feixe de radiação e que giram uma vez a cada poucos milissegundos. Mas mesmo isso seria importante para os astrônomos, já que os pulsares de milissegundos são possíveis culpados por trás do excesso de raios gama observados pelo Telescópio Espacial Fermi de Raios Gama que orbita a Terra.