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Cogumelos mágicos parecem ter um efeito estranho no daltonismo

Traduzido por Julio Batista
Original de Carly Cassella para o ScienceAlert

Uma nova era de pesquisa clínica sobre cogumelos com psilocibina (também conhecidos como ‘cogumelos mágicos’) encorajou alguns cientistas a compartilhar suas próprias experiências transformadoras com psicodélicos.

Um estudo de caso recente descreve um jovem pesquisador de 35 anos nos Estados Unidos, que afirma distinguir melhor as cores vermelho e verde depois de tomar psicodélicos.

Após a ingestão de cogumelos mágicos, que contêm a substância psicoativa psilocibina, o sujeito diz que seu leve daltonismo melhorou ao longo de uma semana, de acordo com um teste comum auto-administrado.

O estudo de caso foi escrito por seus colegas, uma equipe de neurologistas e psicólogos comportamentais, mas os dados foram coletados por iniciativa do próprio sujeito.

Após auto-administrar um teste de daltonismo, conhecido como Teste de Ishihara, o sujeito ingeriu cinco gramas de cogumelos secos, o que é considerado uma dose relativamente alta de psilocibina. Ele então fez o Teste de Ishihara periodicamente nos quatro meses seguintes.

Este teste é composto por uma série de flashcards (cartões que servem para testar a memória dos pacientes), cada um apresentando um número composto de pontos verdes, embutidos em um fundo de pontos vermelhos ou o arranjo de cores reverso.

O daltonismo geralmente decorre de um defeito genético no cromossomo X e causa uma perda nos pigmentos do olho que distinguem certas cores.

Para alguém com daltonismo vermelho-verde, os pigmentos de opsina são anormais, o que leva o vermelho e o verde a se destacar juntos, obscurecendo os números encontrados no teste de Ishihara.

Antes de comer cogumelos, o sujeito do estudo de caso pontuou 14 no teste de Ishihara, que indica daltonismo vermelho-verde leve. Doze horas após a brisa alucinógena, sua pontuação melhorou apenas um ponto.

No dia seguinte, no entanto, o sujeito pontuou 18, o que está além do limiar da ‘visão normal de cores’. No dia 8, sua pontuação subiu para um pico de 19.

Quatro meses após a dose inicial, sua pontuação caiu ligeiramente, mas ainda estava muito dentro do alcance da visão normal. Dito isso, os autores admitem que o sujeito tomou outros alucinógenos após o dia 16, o que complica os resultados.

A metodologia do estudo de caso dificilmente é muito rigorosa, mas esse não era realmente o ponto. O sujeito notou no passado que suas percepções de vermelho e verde melhoraram meses após o uso de psicodélicos. E, no entanto, como essas substâncias estão listadas como medicamentos da tabela 1 nos EUA, a pesquisa clínica é extremamente limitada.

O sujeito simplesmente queria saber se ele podia “acreditar” em seus olhos. Então ele os colocou à prova.

Em 2020, pesquisadores do Global Drug Survey anunciaram que haviam coletado 47 relatos de daltonismo melhorando após a ingestão de LSD ou psilocibina. Eles sugeriram mais pesquisas sobre o assunto, mas nenhuma surgiu.

O novo estudo de caso chama a atenção para o mistério mais uma vez.

As descobertas sugerem que os cogumelos mágicos podem melhorar a percepção das cores naqueles que são daltônicos. Além do mais, essas melhorias podem durar semanas, senão meses após a ingestão da droga.

Alguns relatórios da pesquisa global afirmam que o efeito pode durar anos.

Uma postagem recente no Reddit compartilha uma ‘cura’ particularmente extrema, embora curta, para o daltonismo. Uma pessoa que só conseguia ver tons acinzentados após uma concussão grave de repente alegou ver cores novamente depois de comer cogumelos.

Quatro dias depois, outro post do Reddit anunciou que a percepção de cor recuperada aparentemente começou a desaparecer.

Sem testes científicos, é impossível dizer quão verdadeiros são esses relatórios.

É justo ser cético sem mais evidências, mas o que se sabe é que a psilocibina pode alterar profundamente a percepção das cores.

A droga parece desencadear atividade nas áreas de processamento visual que ficam muito além dos olhos. Isso significa que os cogumelos mágicos podem enganar a mente para ver cores que os olhos são incapazes de perceber.

Compreender mais sobre a droga pode ajudar os cientistas a encontrar novas maneiras de melhorar a visão em pessoas com distúrbios e doenças oculares.

O estudo foi publicado na revista Drug Science, Policy and Law.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.